Capítulo 5

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-O que ela tem?!
-Como você sabe, ela levou uma pancada bastante violenta numa zona frágil da cabeça. Por sorte não aconteceu nada de grave, mas podia ter acontecido uma perca de sentidos ou algo do género. Mas não, apenas acordará com dores de cabeça, e agradecia que não deixasse ela falar muito, por favor.
Estava a ouvir toda aquela conversa, até que, por fim arranjei forças para abrir os olhos, e vi Sebastian com um medico.
-Emma! - falou Sebastian num tom mais aliviado - espero que estejas melhor!
-Onde estou?
-Estas num hospital, o melhor de Londres. E ficas aqui até ficares bem. - sentou-se na cama onde eu estava. - E não te preocupes com o trabalho, está tudo resolvido. - Agarrou minha mão que estava com o soro e começou a acaricia-la.
-Espero não ter perdido o emprego por ter estado a ouvir atrás da porta... - senti um arrependimento passar-me pelo corpo.
-Claro que não, acho que já aprendes-te a sua lição. - sorriu como se olhasse para a coisa mais bela do mundo (uma miúda numa cama de hospital agarrada a fios e mais fios e com uma bata com as costas abertas. Realmente, a coisa mais bela de se ver é isto).

Ficámos a falar, durante não muito mais tempo, acho que o deixei a falar sozinho, adormeci com tanto cansaço e dores de cabeça.

No dia seguinte, Sebastian estava lá de novo, se preocupava tanto, aquilo mexia comigo. Era tão querido e nem me conhecia bem...
-Emma?!
-Diga Sebastian.
-Duas coisas: a primeira, eu acho que já passamos a fase de nos tratarmos por "você" - e ai eu assenti e dei um leve sorriso - e segundo, hoje terás alta, e sem problemas. Amanhã começas a trabalhar, calmamente, claro!
-Olha? Obrigada por tudo... - sentia-me super feliz por finalmente sair daquela cama desconfortável.
-Vá, está na hora de te vestires, e se não te importas, eu comprei roupa, do teu número e espero que gostes. - falou num ar meio cúmplice, mas o gesto dele me aqueceu a alma. - E não tens de quê. Agora veste-te e depois me chama para te ajudar a sair.

Entramos no carro,  Sebastion e eu nos sentamos no banco de trás, ele não foi lá a frente para no caso de precisar de algo ele estar logo lá (que fofo). E estava um senhor a conduzir, que a cara me era completamente desconhecida. Mas também não importava.

Me deixou em casa, pelo que fiquei eternamente agradecida por tudo que ele fez, pelas roupas, pela preocupação, pelo mimo,... E pela presença!
Logo que entrei em casa fui comer, o medico obrigou-me para que o fizesse.
Estava sentada, na bancada da cozinha a comer uma salada feita muito à pressa, até que reparo numa caixa na sala, na mesa ao pé da televisão. "Aquilo não estava ali" pensei eu, não estaria maluca ao ponto de deixar uma caixa de cartão no centro da sala.
Aproximei-me, lentamente, como se aquilo me atacasse a qualquer momento, e reparei num envelope em cima da caixa.
"Querida Emma
Peço muitas desculpas pelo que aconteceu, espero que não se volte a repetir, e que sirva como aprendizagem para não se ouvir atrás das portas. Espero que estejas melhor, e está aqui um mimo para te adoçar.
           Beijos."
Não tinham assinado... A raiva pairou em mim! Mas porque não assinou? A tinta acabou?! E era escrito a computador, pelo que não conseguia saber quem era pela letra. Era capaz de bater com a cabeça na parede de novo.
Não consegui comer mais nada... E fui tomar banho. Quando cheguei a sala para relaxar e ver televisão, é que reparo: com a raiva toda, nem abri a caixa... "Estúpida".
Corei. Eram chocolates Milka, em forma de coração... Era a coisa mais fofinha, mas era ainda mais se soubesse quem me os teria dado. Comi um, era tão bom... Quem me deu tinha bom gosto.
Fiquei o resto do tempo a pensar quem me teria dado... Talvez Sebastian, como forma de mimo, cada vez mais acho que seria capaz... Também pensei em Samantha, minha patroa. Mas não. Não fazia sentido, uma patroa me mandar chocolates em forma de coração, não me parece... E mais uma vez o nome proibido me veiu a cabeça: Sarah! Será que foi ela?! Não, como ela saberia do que tinha acontecido? É impossível. Tenho de me mentalizar que nunca mais terei aqueles lábios macios e perfeitos junto dos meus. E aquela língua invadindo a minha de forma faminta. Ai... A minha depressão-longe-de-Sarah teria começado de novo...

Adormeci com lágrimas nos olhos, por mais uma vez o arrependimento ficar na minha mente... O arrependimento de não ter fudido com ela naquele dia. O arrependimento de nunca mais ver ela. Deus queira que ela apareça de novo, sem motivo, sem data, sem nada combinado... Apenas que apareça.

Almas NegrasOnde histórias criam vida. Descubra agora