A Garota Dos Meus Sonhos

I

Sabe quando você tem o mesmo sonho muitas vezes? Quando você sabe que já sonhou com alguma coisa, exatamente como em algum outro dia qualquer? Ou quando você sonha a mesma coisa por dias seguidos?
Havia um tempo, Katelyn estava tendo o mesmo sonho todos os dias, exatamente igual.

Em algum canto da cidade, onde ela nunca esteve e não consegue identificar, ela entra em um café e uma pessoa se aproxima, ela não consegue ver nitidamente se é homem ou mulher, mas julga ser uma mulher pelo simples fato de que ao se abaixar para beijar a sua mão, a tal pessoa deixa cair uns fios de cabelo do lado do rosto e ao julgar que o sorriso, a única coisa que ela consegue ver, seja de uma boca feminina. A menina então diz alguma coisa que ela não consegue ouvir e se afasta, ela tenta ir atrás, mas quando chega na porta do estabelecimento, a menina, que ela acha que é uma menina, some, ela volta então pra mesa em que estava e pega o copo pra ler o nome do lugar, mas quando ela encosta no copo, acorda.

Era assim, exatamente assim, todos os dias, o mesmo sonho, a mesma pessoa, o mesmo lugar, a mesma mesa, ela chegou a acreditar que sonhava com alguma vida passada, como se isso fosse possível.

- Você acredita mesmo nisso?
- É uma possibilidade, não vejo outra alternativa.
- Que tal um déjà vu?
- Não, o déjà vu consiste em você sonhar com algo que já viveu, exatamente.
- Ou viver algo que você tenha sonhado.
- Não, acho que não e eu tenho certeza que não conheço aquele lugar, nem ninguém que aparece lá.
- Mas você disse que não enxerga ninguém, como sabe?
- Eu não sei, só que de uma coisa eu tenho certeza, eu nunca estive lá.
- Então eu sugiro que você procure ajuda profissional. Ou você vai ficar louca.
- Eu só acho estranho o fato de sonhar todos os dias o mesmo sonho.
- Vai que você ta vendo o futuro.
- Giovanna, a gente não pode ver o futuro.
- Mas vai que você foi escolhida por algum motivo especial e ta vendo alguma parte do que vai acontecer com você?
- Se por um acaso, isso acontecesse, o que eu não acredito, eu veria nitidamente o meu futuro, não um borrão indecifrável.
- Então eu não sei mais como te ajudar amiga desculpa. Deixa eu correr ou perco minha próxima aula.

***

Giovanna era a melhor amiga de Katelyn, as duas se conheceram na faculdade de letras ha um ano. Katelyn contava tudo pra ela, pelo fato de morar sozinha e não ter companhia a maior parte do tempo, fez de sua companheira de sala, sua confidente.
Katelyn havia perdido a mãe ha cerca de quatro anos e quando decidiu se inscrever pra faculdade escolheu uma que ficava bem distante de sua cidade natal, ela é de uma cidade chamada Gênova e foi estudar na universidade mais conhecida da cidade de Florença, o pai dela não se importou com isso, pois eles haviam se afastado bastante desde que a mãe de Katelyn faleceu, o que ajudou no processo da escolha da faculdade e em se adaptar no novo apartamento, que agora era só dela, seu pai pagava todas as despesas da filha, ela acreditava que era uma forma de se redimir que ele tinha pelo fato de ter se afastado tanto nos últimos anos.

Katelyn pouco falava dos pais, não gostava de lembrar que a família não existia mais de alguma forma, por isso ela se dedicava ao máximo nos estudos pra compensar essa falta. Ela saía pouco, preferia ficar em casa assistindo algum filme ou qualquer programa que estivesse passando a ter que sair com os amigos da faculdade. Ela só havia namorado uma única vez, um rapaz que morava perto da sua casa em Gênova, o namoro durou cerca de um ano e meio, acabou quando ela se isolou de todo mundo após a morte da mãe.

- O que você vai faz depois da aula?
- Não sei, não tenho planos.
- Eu vou com o Pablo em um pub mais tarde. Por que você não vem com a gente? Podemos chamar o Afonso e fazer um programa de casal, o que você acha?
- Acho que vou fazer pipoca e assistir um filme.
- Ah qual é, você tem que sair mais, se divertir um pouco, namorar, quanto tempo tem que você não beija na boca?
- Para, isso não importa.
- Claro que importa, beijar na boca faz bem pra saúde.
- Eu não quero beijar na boca.
- Também não quer entrar na academia, não quer correr, não quer sair. Sabe o que vai acontecer com você se continuar desse jeito?
- Não, estou super curiosa pra saber.
- Você vai acabar como aquelas velhas cheias de gatos dentro de casa, gorda, infeliz, sem amigos ou família e se lamentando por não ter aproveitado enquanto pôde.
- Nossa, você não é nem um pouco dramática em.
- É meu trabalho te convencer a qualquer custo, a se divertir um pouco, mesmo que seja só um pouco.
- Ta certo, eu vou então.
- Sério? Tipo, eu consegui mesmo?
- Eu to precisando esvaziar a minha mente um pouco, não que seu argumento sobre velhas gordas e cheias de gatos não seja bom, mas é mais por mim mesmo.
- Ta valendo, qualquer coisa pra te tirar da toca ursinha.