"Às vezes me pergunto se eu viverei sem ter você, se saberei te esquecer. Passa um momento e eu já sei, você é o que eu quero ter, inesquecível para amar."
Pietra arrisca a cantar no ouvido de katelyn enquanto ainda estão abraçadas, Katy no entanto, encosta a cabeça em seu ombro e fecha os olhos, começa então a cantar junto, ambas, às lágrimas.
"Mais que uma história pra viver
O tempo parece dizer
Não, não me deixe mais
Nunca me deixeQuanto mais longe possa estar
é o que eu quero pensar
Não, não me deixe mais
Porque eu te quero aqui
Inesquecível em mim"Ninguém ao redor delas prestava atenção na interação das duas meninas, e o coro fazia uma única voz, mais uma troca de olhares, mais um beijo e cada vez mais elas se entregavam uma para outra, não havia nada que impedisse esse sentimento e elas sabiam disso.
***
- Obrigada, amei o show, a surpresa, tudo.
- Eu amei a companhia.
- Quer aproveitar mais um pouco dela e irmos beber alguma coisa então?
- Lógico, onde vamos?
- Me diz você, vou te deixar escolher.
- Que honra poder escolher o lugar onde vamos acabar nossa noite.
- E ela vai acabar porque?
- Por que minha cara, felizmente, o sol tem que nascer.
- Ele pode esperar um pouco.
- Quem dera fosse verdade.
- Vamos deixar de papo, onde a senhorita está pensando em me levar?
- Não conto, é segredo.As duas saem de mãos dadas e aos risos, tudo perfeito em uma noite perfeita, nada para atrapalhar. No caminho, Pietra pede a Katy para que elas entrem em uma chooperia, onde elas se acomodaram em uma mesa bem discreta.
- Qual o seu maior sonho?
- Não sei.
- Como não sabe? Você nunca pensou no que quer fazer? Tipo, você tá fazendo letras correto? Qual seu objetivo ao concluir o curso?
- Talvez me tornar professora de literatura, ou escrever um livro, ainda não tenho em mente o que exatamente eu quero fazer quando terminar.
- E o que te levou a escolher a literatura?
- Minha mãe sempre dizia que o sonho dela era se tornar uma grande escritora, mas ela engravidou de mim antes que pudesse entrar na faculdade e depois que eu nasci, ela simplesmente desistiu dos sonhos dela, eu prometi a mim mesma que não deixaria isso acontecer comigo.
- Tá, muito nobre da sua parte fazer isso pela sua mãe, mas você não pensou em algo que você queira pra si?
- Isso é o que eu quero, fazer uma coisa que a minha mãe não pôde fazer.
- Mas você não tem um objetivo.
- Objetivo eu tenho, o que eu não tenho é uma finalidade, mas há opções, eu tenho tempo pra decidir até lá.
- Se você tá falando.
- Você já veio aqui antes? Gostei do lugar.
- Não, eu ainda não tinha vindo aqui, já passei em frente algumas vezes com o meu avô, uma vez meus amigos vieram, mas eu não quis entrar.
- Por que não?
- Uma vez, meu avô me disse que esse lugar era muito especial, que foi aqui que ele e a minha avó se conheceram, ele me disse então, que só quando eu encontrasse uma pessoa tão singular, quanto esse lugar, aí sim, eu estaria pronta pra entrar e aproveitar o que ele pode nos proporcionar de melhor.
- E qual o melhor daqui?
- Sem dúvida nenhuma, a companhia.A conversa foi agradável e elas tomaram algumas taças de vinho acompanhadas de alguns petiscos, estavam se conhecendo cada vez melhor, o papo fluía naturalmente e as duas ficaram com aquela sensação de que já se conheciam há anos.
- Como foi esse lance com o Júlio?
- Há não, por favor, não vamos falar do Júlio.
- Há sim, por favor, vamos falar do Júlio sim, ele é um babaca.
- Achei que ele fosse seu melhor amigo.
- Ele era, nós nos conhecemos desde criança, mas ele mudou desde que descobriu que estava apaixonado por mim.
- Por que você nunca deu uma chance á ele?
- Nunca o vi dessa maneira, se fiz dele meu melhor amigo, ele iria morrer meu melhor amigo, eu não conseguia vê-lo de outro modo, ele era como um irmão pra mim sabe?
- Você falou isso pra ele?
- Claro que falei, mas ele achava que eu poderia mudar de ideia, minha mãe ainda fazia o favor de encher a cabeça dele com expectativas que eu nunca dei, aí pronto, a coisa estava formada.
- Eu até que gostava dele no começo, me forcei a isso, achava ele legal.
- "Se forçou a isso?" Como assim?
- Eu queria esquecer que acreditei que você poderia sim ser real, a Giovanna também ficava falando na minha cabeça que você não existia e que eu tinha que tocar minha vida pra frente, que já que ele estava ali e estava disposto a me aturar, porque não? Então eu corri o risco.
- Você nunca contou pra ele?
- Não, a Gio era a única que sabia, eu não queria que ele me achasse louca.
- Eu também não, por isso só falei no dia da inauguração do café, o que foi trágico.
- Porém, necessário, mas eu entendo a revolta dele, não bastou ser trocado por outra garota, tinha que ser a melhor amiga dele, que traição.
- Então você o trocou por mim? Por que eu demorei pra saber disso?
- Olha, não foi isso o que eu quis dizer tá, eu já bebi de mais, vamos embora?
- Jura? Tá cedo ainda, vamos ficar mais um pouco, garanto que você aguenta mais uma taça.
- Aguento sim, mas o que você me diz de tomarmos essa mais uma taça, lá no meu apartamento?
- Adoraria.***
- Por que seu pai te deixou vir morar sozinha?
