Encontrando línguas perdidas

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- Talvez ele estivesse cumprimentando alguém - digo.

Duas horas se passaram, e estou conversando com Minho, contando o drama para a única pessoa que não estava lá.

- E o sorriso.. bem, talvez fosse só gases - acrescento.

Minho concordava de forma evasiva.

- Não sei por que Aris começaria a falar comigo de novo. Não fiz nada de diferente. E ele não é o tipo de cara que muda de ideia sobre esse tipo de coisa.

Minho meio que dá de ombros.

- Eu queria poder ligar pro Newt, mas não sinto intimidade o bastante pra isso. Será que ele ia saber quem eu sou se eu ligasse? Será que ia reconhecer meu nome ou minha voz? Dá pra esperar até, né? Não quero parecer neurótico demais.

Minho concorda de novo.

- E Teresa? O que ela estava pensando, se pegando com Winston no meio do corredor daquele jeito? Será que digo pra ela ou fingo que não sei e conto secretamente o número de vezes que ela fala comigo antes de me contar, me ressentindo de cada minuto que passa sem ela me falar a verdade?

Minho meio que dá de ombros de novo.

- Sinta-se a vontade pra palpitar a qualquer momento - fala pra ele.

- Não tenho muito a dizer - responde ele, dando de ombros levemente de novo, desta vez pedindo desculpas.

Estamos em minha casa, fazendo o dever de casa um do outro. Tentamos fazer isso o mais frequentemente que conseguimos. Da mesma forma que é mais legal arrumar o quarto de outra pessoa do que o seu, fazer o dever do outro é uma forma de fazer com que acabe mais rápido. No começo da nossa amizade, Minho e eu descobrimos que tínhamos caligrafias parecidas. O resto veio naturalmente. Claro, estudamos em escolas diferentes e temos trabalhos diferentes de casa diferentes. Esse é o desafio. E o desafio é o que importa.

- Sobre que livro é este trabalho, afinal? - pergunto a ele.

- Ratos e homens.

- Você quer dizer ''George, por favor, posso fazer carinho nesses coelhinhos''/

- É.

- Legal, já li esse.

Começo a escrever uma frase inicial enquanto Minho folheava um dicionário francês-inglês para terminar meu dever de francês. Ele faz espanhol.

- Você não parece muito surpreso com a Teresa - digo.

- Percebi que ia acontecer - responde ele, sem tirar os olhos do dicionário.

- Sério? Você imagina Gally e eu dando de cara com ela no corredor?

- Bem, não essa parte.

- Mas Winston?

- Bem, também não essa parte. Mas pense só. Teresa gosta de ter namorado. E, se não é Gally, vai ser outra pessoa. Se esse tal de Winston gosta dela, há boas chances de ela gostar dele também.

- E você aprova isso?

Desta vez, ele olha diretamente para mim.

- Quem sou eu pra aprovar ou reprovar? Se ela está feliz, bom pra ela.

Há um tom infeliz na voz de Minho, e não preciso pensar muito para saber o motivo. Minho nunca teve namorado. Nunca se apaixonou. Não sei exatamente por quê. Ele é bonito, inteligente e divertido, um pouco melancólico... só qualidades atraentes. Mas ainda não encontrou o que procura. Na maior parte das vezes, ele congela. Tem uma paixonite silenciosa, ou até sai com alguém que tem potencial para namorado, e então, antes mesmo de começar, acaba.

boy meets boy (newtmas PT-BR)Onde histórias criam vida. Descubra agora