A Garota Dos Meus Sonhos

XVIII

- Oi filha.
- Oi pai, achei que você iria está no café.
- Sua mãe ficou, eu precisei resolver outra coisa.
- Ata. Tá tudo bem?
- Tá sim, tudo na mais perfeita ordem. Me conta, como foi ontem? Que filme vocês assistiram?
- Não fomos ao cinema.
- Não? Ficou só na casa dela?
- Não, te dou um doce se você adivinhar onde ela me levou.
- Tá bom, passo, tenho que emagrecer mesmo.
- Nem um chute?
- Não, dia logo, quero saber.
- Ao show da Laura Pausini, no Artemio Franchi.
- Meu Deus, que garota em, mandou super bem.
- Sem dúvidas, eu amei, o show foi incrível, e ela me beijou.
- Ao som de?
- Inesquecível.
- Quando eu crescer quero ser igual a ela.
- Ela é de mais pai, melhor companhia, nos conhecemos bastante.
- Fico feliz em ouvir isso, é bom te ver feliz assim.
- Depois do show nós fomos tomar um vinho, a noite foi uma delícia.
- Imagino, você nem voltou pra casa.
- Ela disse que me ama pai.
- Eu não duvido. Achei que você voltaria pra casa bem mais tarde hoje.
- Tivemos um contra tempo.
- Aconteceu alguma coisa?
- Duas. Primeiro, nós fomos ao mercado comprar algumas coisas e demos de cara com o Júlio lá, ele tava com uma menina, mas isso não o impediu de fazer graça. Segundo, a tia dela ligou pra avisar que o pai dela está internado e ela não deu a mínima importância, eu disse que mesmo que ele não mereça, ela deveria visitá-lo, mas ela disse que eu não tinha que me meter na vida dela, aí eu fiquei com raiva e vim embora.
- Poxa vida, tinham que estragar a noite de vocês né?
- Pois é.
- O que o Júlio disse?
- Falou que nós duas o traímos e disse que ela conseguiu me tirar dele.
- Mas você nunca teve nada com ele.
- Pois é, acho que ele não sabe disso.
- Vocês não fizeram barraco no mercado não né? Por que eu conheço você quando tá com raiva.
- Só um pouquinho, mas a Katelyn me tirou de lá antes que ficasse pior.
- O que aconteceu com ele? Largou a banda, sumiu daqui, não entendo.
- Nem eu entendo pai, ele tá com tanta raiva, que não enxerga que tá descontando em coisas e pessoas que não tem nada haver com os problemas dele.
- É uma pena ele tá se comportando assim, eu o achava um bom garoto. E quanto ao pai dela, qual o problema entre os dois?
- Ela me disse que o pai dela nunca ligou pra ela e pra mãe dela, ele vivia bebendo e quando a mãe dela ficou doente, ele pouco se importou, ele não ia nem hospital visitar a esposa, logo depois que ela faleceu, ele disse pra Katy que precisava viajar a trabalho, mas alguns dias depois ele ligou falando que não voltaria mais pra casa, disse que não aguentava a perda da mãe dela, mas a tia dela contou logo depois, que ele estava morando com outra mulher.
- Ele deixou ela sozinha em casa pra morar com outra mulher?
- E em menos de um mês do falecimento da esposa.
- Que desgraçado.
- Por isso que ela tem raiva dele, falou que não vai no hospital visitar ele, ela não consegue perdoá-lo por tudo o que aconteceu.
- Mas não é ele quem a mantém aqui na cidade?
- É sim, ela falou que ele paga as despesas dela, como uma maneira de amenizar as coisas, ele procurou por ela depois de um tempo e viu que ela não queria saber dele, aí arrumou um jeito de se sentir pai.
- Que coisa, concordo com ela, eu também não iria.
- Eu não concordo, ela crítica tanto ele e agora vai fazer igual? Independente do que ele fez, ainda é pai dela, ela não pode se esquecer disso.
- Realmente, pensando assim, mas sei lá, eu ainda não iria.
- Espero que ela nunca te ouça dizer isso.
- Tudo bem, eu não digo na frente dela, pode deixar. Mas então, por que você não manda uma mensagem pra ela, pra tentarem se entender.
- Já nos entendemos, ela me ligou quando eu estava chegando, conversamos um pouco, ela me pediu desculpa pelo que falou e ficou tudo bem.
- Que bom, fico mais aliviado. Por que não me ligou pra eu ir te buscar?
- Achei que o senhor estaria no café, não quis incomodar, aí vim sozinha.
- Você tá feliz filha?
- Muito pai, o senhor não faz ideia.
- Fico feliz por você.
- Queria que a minha mãe ficasse também.
- Tenha paciência com a sua mãe meu amor, uma hora ela cede.
- E se ela não ceder?
- Você continua vivendo, não vai parar a sua vida por ninguém, nem mesmo pela sua mãe, nada, vale sua felicidade.
- Ainda bem que eu tenho você pai. Te amo.
- Te amo também, muito.

Pietra conversou mais um pouco com o pai e depois resolveu ir pro quarto, tomou banho, trocou de roupa, mandou uma mensagem para Katelyn e pegou no sono enquanto estudava um pouco, acordou ouvindo a voz da mãe do lado de fora do corredor.

