Capítulo I

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Repeti a conversa na minha cabeça várias vezes. Claro que não vai correr como espero, nunca corre. Decidi então deixar fluir as palavras na altura. Esperei que o jantar acabasse e que toda a gente saísse da mesa para ir ter com o Adam á cozinha.

-Podemos falar? - Era suposto a minha voz soar determinada, mas tudo o que consegui reproduzir foi um fio de voz. Estava nervosa e nem sabia porquê, algo nisto não me soava bem.

- Claro. - Ficou a olhar para mim com um olhar carregado, nada caraterístico dele.

-Fala-me sobre os sonhos, o sítio onde me viste, como me viste, como é que acabo cheia de coisas ao meu lado pela manhã, como é que isto acontece...

Acho que o intimidei, acabei de limitar as minhas respostas.

-Tu não te queres meter nisto, por favor não toques no assunto. O que precisares de saber, saberás, mas não por mim.

Talvez fosse algo mais grave do que pensara anteriormente. Talvez os próprios sonhos me expliquem por eles. Começo a formar teorias... Mas nenhuma delas me faz sentido.

Sentei-me na cama e olhei para a minha secretária, para o espelho que ao lado, e observei-me. Os meus cabelos castanhos caiam-me em cascata pelas costas, ondulando em certas partes. Os meus olhos azuis que herdara da minha mãe, e que o meu irmão tanto invejava. A minha pele pálida. Era uma rapariga totalmente normal, o que contrastava com o que se tem estado a passar.

Dirigi o olhar para a minha cama. Pensei em verificar a cama antes de me deitar, estava perfeitamente feita, limpa, nenhum vestígio da noite anterior ou de outras. Não sei bem  porque o fiz mas acho que de alguma forma me reconfortou, e deu-me a esperança que esta noite fosse diferente, o sonho, se o tivesse, ia ser diferente e sentia-o.

Comecei a ler, tentei-me distrair. Tentei. Tinha de recomeçar a ler páginas do início, já não entendia o que estava escrito... Decidi ouvir música e cedo me senti adormecer.

Olhei em volta.
A rua estava escura e tenho a certeza que estava sozinho.
Pouco passava das 3 da manhã, a noite estava calma mas algo de sinistro pairava. Nunca estive neste sítio, mas conhecia todos os caminhos como se aqui vivesse desde sempre.
Cheguei a  um parque, na altura estava deserto, o vento se ouvia, rugindo ás árvores, assustando as folhas.
Este ambiente faz-me sentir melancólico, e traz-me más recordações, apesar de não ter nenhuma realmente sólida.
Senti alguém a agarrar-me, virei-me assustado, a pensar no pior. Sempre tive muito receio de situações destas.
Era outro rapaz, por volta da minha idade, talvez um pouco mais velho. Parecia estar a pairar no ar, pela maneira como andava.
-Tu és um deles.
-O quê?
Olhei-o nos olhos, neles conseguia ver negro, completo negro.
-Tu és um deles. - Disse avançando na minha direção, intimidando-me com um olhar inexpressivo mas ameaçador o suficiente para me cortar a respiração por segundos.
-Mas... Quem?
-Eles. - Esta voz era mais malvada, quase amarga aos ouvidos de quem a ouve.
-Eles quem?
Não obtive qualquer resposta plausível, ouvi apenas um grunhido, e depois de sons horríveis, o rapaz transformou-se num corvo, quase como eu troco de roupa, e começou a perseguir-me pelo campo abandonado que se estendia para além do parque. Corri, o máximo que pude, mas quanto mais me esforçava, mas terreno ele ganhava, corri até não aguentar mais, até me sentir fraco. Quando...
Acordei.
A El estava do outro lado da porta a gritar para que me levanta-se, aparentemente estavamos atrasados.
Estava cheio de frio, o frio que senti naquele parque enquanto aquele olhar me "perfurava" a alma.
Ao meu lado estavam folhas.

Acordei sobressaltada, e saltei da cama o mais rápido que pude, tentando não gritar.
Eu tinha estado num sonho do Adam. Eu vi tudo o que se passara. Será que ele também o tivera? Estou a pensar seriamente em arrombar a porta do quarto dele, preciso de lhe perguntar o que se passa. Isto era demais.

-El.

Fiquei a processar a voz enquanto me virava. O Adam estava sentado na minha secretária, olhando atentamente para mim.

-Que foi isto? - Esforcei-me para não elevar muito voz, agora a minha suspeita de que ele estava por detrás disto estava confirmada.

- Então sempre viste.
-O teu sonho?
-Sim. Afinal sempre és como eu, queria ver pelos meus olhos.
-O que ele quis dizer com "Tu és um deles"? - Olhei para ele na expetativa.
-Vais descobrir por ti. Ou talvez te "diga".

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