A Garota Dos Meus Sonhos

IV

- Trouxe flores.
- Obrigada Júlio, você é um amor.
- Pena que a sua filha não acha isso.
- Não esquenta com a Pietra, é só uma questão de tempo até ela perceber que partidão você é.
- Não tenho muita fé nisso não. Ela é uma garota inteligente sabe? Bonita, sabe o que quer pra ela e com certeza eu não faço parte desses planos que ela tem a não ser que seja como o baterista principal da banda, o que não é de um todo ruim.
- Você não tá tentando conquistar a Pietra do jeito certo, só isso.
- Poxa, mais do que eu já tentei? Ela não gosta de mim da mesma maneira.
- Vai por mim querido, ela só tá fazendo jogo duro.
- Gostaria de acreditar nisso, mas é meio difícil, principalmente vindo dela.

Anne fica sem saber o que dizer quando percebe que Júlio ficou um pouco triste, ele é o amigo de Pietra que ela mais gosta e torcia pra que os dois namorassem, porém, Pietra tem outros planos, nunca namorou e diz que namoro é um atraso, ela prefere se dedicar a sua música e terminar a faculdade, depois sim, com a vida arranjada, ele pretende sossegar, como ela mesma costuma dizer.

- Ei, chegou cedo, eu disse que tinha um trabalho da faculdade pra fazer hoje, você não recebeu minha mensagem?
- Recebi sim, é que eu tava aqui por perto e não queria ir pra casa cedo, aí vim conversar um pouco com a sua mãe.
- Espero que vocês não tenham falado de mim o tempo todo.
- Claro que não, você não é sempre o centro das atenções sabia?
- Claro que sei, bom, vou subir e tomar um banho, tenho trabalho pra fazer, então o ensaio vai ficar pra mais tarde, mas se você quiser ficar até mais tarde, fique a vontade.
- Nossa que educada, quem vê assim até acredita.
- Chega de ser legal com você batedor, minha cota de gentileza acabou por hoje.

Os dois riem e Pietra sobe sem olhar pra trás, Júlio sabe que não tem chance alguma com ela, mas não pensa em desistir.

***

Após o jantar, do qual Júlio fez parte, os meninos da banda começaram a chegar, os pais de Pietra resolveram sair e deixar a casa livre pra eles ensaiarem. Depois de uma hora eles resolveram guardar tudo e ir cada um pra suas casas, Júlio foi o único que ficou.

- Tenho novidades. - Fala enquanto ajuda Pietra a guardar os instrumentos.
- Isso é bom ou ruim?
- Bom, pra mim pelo menos.
- Só não me diga por favor que você arrumou outra banda mais irada que a nossa e vai nos deixar. - Ela fala em tom de brincadeira.
- Ah sim claro, depois de anos com vocês eu sou obrigado e dizer que foi bom enquanto durou, mas que chegou a hora de dizer adeus.
- Nem ouse Júlio, eu quebro suas duas mãos.
- Você não é capaz.
- Não duvide da minha capacidade.
- Me faça uma proposta melhor então.
- Vamos fazer assim, você não sai e eu não te mato, que tal?
- Não achei muito justo. - Eles riem e ela se senta na poltrona e bate ao lado pra que ele a acompanhe. - É sério agora, eu não vou sair da banda, jamais faria isso com vocês, mas vamos passar a nos ver um pouco menos a partir da próxima semana.
- Por que? Aconteceu alguma coisa?
- Eu fui aceito na faculdade de Florença, vou cursar música.
- Nossa Júlio, que máximo, tô muito feliz por você juro. - Ela fala o abraçando bem forte
- Obrigado, quis te dar a notícia antes de falar com o pessoal, sei lá, achei que você merecia saber primeiro.
- Obrigada pela consideração, mas já que você vai semana que vem, é melhor você contar logo.
- Vou fazer isso sim, só estava esperando pra te contar primeiro.
- Só espero que você não encontre uma galera mais legal e nos deixe de lado, isso eu jamais vou perdoar.
- Tá bom, sem amigo então.
- Não batedor, não foi isso que eu quis dizer, faça amigos, muitos deles, encontre uma garota legal que goste da sua música, um pouquinho menos do que de você claro, mas não nos abandone, jamais nos abandone.
- Eu não faria isso nem que me pagassem.
- Acho bom. - Eles se abraçam e quando Pietra tenta se afastar ele a beija.
- Júlio?! Meus Deus, eu não acredito.
- Calma, desculpa, olha...
- Vai embora, o ensaio acabou por hoje.