- É isso que você quer que eu aceite? Ela nem voltou pra casa ontem.
- Você tá exagerando, ela não é mais nenhuma criança, sabe se cuidar
- Eu não aceito isso, não aceito e não quero que você aceite também, é um absurdo.
- Por que é um absurdo? Ela ainda é nossa filha, nada mudou, ela é a mesma, qual a sua dificuldade em entender isso?
- O que as pessoas vão dizer Jeremias?
- O que importa o que as pessoas vão dizer mãe? Eu não dependo de nenhuma delas, elas não pagam as minha contas, elas não sabem nada sobre mim.
- Isso é ridículo Pietra.
- Ridículo é eu viver em função dos outros, eu tenho minha vida, eu tenho que fazer isso por mim, você mesma já me disse mil vezes que ninguém vai ser feliz por mim, que eu tenho que correr atrás do que me faz bem, por que você não pode aceitar que uma garota me faz bem?
- Eu não quero mais falar sobre isso. E da próxima vez que você sair e decidir passar a noite fora, nem precisa voltar.
- Não exagera Anne, não tem necessidade disso.
- Tudo bem pai. Quer que eu vá embora mãe? Eu vou, é só você pedir, eu estou disposta a pagar o preço para ter um pouco de paz, queria muito que você entendesse que eu ainda sou eu, que eu não mudei, mas como isso não é possível, me diz, é isso o que você quer? Que eu vá embora da sua casa?

Jeremias puxa Pietra para dentro do quarto antes que Anne consiga responder qualquer coisa.

- Tá ficando maluca? Quer que sua mãe te expulse de casa?
- Eu não me importo mais.
- Mas eu me importo Pietra, você é minha filha também e eu não vou permitir que isso aconteça, então fica com a boca fechada, pelo amor de Deus.
- Ela não vai voltar atrás.

Jeremias fica sem saber o que responder, Anne se tranca no quarto enquanto o marido e a filha conversam e percebe que foi longe de mais, ela quer voltar atrás do que disse, mas se torna relutante quando lembra do motivo real de toda essa confusão ter começado.

- Pietra, minha filha, pelo amor de Deus, tira essa ideia da cabeça.
- Pai, não sou eu, minha mãe que não me quer aqui e se ela não me quer, eu não vou ficar.
- Não, vocês não vão fazer isso, eu não aceito essa situação.
- E o que você sugere? Que eu espere até um dia ela dar a louca e eu chegar em casa e encontrar minhas coisas lá no meio da rua? Ela não é obrigada a me aceitar pai, eu queria que nada mudasse, que me tratasse como você me trata, mas isso não vai acontecer e nós dois sabemos disso.
- Eu vou lá falar com ela, só fica aqui por favor, não quero mais confusão por hoje.

Pietra sentiu vontade de chorar, mas não chorou, pegou o celular e ligou para o avô.

- Oi minha linda, tudo bem?
- Oi vô, não muito, eu queria te pedir uma coisa.
- Pode falar meu amor.
- Eu posso dormir na sua casa?
- Aconteceu alguma coisa grave?
- Não vô, é só que eu não quero dormir aqui hoje.
- Você vem sozinha ou quer que eu vá te buscar?
- Eu vou sozinha, não tem problema.
- Tem certeza?
- Tenho sim.
- Pietra, se for o caso de você precisar ficar uns dias aqui, você pode tá?
- Obrigada vô, te amo.
- Eu também te amo, não demore tudo bem? Não quero ficar preocupado.

Depois de encerrar a ligação, Pietra arruma suas coisas e sai sem avisar aos pais, quando ela já está dentro do carro a caminho da caso do avô, ela resolve mandar uma mensagem para o pai avisando que ele não precisava se preocupar com ela.
Jeremias queria ir atrás da filha, mas Anne não permitiu que ele saísse de casa aquela hora, ele falou simplesmente que se acontecesse alguma coisa com sua filha, ele jamais a perdoaria. Anne sentiu uma pontada no peito e uma vontade imensa de chorar.

- Ela ainda é a nossa filha, a opção sexual dela, não interfere no caráter dela e nem na personalidade, somos uma família e devemos nos apoiar e você querendo ou não, eu quero minha filha de volta na nossa casa, não é justo você julga-la por algo que ela não pode mudar, você é a mãe dela, se ela não poder contar com você e nem confiar na própria mãe, o que você acha que vai acontecer com ela nesse mundo aí fora? Pensa um pouco, não deixe seu preconceito arruinar nossa família, por favor.

Anne nada diz, ele se retira da sala e a deixa sozinha, liga para o pai e diz que sabe que Pietra está indo para lá, pede que ele ligue assim que ela chegar pra ele não ficar preocupado.
Pietra chega na casa do avô e recebe o recado que o pai deixou, ela liga e diz pra ele que está tudo bem, não prolongam a conversa, depois de deitar ela apenas pensa em tudo o que está acontecendo e pensa que ao menos, tem seu pai, seu avô e agora, a garota dos seus sonhos e isso é o suficiente pra ela.