A Garota Dos Meus Sonhos

VII

- Achei que a gente ia conhecer sua namorada hoje.
- Por que você achou isso?
- Por que você me disse que ela mora aqui na cidade não é? Achei q você a convidaria pra vir.
- Eu a encontrei no mercado quando fui com o Miguel, ele a convidou, mas ela disse que não estava no clima pra festas hoje.
- Você confia nela?
- Por que essa pergunta?
- Sei lá, ela pode ter dito que não tava no clima e ter ido pra outro lugar.
- Ela não é desse tipo, ela é meio como você sabe? Gosta de ficar na dela, sai bem pouco, curte ficar em casa assistindo filme em vez de sair com os amigos, ela é bem tranquila.
- Que bom, fico feliz em ouvir isso, assim sei que ela é um bom partido pra você.
- E desde quando você se preocupa com isso?
- Sempre me preocupei, alguém tem que cuidar de você né batedor?
- Queria que você cuidasse de outro jeito.
- Não começa Júlio, você é o meu melhor amigo, infelizmente eu não posso te dar mais do que a minha amizade, já te falei isso milhões de vezes.
- Eu sei, me desculpa, é que as vezes eu ainda penso em você sabe?
- Por que? Eu nem sou tão legal com você assim.
- Realmente você não é, mas fazer o que? O amor é cego.
- Convida ela pra assistir nosso ensaio qualquer dia desses.
- Tá certo, chamo sim.
- Preciso conhecer melhor essa menina.
- Posso te perguntar uma coisa?
- Claro.
- Você tá gostando de alguém?
- Bom, depende do ponto de vista de quem tá perguntando.
- Achei que não haviam segredos entre nós.
- Há coisas que não posso contar batedor.
- E o papo de eu ser seu melhor amigo?
- Você é, mas tem coisas que a gente não conta nem para o nosso melhor amigo.
- Isso não é justo sabia?
- Tem muita coisa que não é justa na nossa vida e nem por isso a gente se desespera.
- Me promete que eu vou conhecer esse carinha logo?
- Não. Não posso prometer algo que não vou cumprir.
- Por que não? Ele é tão feio assim?
- É por que ele não existe.
- Você me deixa confuso as vezes.
- Eu sei, eu gosto disso.
- De qualquer modo, me promete que eu vou ser o primeiro a conhecer o cara que vai ganhar seu coração?
- Assim... E se por um acaso, não for um cara?
- E por que não seria?
- Ah to um pouco confusa sobre umas coisas.
- Quer dizer então que você tá gostando de uma garota?
- Talvez, não tenho certeza.
- Aí que bom, já tava pensando que o problema era eu.
- Então você não liga?
- Claro que não, seja homem ou seja mulher, só tem que te fazer feliz.
- Obrigada por isso.
- Mas me diz, como foi que isso aconteceu?
- Não aconteceu ainda, eu nem sei se essa garota existe na verdade, seria complicado te explicar, mas bem, talvez eu só esteja mesmo confusa.
- Realmente eu não consegui entender, foi alguém da Internet? Se for isso marca um encontro, em lugar público por favor, podemos levar os amigos e a gente fica vigiando de longe, qualquer coisa estamos por ali.
- Amei a ideia batedor, de verdade, mas infelizmente, não vai rolar.
- Por que não?
- Ela não existe, eu prefiro acreditar nisso, mas se rolar de eu conhecer alguém pela Internet, te aviso.
- Tá certo então.

Pietra não queria que mais ninguém soubesse de seus sonhos, ela começou a pensar que estava ficando louca e achou melhor não comentar com mais ninguém, mas quis preparar os amigos, caso ela realmente conheça alguma garota que ganhe seu coração.

Era inacreditável como ela conseguia nutrir sentimentos por alguém que não conhecia e de quem não sabia absolutamente nada, alguém, provavelmente, que nem sequer existia. Pietra está disposta a fazer mais amizades na faculdade e parar de se isolar, talvez ela se apaixone por alguém real, ou talvez ela apenas pare de sonhar com a menina que lhe tira o sono no meio da noite.

