I - A Festa

733 25 8
                                    

Olhava para o ambiente em que estava e apreciei a decoração que a minha mãe tinha elaborado com tanto carinho para comemorar o aniversario de cinquenta anos do meu pai.

Meus pais são uma dupla e tanto, só de casamento eles já têm vinte e seis anos. Casaram-se bem novos, se amaram desde o primeiro momento em que se viram, meu pai um fazendeiro rustico e mamãe, uma socialite da elite de Belo Horizonte. O casal mais improvável do mundo, e no entanto estão até hoje juntos, firmes e fortes.

Eu tive um irmão, ele nasceu no primeiro ano de casamento dos meus pais, mas era uma criança especial, morreu com poucos meses. Eu nasci alguns anos depois, quando meus pais já não esperavam ter outro filho, sempre fui muito mimada, mas eu nunca me liguei a isso.

Cresci sendo filha única, mas isso não me impediu de me esforçar muito pra conseguir o que eu queria. Não é atoa que aos dezoito anos eu já falo inglês e francês fluentemente, sei tocar violão e fui aprovada na melhor universidade de Belo Horizonte que possuía o curso de agronomia, um dia alguém teria que cuidar da fazenda de papai não é? Então...

O único problema que estava me impedindo de realmente ir pra BH era o Gustavo, meu noivo.

Conheço Gustavo a minha vida inteira, ele é afilhado do meu pai desde antes dele casar com a minha mãe, que apesar de não ser madrinha dele é tratada como tal. Ele é oito anos mais velho que eu, mas a diferença não influi muito em nosso relacionamento.

Gustavo é tão lindo, carinhoso, educado, e inteligente. É formado em agronomia e trabalha na fazenda ao lado do meu pai desde quando se formou, é seu braço direito e também o esquerdo. O fato de que o pai de Gustavo abandonou a mãe dele quando ela estava grávida fez com que ele fosse o filho que meu pai queria, e o meu pai foi o que ele não teve.

Sou apaixonada por Gustavo desde que me entendi por gente, ele sempre foi paciente comigo, ele era um adolescente e eu aquela criança chatinha, que vivia em seu pé colocando suas namoradas pra correr, mas ele nunca se estressou comigo. Eu também era a única que podia lhe chamar de Guto, e isso fazia com que eu me sentisse superior aquelas meninas bobas. Desde essa época eu já dizia que iria me casar com ele, e olha onde estou hoje...

Ele me pediu em namoro quando eu tinha quinze anos, no dia do meu aniversario, eu tinha perdido meu BV com ele aquela manhã. Tinha pedido pra ele ser meu primeiro beijo como presente de aniversario, a principio achei que ele fosse negar e me chamar de criança, mas me surpreendendo, Gustavo me beijou, e foi a melhor sensação da minha vida. Passei o dia flutuando nas nuvens, e então quando estávamos dançando a valsa típica do príncipe e na debutante, ele me pediu em namoro, e foi maravilhoso.

Três anos se passaram e meu amor por ele só tende a crescer. Gustavo é tão paciente, tão amigo, meu parceiro de verdade, eu me sinto abençoada por ter ele em minha vida. Seu sorriso bonito, seu corpo de homem feito, sua personalidade marcante, a forma como ele me faz sentir, e tudo o que eu posso pensar é, como um homem desses quer a mim?

Porra! Ele me pediu em casamento ontem mesmo, eu respondi que sim, é claro! Como recusar um homem como esse?

Mordi meus lábios enquanto olhava pra ele conversando com uns amigos fazendeiros do meu pai. Como um homem podia ser tão perfeito assim, eu bebia de sua imagem como um devoto que se ajoelha aos pés de seu santo de devoção, totalmente rendida a ele e ao seu amor.

- Você quer um guardanapo pra limpar a baba? – minha mãe perguntou sorrindo totalmente divertida ao meu lado.

- O quê? – perguntei confusa e vi seu sorriso ficar ainda maior.

- Querida, você não esconde nem por um segundo que estar a fim dele – falou daquela maneira como as mães fazem, como se ela soubesse mais do que você, ostentando a sua experiência de vida. – Tem que se fazer mais de difícil, os homens gostam de um desafiozinho básico...

Doce HeloísaOnde histórias criam vida. Descubra agora