Capítulo 4

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Acordei cheia de dores de cabeça. Definitivamente, beber não era apropriado para mim. Me despachei para ir para o trabalho, nunca esquecendo aqueles lábios... Mas tentando tirar da cabeça para não dar em doida.
Sentei-me para comer os meus ovos mexidos quase queimados e sumo de laranja. Até que me lembrei do papel que a pessoa mistério tinha deixado para mim (supostamente). Fui ao quarto buscar e abri na cozinha enquanto acabava de comer.
-O QUE? - dei um grito que de certeza acordou todos os meus vizinhos, enquanto lia a carta. Era uma proposta de emprego. - Meu deus.
Era um trabalho, como fotógrafa, numa revista de topo.
-Finalmente a vida me corre bem. - suspirei enquanto sorria para a carta, sendo o motivo da minha felicidade para o resto da minha vida.
Tinha a reunião marcada para amanha, as 11:00 na empresa da revista, em Londres. Meu deus. Eu ia trabalhar em Londres. Que sonho.

Cheguei ao trabalho com um sorriso na cara que eu nunca na vida iria pensar em ter enquanto estava naquele café.
-Bom dia, já vi que está muito animada. - diz a minha chefa com um tom irónico.
Ainda fiquei a pensar se diria logo que me ia despedir... Mas com calma, prefiro primeiro saber se fico com o lugar, e depois sim, eu digo.
-Bom dia. - sorrindo cada vez mais ao pensar que não iria aturar mais aquele lado irónico dela.

O dia passou a voar, mas aproveitei, por ser o último. Mas senti falta de algo. De Sarah, a aparecer pela porta a pedir o seu café e a minha companhia. Que não aconteceu nem acontecerá mais. "Mas porque eu disse que eu não a queria ver mais?!" pensei eu. Estava completamente arrependida.

Sai do café e fui ao centro comercial comprar roupa apresentável para a minha entrevista. Mas era tudo tão caro. Sentia-me frustrada por ser tão desafortunada. Mas por acaso, naquele dia estava tudo a meu favor. Comprei um vestido bordô, com as costas abertas e justo, assentando todas as minhas curvas. Uns sapatos pretos altos mas confortáveis que me davam elegância nunca antes reparada em mim. E um colar simples nada caro, um fio com brilhantes.
Aproveitei, e jantei lá, não me apetecia cozinhar. Entrei no Mac Donalds, a minha escolha desde sempre para jantares em centros comerciais. Mas quando acabei, senti-me mal. E se amanha ficasse mal no vestido por ter engordado?! Coisas de mulheres...

Cheguei a casa completamente estoirada do meu último dia. Sentia-me realizada. Deitei-me na cama, com o computador a frente e dei a novidade a Wilson, por Facebook
"Wilson? Adivinha quem vai ser a nova fotógrafa da revista mais prestigiada de Londres?!"
Ele respondeu logo, gostava disso nele, era pontual com as minhas coisas. "A tua vizinha?!" fazendo troça de mim.
"Parvo. Sou euu! Eu fui chamada para amanha ir à entrevista. Vou as 11:00. Achas que podes vir?"
"Claro que sim querida, sempre aqui contigo. Parabéns fotógrafa de topo."
"Obrigada, vens me buscar as 10:15? Não quero chegar atrasada. Não quero que fiquem com má impressão de mim logo à entrada"
"Fica descansada fofa, ai estarei"
Estivemos a falar ainda um bom tempo. Ele realmente era o tipo de rapaz que (quando não estava bêbado) era cinco estrelas.
Enquanto falava com ele, fui pesquisar a revista. "The Times". Pelo que li, uma revista bastante desenvolvida, com uma empresa fantástica. E com o meu chefe... Alias, a minha chefa: Samantha Jones. Deus queira que não seja mais uma irónica e trocista.

Estava cansada, amanha ia ser um dia de grande emoções, desliguei o computador, e deitei-me, tentando ver eu, Emma Gracie, a trabalhar para uma revista famosa. Que sonho.
Adormeci com isso na cabeça, mas porra. Como Sarah conseguia ser o meu último pensamento? Daqueles lábios...

Acordei, cedo demais até. O despertador estava ligado para as 09:00, mas com a euforia, eram 08:00 já tinha aberto os olhos. Levantei-me, fui tomar banho, comer e vestir-me. Preparei cada detalhe para que eu fosse o mais elegante possível. O vestido ficava perfeito, com minhas curvas todas bem definidas. Maquilhei-me, nada muito carregado, apenas um rimel, lápis, eyeliner e batom vermelho vivo. Meti tudo na mala que mais combinava com o conjunto, uma preta com detalhes em prata. Meti o meu colar e um anel que minha mãe me tinha dado. Estiquei o cabelo, era assim que gostava de o ter, mas a minha franja não ajudava nada... Estava toda bagunçada, mas a minha prancha salvou o dia. E para último, meti os sapatos. Me senti poderosa naquele momento.
Estava definitivamente despachada. E ainda faltava 20 minutos para ele chegar. Sentei-me no sofá até que ele chegasse.

Entrei no carro dele, e lá fomos, super animados, a cantar todas as musicas que apareciam no rádio. Parecia um carro de malucos. Musica alta e nos a dançar e cantar a viagem toda. Mas claro, ele sempre com atenção na estrada. Estava feliz por mim, e isso deixava-me a mim ainda melhor.

Chegamos à empresa, era um predio gigante, lindo. As janelas eram todas de vidro e a entrada dizia "The Times" em letras horrivelmente grandes.
Cheguei mesmo a horas. Entrei no predio, e fui à recepção, e estava uma mulher, ruiva e bastante simpática, de primeira vista.
-Bom dia, estou aqui para uma entrevista de emprego.
-Seja bem vida à empresa. Diga-me o seu nome por favor.
-Emma. Emma Gracie.
-Estão à sua espera. Suba até ao 16 andar. Eu acompanho-a.
Fui atrás da senhora simpática e Wilson também, ao entrar no elevador disse:
-Peço desculpa senhor, mas não poderá entrar, pode ficar aqui. - e apontou até a um sofá branco.
Eu levantei os ombros e me despedi dele com um beijo na cara.
-Boa sorte fofa.
Eu apenas sorri e entrei no elevador com a senhora.
-Antes de mais, o meu nome é Roseli. Estarei à sua disposição sempre que tiver alguma duvida. Vai ser complicado no inicio, mas vai ver que não vai querer sair daqui nunca mais. - disse, deixando-me com esperanças cada vez maiores de ser aceite.
-Muito obrigada, só espero me adaptar.
-Verá que sim. - dando um sorriso simpático e a porta do elevador abriu.
Ela foi a minha frente, num tom superior (que era normal) e esperou por mim ao pé de uma porta.
-Está pronta Emma?
-Sempre pronta. - mentindo para ela e para mim própria.
E ela, com um gesto suave mas seguro, abriu a porta e disse para eu entrar.

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