Ela entra e o deixa na garagem com cara de quem não entendeu oq aconteceu, ele resolve ir embora e sabe que quando ela estiver mais calma ele vai ouvir o que não quer.

***

- Oi filha, tudo bem?
- Oi pai, tá sim, como foi o passeio com minha mãe?
- Bem interessante eu diria.
- Por que?
- você contou a sua mãe que tá gostando de uma garota?
- Não, apenas mencionei, não admiti nada e já faz alguns dias, hoje que ela te falou?
- Ela tá incomodada com isso. Olha filha, desde que você era pequena eu sempre te incentivei a ter sonhos, te ensinei que você é capaz de fazer o que você quiser e nunca te proíbimos de nada, mas acho que esses sonhos com essa garota tá indo um pouco longe, você não pode se apaixonar por alguém que você nem conhece e que provavelmente nem existe, isso é loucura, não estou querendo dizer também que é errado você gostar de uma menina, você pode gostar de quem você quiser, mas isso... Desculpa filha, mas isso é maluquice.
- Vamos fazer assim então, eu esqueço essa história, vocês esquecem essa história, eu prometo me dedicar mais na minha faculdade do que no meu sonho doido e todo mundo fica feliz, o que me diz?
- Pietra, eu só quero que você tenha consciência que existe um mundo real, eu te apoiei no começo, quando você me contou desses sonhos recorrentes e tal, mas é por que eu achei que passaria logo, só que você tá indo um pouco longe filha.
- Você contou pra minha mãe?
- Não, ela acha que você conheceu alguém na Internet, se eu contar pra ela que essa menina é só um fruto da sua imaginação ela vai querer que a gente te interne.
- Se for o caso de eu gostar mesmo de meninas pai?
- O que é que tem?
- Isso não te incomoda?
- Não.
- Mas a minha mãe sim né?
- você gosta de meninas Pietra ?
- Não sei, nunca nenhuma me chamou atenção.
- Mas também nunca deu nenhuma chance pra qualquer garoto se aproximar de você, que não fosse pra ser seu amigo né?
- Você gostaria que eu deixasse?
- Claro que não. - Eles riem. - Mas eu me refiro a sentimento, apego, pensar em ter um relacionamento.
- Eu não consigo pensar nessas coisas pai, gosto de ficar sossegada no meu canto, tô bem assim.
- Tudo bem meu anjo, quando você decidir o que você quer em relação a isso, melhor, o que você sente de verdade, você por favor nos avise, mas eu já vou logo te avisando, sua mãe não vai gostar, então vamos prepará-la pra receber essa notícia tá bem?
- E se não for isso?
- Então ela vai ter sorte.
- Ela? Por que ela e não eu?
- Por que quem vai ficar frustrada caso você comece a gostar de meninas vai ser ela, não você. Bom, tenho que ir deitar, amanhã ainda tem trabalho e cedo, te aconselho a fazer o mesmo meu anjo.
- Obrigada pai, pela conversa, pelo apoio e por me segurar entes que eu chegue longe de mais com tudo isso, eu te amo.
- Eu também te amo minha florzinha e só tô cumprindo meu papel de pai, tenho que garantir que você fique bem. Boa noite querida, não vá dormir tarde.
- Pode deixar.

Ela estava confusa e não sabia o que pensar direito, agora que se foi conversado o assunto, Pietra se pergunta se ela realmente gosta de meninas, ou se afasta os meninos por puro capricho, porém, a única certeza que ela tem no momento, é um encontro com a Katelyn, assim que pegar no sono.