***

- Bom dia gente!
- Bom dia querida, acordou cedo hoje.
- Preciso ir no café com vocês pra verificar a montagem do palco.
- Eu disse que cuidaremos disso meu amor, não precisava ter acordado tão cedo. - Jeremias entra na cozinha ajeitando o casaco.
- Quero fazer isso pessoalmente pai, se não se importa.
- Claro que não querida, quero tanto quanto você que tudo esteja perfeito na inauguração. - Ele da um beijo na cabeça da filha.
- Filha, mudando de assunto, onde você esteve ontem? Eu não te vi chegar.
- Onde eu estive ou a que horas cheguei mãe? Por que uma coisa não tem nada haver com outra.
- Você não era assim Pietra.
- Você não disse que eu tinha que me socializar mais? Então, tô seguindo o seu conselho, fiz amigos e saímos pra beber um pouco.
- Eu nunca disse isso Pietra, acho que tudo o que você precisa você já tem, só não aceita, a propósito, fiquei sabendo que o Júlio tá namorando, você vai mesmo permitir perder esse garoto?
- Anne, por favor, a Pietra tem o direito de fazer suas próprias escolhas.
- Como o quê? Uma garota? - Anne se exalta.
- Já que você mencionou mãe, sim, eu posso querer ficar com uma garota, afinal, descobri que elas beijam bem.
- Pietra! Por favor meu anjo, não piore as coisas, vai deixar sua mãe mais irritada.
- Irritada? Eu não tô irritada, eu tô furiosa, o que essa menina tem na cabeça me diz?
- Eu vou na frente tá legal, encontro vocês lá.

Anne se senta ainda não acreditando no que acabou de ouvir de sua própria filha, Jeremias não diz nada, pois prefere que ela absolva toda essa informação.

Há três semanas Pietra começou a sair com alguns amigos da faculdade, a banda também começou a ser chamada para tocar em vários locais pela cidade, ela aproveitou a deixa pra começar a beber, socialmente claro, teve a oportunidade de ficar com alguns garotos, assim também, como com algumas garotas, ela realmente gostou da ideia, mas ainda assim não se decidiu exatamente. Os amigos a mantém na linha, ela por si mesma pretende não se perder com essas ideias, mas gosta de afrontar a mãe, acha que dessa maneira Anne vai aceitar a ideia de ter uma filha homossexual.

Os sonhos ainda são pertinentes, ela não acredita como consegue sonhar com a mesma menina todas as noites. Ela chegou a pesquisar na Internet o nome, mas sem sucesso, pois apareceram de todos os tipos de rostos, menos o que ela mais queria ver.

***

- Preparada pra o show de amanhã?
- Sempre estou preparada.
- Que bom. Que cara é essa? Aconteceu alguma coisa?
- Não batedor, eu tô bem e você, nervoso pelo show de amanhã?
- Claro que não, você sabe que eu nasci pra isso.
- Pietra, querida.
- Oi vovô, tudo bem?
- Tudo ótimo minha linda e você, como tem estado?
- Bem, um pouco anciosa.
- Ora, parece até que é a primeira vez que vai subir em um palco.
- Não é só por isso vô.
- E o que é então pequena?
- Amanhã nós vamos inaugurar o café, muitas coisas podem acontecer.
- Ou alguém não é?
- Ou alguém.
- O que tiver que ser minha cara, será, não se preocupe.
- E se eu estiver errada?
- Sobre o que?
- Nada vô, deixa pra lá.

Pietra da um beijo no rosto do avô e se encaminha mais uma vez ao palco, ela olha pela vidraça lateral e a imagem da menina se faz presente outra vez. Ela sabe o que pode acontecer caso ela não esteja tão errada assim, mas não faz a mínima ideia de como agir caso não esteja mesmo.