Conhecendo os pais

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eiiiii, comentem o que tão achando!!! se devo continuar ou não etc etc comentários me deixam bem felizinha

Nosso plano para o sábado é não ter planos para o sábado. Isso me deixa um pouco incomodado, pois sou bastante fã de planos. Mas, por Newt, estou disposto a experimentar um dia de passeio não planejado.

Ele vai passar na minha casa ao meio-dia. Não tenho problema nenhum com isso até me dar conta que ele quer dizer que vai conhecer minha família.

Não me entenda mal, eu gosto da minha família. Enquanto os pais de muitos dos meus amigos estão discutindo, se divorciando e compartilhando a guarda dos filhos, meus pais estão planejando férias em família e arrumando a mesa para jantares. Eles costumam ser ótimos na hora de conhecer meus namorados, embora eu ache que sempre ficam um pouco confusos quanto a quem é meu namorado e quem é apensar um amigo que por acaso é menino. (Eles demoraram dois meses para entender que Minho e eu estávamos juntos.)

Não, meu medo não é que meus pais empurrem Newt porta afora com uma picana de aguilhar gado. Na verdade, tenho medo de eles serem simpáticos demais e entregarem muito de mim antes de eu ter a chance de revelar. Como precaução, tranco todos os álbuns de família em uma gaveta e decido dizer que Newt é um ''novo amigo'' sem especificar mais nada. Jay, que como qualquer irmão mais velho, adora me ver pouco à vontade, é o grande coringa. Ele vai estar no treino de tênis, mas não dá para saber quando deve voltar para casa.

Arrumo meu quarto detalhadamente, depois bagunço um pouco para não parecer arrumado. Tenho medo de não ser esquisito o bastante. Na verdade, é o museu da minha vida toda, desde os Snoopys com guarda-roupas à bola de espelhos que meus pais compraram quando me formei no quinto ano e os livros de Wilde ainda abertos no chão do trabalho de inglês da semana passada.

Esta é minha vida, penso. Sou uma acumulação de objetos.

A campainha toca precisamente ao meio-dia, coo se estivesse ligada a um relógio de piso.

Newt é pontualíssimo. E trouxe flores para mim.

Tenho vontade de chorar. Sou tão bobo, mas agora estou tão feliz. São jacintos e jacarandás e uma dezena de outras flores que não consigo nem nomear. Um alfabeto de flores. Ele as está dando para mim, sorrindo e dizendo oi, esticando os braços e colocando-as na minha mão. A camisa dele brilha um pouco na luz do sol, e o cabelo está bagunçado, como sempre. Ele hesita um pouco no degrau de entrada, esperando para ser convidado.

Eu me inclino para a frente e o beijo. As flores são esmagadas entre nossas camisas. Toco nos lábios, inspiro seu hálito. Fecho os olhos, abro os olhos. Ele está surpreso, consigo perceber. Também estou surpreso. Newt retribui meu beijo com um beijo que parece um sorriso.

É muito gostoso.

Na verdade, é maravilhoso.

- Oi - digo.

- Oi- responde Newt.

Ouço passos descendo a escada. Meus pais.

- Entre - convido.

Eu seguro as flores em uma das mãos e coloco a outra atrás do corpo. Newt a segura a passar pela porta.

- Oi - dizem meus pais ao mesmo tempo ao chegarem no pé da escada.

Com um olhar, eles veem as flores e eu e Newt de mãos dadas. Conseguem perceber imediatamente que Newt é mais que apenas um novo amigo.

Eu não me importo.

Minha mãe olha instintivamente para os dentes de Newt quando ele diz:

- É um prazer conhecer vocês.

Não posso culpá-la; ele é dentista e não consegue evitar. A maior briga que tivemos foi quando me recusei a botar aparelho. Nem abri a boca para a ortodontista ver meus dentes. Ele ameaçou colocar aparelho com a minha boca fechada, e no que me diz respeito, isso foi tudo. Não aceito a ser forçado a nada, e tenho dentes tortos para provar. Minha mãe fica sempre envergonhada disso, embora seja legal o bastante para não tocar mais no assunto.

Como sou filha da minha mãe, reparo imediatamente que os dentes de baixo de Newt são um pouco trepados. Como não sou totalmente filho da minha mãe, acho esse defeito bonitinho.

- É um prazer conhecer você - diz meu pai ao Newt, esticando a mão para apertar a dele.

Newt e eu soltamos as mãos para ele poder causar uma boa impressão. Na minha opinião, meu pai tem um aperto de mão perfeito, nem mole e nem apertado demais. O aperto de mão é o grande nivelador dele; quando ele recolhe a mão, você sente que está no nível dele. Meu pai desenvolveu essa arte durante anos como diretor de filantropia da Puffy Soft, uma cadeia nacional de artigos de higiene pessoal. Seu trabalho é pegar uma parte do lucro da venda de papel higiênico e dar o dinheiro para programas escolares sem recursos. Ele é um exemplo ambulante de por que nosso país é um lugar tão estranho e inacreditável.

Newt está olhando nossa sala de estar, e vejo tudo pelos olhos dele. Percebo como a estampa do papel de parede é estranha e como todas as almofadas do sofá estão empilhadas no chão, tirando o fato de que alguém (provavelmente meu pai) acabou de dar uma deitadinha.

- Vocês querem panqueca? - pergunta minha mãe.

- Minha família acredita que o café da manhã pode ser servido em qualquer refeição - explico para Newt.

- Eu topo - responde ele. - Isto é, se você quiser.

- Topa? - pergunto.

- Se você quiser.

- Tem certeza?

- Você tem?

- Vou fazer as panquecas - interrompe minha mãe. - Vocês tem uns dez minutos para decidir se vão querer comer.

Ela vai para a cozinha. Meu pai aponta para as flores.

- É melhor botar na água - diz ele. - São lindas.

Newt fica vermelho. Eu fico vermelho. Mas não me mexo. Não sei se Newt já está pronto para ficar sozinho com meu pai. Por outro lado, se eu ficar, vou ofender os dois. Portanto, vou até o vaso mais próximo.

Só quando acabou, só quando tenho uma pausa sensorial, a enormidade do que aconteceu desaba em mim. Dois minutos atrás, eu estava beijando Newt e ele estava me beijando também. Agora, ele está na sala com meu pai. O garoto que acabei de beijar está conversando com meu pai. O garoto que eu quero beijar de novo está esperando que minha mãe sirva panquecas.

Tenho que lidar contra a vontade de surtar.

Encontro uma garrafa térmica velha de Dallas e coloco as flores lá dentro. A cor delas complementa a dos olhos de Charlene Tilton lindamente. A garrafa térmica é uma relíqua dos primeiros anos do namoro eterno dos meus pais.

Agora que as flores estão no lugar, eu me sinto um pouco melhor. E, então, ouço a voz do meu pai na outra sala.

- Olhe como as coxas dele estão grandes aqui!

Ah, não. O templo de fotos. Como posso ter esquecido?

E, realmente, quando entro, encontro Newt enquadrado por molduras, a história da minha transformação de rechonchudo a desajeitado a sem jeito a magricela a sem jeito de novo, tudo no espaço de 15 anos.

boy meets boy (newtmas PT-BR)Onde histórias criam vida. Descubra agora