- Acho que ele tá tentando compensar a falta de atenção dele.
- Ele era assim antes da sua mãe falecer?
- Era pior, ele não nos dava atenção, só vivia na rua, chegava tarde, bebia todo final de semana, nunca parava pra conversar com a gente, não me perguntava como eu tava na escola, nem como tava o meu namoro, se eu estava me comportando, essas coisas.
- O que sua mãe falava sobre isso?
- Nada, eu não tinha coragem de perguntar e ela nunca tocou no assunto, mas antes de falecer, ela me fez prometer que eu faria de tudo pra ser feliz, que não importasse onde e nem como, mas que eu nunca deixasse ninguém me fazer chorar ou desistir de algo que eu queira pra minha vida.
- Porque ela não se separou dele?
- Eu não sei, eu não entendia por que minha mãe ainda o aturava, mas eu não me metia.
- Ele já maltratou vocês?
- Fisicamente não.
- Como foi lidar com ele assim que sua mãe faleceu?
- Foi horrível, eu passei uma semana trancada no quarto sem querer ver ninguém, ele nunca bateu lá pra ver como eu estava. Três semanas após minha mãe ter partido, ele arrumou as coisas dele e disse que precisava fazer uma viagem, dois dias depois ele me ligou e disse que não voltaria mais pra casa por que não aguentava ficar lá sem a minha mãe.
- Ele te deixou sozinha?
- Sim, mas depois eu descobri que ele não foi embora por que não aguentava a ausência da minha mãe, ele foi por que já tinha outra mulher.
- Em menos de um mês?
- Pra você ver. Depois disso eu não falei mais com ele, ele queria que eu a conhecesse, mas eu não quis e disse que queria ir embora de lá, que queria ir pra bem longe dele. Quando eu me inscrevi pra faculdade, minha tia contou pra ele que eu só escolhi faculdade longe da nossa cidade, então ele foi lá em casa e disse que eu poderia fazer o que eu quisesse desde que eu aceitasse que ele pagasse minhas despesas.
- Por que você aceitou?
- Minha tia me convenceu, disse que era o mínimo que ele poderia fazer já que nunca havia sido um pai de verdade, então eu decidir aceitar, mas vai ser só até eu me formar, depois que eu arrumar um emprego, passo a me virar sozinha.
- Eu lamento muito por tudo isso.
- Eu também já lamentei muito, hoje em dia eu só não quero ideia com ele.
- Mas ele é seu pai apesar de tudo, você não liga as vezes pra saber dele?
- Não, ele ligava muito, logo assim que eu me mudei pra cá, não tínhamos nada pra conversar sabe? Ficava um clima estranho, aos poucos ele foi ligando cada vez menos, hoje em dia ele só manda recado pela minha tia.
- Isso te incomoda?
- Ainda não sei, não gosto de falar dele por que não tenho boas histórias pra contar, aprendi que me viro melhor sozinha e que ele não faz mais diferença na minha vida, só tenho ele como pai por que tá na minha certidão, mas como pessoa, não sinto falta e a mágoa que ele me causou assim que a minha mãe faleceu, me fez nunca mais querer saber dele.
- Eu entendo, é complicado. Você acha que ele já estava com essa mulher antes da sua mãe morrer?
- Lógico, foi tudo muito rápido, não tinha nem um mês da morta da minha mãe e ele já estava morando com outra mulher.
- Ela tem filhos?
- Minha tia disse que tem dois, mas eu nunca quis conhecê-los, não tenho nada contra eles, nem contra a mulher dele, mas não me envolver foi uma escolha que eu fiz, não tenho como fingir que está tudo bem quando eu sei que não tá, eu preferi me afastar e ponto, foi melhor assim pra todo mundo, evitamos muitos constrangimentos.
- Você imagina que ele possa tratar a nova mulher e os filhos dela melhor do que ele trava você e a sua mãe?
- Eu não gosto de pensar nisso, simplesmente prefiro não pensar nele e nem na nova família dele, só isso.
- Me desculpa te fazer todas essas perguntas, mas eu fiquei curiosa.
- Tudo bem, eu nunca converso com ninguém sobre isso, até a Giovanna que é minha amiga, não consegue me fazer falar.
- Ela não sabe dessa história?
- Sabe, mas sabe o mínimo, eu nunca contei tantos detalhes.
- Vou contar pra ela que com alguns copos de vinho você fica a ponto de bala.
- Eu não contei pelo vinho, ela já me embebedou antes e nem assim eu falei.
- Então porque você falou pra mim?
- Por que é você, e com você eu me sinto bem, não sei te explicar o porquê, só sei que é isso.
- Quantas vezes você já se apaixonou?
- Não sei, duas eu acho, porquê?
- Por que eu queria que você me explicasse como isso funciona, acho que acontece toda vez que eu te olho, e toda vez que você sorrir pra mim, e toda vez que eu te vejo tão abertamente assim, de alma exposta, entende?
- Acho que sei como é isso.As duas se beijam calorosamente, mas ao mesmo tempo, carinhosamente, elas se entregam de uma forma, que nenhuma das duas pensam em voltar atrás e nem querem.
A primeira noite das duas juntas, sozinhas, a primeira noite de amor, a primeira declaração de uma para outra. A certeza de estarem fazendo a coisa certa e mais certas ainda, de que aquilo era amor e elas lutariam pra viverem essa grande história.
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A Garota Dos Meus Sonhos
Roman d'amourKatelyn é uma jovem que mora sozinha e faz faculdade de letras. Pietra é outra jovem que mora em outra cidade e tem uma banda. O que as duas tem em comum? Um sonho, melhor, muitos sonhos, literalmente, embora nunca tenham se visto e sequer pensam em...