Capítulo IV

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Já era tarde, por volta das 4 da manhã, neste mundo pelo menos... Quero voltar para casa o mais rápido possível mas, a não ser que dê para sonhar que estou na minha realidade, não encontro qualquer maneira.

Acho que é a isto que se chama "estar em coma". Pergunto-me se os meus pais ou os da Abi já deram conta de que algo está errado...

Como não consegui adormecer, levantei-me e dirigi-me a uma porta de vidro que existe na sala. Apartir daqui consegue-se ver as árvores que em tão pouco tempo, ficaram cobertas de neve, era lindo. Estando eu habituada a sítios solarengos, era mágico para mim debater-me com algo assim.

- Não consegues dormir? - Pulei. Atrás de mim estava Dante, que apesar do seu ar sonolento, estava bastante ativo, andando vivamente até mim, com duas chávenas de chocolate quente. Sorri-lhe, e acenti com a cabeça - Nem eu, estou exausto... Mas o sono zangou-se comigo e foi embora, espero que façamos as pazes rápido, tenho saudades da minha cama...

Ri-me baixinho. Apesar de estar aqui presa, talvez não fosse assim tão mau.

- Diz-me... Mais cedo... Ah... Bem... Vocês perguntaram-me se estava "preso" aqui... Como assim?

Hesitei. Se eu lhe contasse de algo assim ainda me considerava louca ou algo do género. Mas pior do que estamos não ia ficar certo? Não tenho nada a perder.

- É melhor sentares-te... - Olho em redor, á procura de algum sítio onde pudessemos falar.

Ele deu-me a mão firmemente, e empurrou para dentro parte da parede ao lado da lareira, nesse momento, a parede dividiu-se em duas, que se separaram e abriram caminho para uma pequena sala, muito mais pequena que a sala original, mas muito mais acolhedora. A alcatifa era de um vermelho escalarte, e as paredes eram preenchidas por várias estantes com cd's e livros, e entre elas, estavam vários posters emoldurados, com autógrafos das respetivas bandas.

-É o meu pequeno cantinho, gosto de ter privacidade de vez em quando - Sorriu. Vendo-me observar os posters afirmou - E gosto de Heavy-Metal também.

Soltou uma gargalhada, era um som bom de se ouvir.

-Mas... - Começou. - Vamos não fugir ao tema, sim? Fiquei curioso, diz-me.

Acenti e sentei-me numa das poltronas ao lado de uma pequena janela, de onde se via a lua cheia. Ele sentou-se na outra, mesmo na minha frente.

- Acontece que tudo isto... É um sonho, bem pelo menos para nós, continuo a não entender, mas começaram a acontecer coisas estranhas que envolviam isto, e hoje fui dormir, e este é o meu sonho... Sem querer saímos da nossa "área permitida" nem sabia que isso existia, e viemos ter a um ambiente totalmente diferente, e depois vimos árvores, e depois os lobos, e o resto já sabes... Desculpa se está tudo confuso mas é tarde e eu própria não entendo...

Quase que consegui ouvir o "cri cri" de grilos naquela sala, ele olhava-me atentamente.

Levantei-me.

- Eu sabi que isto e--

-Não, eu acredito. Não és a primeira pessoa a dizer isso, e por tantas que apareceram, começo a pensar que seja verdade.

Então não eramos os únicos... Outros estiveram nesta posição, talvez se encontrarmos alguém que tenha passado pelo mes--...

Um grito. Um grito alto, estridente, que nos fez saltar. Corri até á sala, a Abi estava nos braços do Adam, tremendo.

Os pais de Adam correram pelas escadas a baixo, perguntando o que se passava.

A mãe dele, Clara, uma mulher loira e baixinha de feições robustas, olhos de um azul vivo, segurava na mão um revólver. Enquanto que o pai, Eric, muito parecido com Adam, mas mais alto e musculado, segurava uma espingarda. Pelos vistos era comum existirem problemas por ali.

-E-eu levantei-me para be-ber água, e-e... - Abi apontou para a cozinha ainda a choramingar nos braços do meu irmão.

No chão da cozinha estava um lobo, igual ao que antes me ia matando, mas um pouco mais pequeno. Nele estava espetada uma faca e em seu redor estava sangue fresco, ainda a espalhar-se pelo mosaico. Tinha acabado de ser morto. Havia o trilho de sangue até à porta que dava para as traseiras. Esta estava aberta e com sangue na maçaneta, o rasto de sangue, acabava por se perder na neve. Quem quer que tenha feito isto tinha acabado de sair...

Na janela de vidro estava escrito em sangue. Numa caligrafia muito bem delineada, quase perfeita de mais para ser real.

Nunca vão sair daqui.
Vivos.

Paralisei, estava claro que era para nós a mensagem. Mas... Quem a tinha escrito? E como entraram?

É óbvio que alguém não nos quer aqui, e para envolver um animal morto, deve ter uma grande razão para tal...

Mas qual era o motivo?

Dream Catcher - Realidade AlternativaOnde histórias criam vida. Descubra agora