Tráfego de corredor (resulta em complicações)

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A autoestima pode ser tão exaustiva. Tenho vontade de cortar o cabelo, mudar de roupa, apagar a espinha quase na ponta do meu nariz e melhorar a definição dos músculos do meu braço, tudo na próxima hora. Mas não posso fazer isso, porque (a) é impossível, e (b), se eu fizer qualquer uma dessas mudanças, Newt vai perceber que mudei, e não quero que ele saiba o quanto estou a fim dele.

Espero que Sr. B possa me salvar. Rezo para que sua aula de física de hoje me hipnotize de tal maneira que eu acabe esquecendo o que me espera no final. Mas, enquanto o Sr. B pula pela sala com entusiasmo antigravitacional, não consigo me juntar ao circo dele. Dois sessenta e quatro se tornou meu novo mantra. Repasso o número mentalmente, torcendo para que me revele alguma coisa (além de ser um número de armário). Repasso minha conversa com Newt e tento transcrevê-la na minha memória, pois não ouso escrevê-la no caderno.

A hora passa. Assim que o sinal toca, pulo da cadeira. Não sei onde fica o armário 264, mas não tenho a menor dúvida de que vou encontrar.

Mergulho no corredor congestionado e desvio dos reencontros com tapinhas nas costas e movimentos em direção a armários. Vejo o armário 435; estou no corredor completamente errado.

- Thomas! - grita uma voz.

Não há Thomas's suficientes na minha escola para que eu possa supor que o grito é chamando outra pessoa. Com relutância, eu me viro e vejo Sonya Ling prestes a puxar minha manga.

Já sei o que ela quer. Sonya Ling nem fala comigo se não for para pedir que eu entre em algum comitê. Ela é a chefe do comitê da escola para escolher comitês, sem dúvida por ser tão boa nisso.

- O que você quer de mim agora, Sonya? - pergunto. (Ela está acostumada com isso.)

- O baile Aristocrático - diz ela. - Quero que você planeje todinho.

Fico mais do que um pouco surpreso. O baile Aristocrático é muito importante na nossa escola, e planejá-lo significaria ficar no comando de toda a decoração e toda a música.

- Pensei que Dave Davison fosse fazer isso - digo.

Sonya suspira.

- Ele ia. Mas me veio com um papo todo gótico.

- Legal.

- Não é legal. Temos que dar liberdade para as pessoas vestirem qualquer coisa que não seja preto. E aí, você está dentro ou não?

- Posso pensar um tempo?

- 16 segundos.

Eu conto até 17 e digo:

- Estou dentro.

Sonya assente, fala alguma coisa sobre colocar o orçamento no meu armário amanhã de manhã e sai andando.

Sei que vai ser um orçamento um tanto elaborado. O baile foi criado trinta e tantos anos atrás, depois que uma viúva aristocrata local deixou uma cláusula no testamento de que a escola faria todo ano um baile elegante em sua homenagem. (Ao que parece, era uma tremenda dançarina na sua época.) A única coisa que temos que fazer é colocar o retrato dela em posição proeminente e (é aí que fica meio esquisito) fazer com que ao menos um garoto do último ano dance com ele.

No começo, fico distraído por ideias de temas. Mas lembro o motivo da minha existência pós-aula e continuo na direção do armário 264.. até que sou parado por minha professora de inglês, que quer me elogiar por minha leitura de Oscar Wilde na aula do dia anterior. Não tenho como dispensá-la, e também não posso dispensar Infinite Darlene quando me pergunta como foi o papel duplo na apresentação de Orgulho da Volta às Aulas.

boy meets boy (newtmas PT-BR)Onde histórias criam vida. Descubra agora