Estava quente. Muito quente. Eu não conseguia respirar, minha cama tinha virado cinzas, minhas narinas não encontravam oxigênio. Minha mãe? Onde ela está? Pai? Onde?
Me levantei desorientada, vendo minha casa desabar aos poucos.
-Mãe! -tossiOlhei para os lados e então uma viga se rompeu caindo ao meu lado, com agilidade me joguei para frente. O fogo estava em toda a parte, e então meus olhos focaram no chão da sala e na entrada da cozinha.
-Não! -meu ar se foiMeus pais estavam lá, e seus corpos foram consumidos pelas chamas.
Querida, lâmina. . .
Eu sonhei com eles de novo.Estava na mesa de café da manhã vendo meus primos comerem apressados para a escola. Meus tios se movimentavam depressa para cumprir sua carga horária. Eu estava no meu lugar, olhando para eles, tentando ver um motivo para permanecer aqui.
Eu me chamo Ilana Janlous, tenho 16 anos e moro no Caribe com meus tios desde que meus pais morreram em um incêndio na minha antiga casa. Mas existe coisa pior, como eu ser a única a sobreviver.
-Vamos meninos- tia Carla chamou
-Podemos levar biscoitos?- Tony, meu primo mais novo pediu
-Podem...-tia Carla me olhou- você ainda não quer voltar para a escola?
-Não...-murmurei
-Já se passaram 3 meses, Ilana- ela cruzou os braçosComecei a comer e ignorei ela.
Eu não ia para a escola desde que meus pais morreram, muitas pessoas me olham com pena. Meus tios entendem e chamam minha atitude de depressão, e eu já fui em vários psicólogos, mas não acho que isso ajude em algo.
-Bom dia!- meu tio Mário surgiu
-Oi amor- Tia Carla sorriuMeu tio me olhou e senti que estava sendo posta contra a parede.
-Tudo bem, Ilana?- ele perguntou
-Tudo tio- murmurei
-Por que está com essa blusa?- ele perguntou sobre meu moletom de mangas longas que passavam da minha mão
-Estou com frio- sussurrei
-Você sempre está com frio- Tia Carla notou a indiferença da minha voz
-Vou para o quarto- saí da cozinhaNo meu quarto eu podia respirar, ser eu mesma, chorar, pensar, e ficar com minha melhor amiga.
Lâmina. . .
A depressão é um caso diagnosticado por psicólogos de ponta, eles apontam esse estado como um caso grave. A mente da pessoa depressiva gira em torno de pensar na morte, e na maioria das vezes tenta se machucar de alguma forma para esquecer que já esta machucada. Essas pessoas são conhecidas como Auto-multilantes, ou suicidas.
Eu sou uma dessas pessoas, meu braço contava minha história em várias linhas, e na maioria das vezes ninguém entende.
Uma semana depois que meus pais morreram, eu estava prestes a enlouquecer, foi quando sentir essa vontade, na escola uma das minhas amigas notou e isso fez ela julgar e me ofender, logo a escola inteira sabia e foi assim que a escola morreu para mim.
Eu me deitei na cama colocando meus fones tentando pensar em algo.
Minha psicóloga dizia para mim não fazer isso, e eu pedia para ela não falar para meus tios. Ela cumpria a dela.
Eu me corto para tentar esquecer a dor que tenho dentro de mim.
Sabe, se nos machucamos fiscalmente é só botar gelo, fazer massagem, passar remédio. Mas e quando nos machucamos interiormente? O que fazer?
Nada, não tem como colocar a mão no coração e fazer massagem, temos apenas que ficar ali. Parados, torcendo para parar em algum momento, mas a dor só parece aumentar.
Eu perdi meus pais, fui rejeitada por meus amigos, meu namorado me largou. Eu não tenho nada, nem ninguém para me abraçar e dizer que vai passar. Meus tios não gostam que meus primos falem comigo.
Eu não tenho ninguém. Dá pra imaginar a dor que eu sinto?
Eu disse que não havia forma de fazer passar uma dor que está dentro de nós. Mas eu descobri um meio.
Me cortando.
Por que?
Porque quando me corto, tudo para. Meu cérebro desfoca da dor do coração e vai para dor física. Isso faz eu esquecer a dor que eu sinto por um tempo, e quando volta a dor, eu me corto outra vez.
Nosso cérebro é assim, para desfocar de algo, e só mudar o foco. Afinal, uma dor física não chega perto de uma emocional.
Alguns concordam, outros não. Mas, para mim isso é a verdade.
E eu vivo assim agora. Sozinha, sem amor, sem cores, tudo em preto e branco, como se a vida fosse apenas um borrão pelo qual eu fosse obrigada a passar.
Suspirei pesadamente pegando a lâmina na minha gaveta.
Subi a manga do meu moletom vendo as marcas que já se misturavam, umas ainda vermelhas, outras já cicatrizadas e algumas eram apenas marcas agora, mas que uma dia já foram feridas. Pelo menos essas podem cicatrizar.
Afundei a lâmina mais uma vez a lâmina no meu braço, vendo o sangue vivo surgi, as lágrimas surgiram vendo o rosto da minha mãe em minha mente.
Eu te perdi, perdi tudo, estou tão sozinha. Como posso ficar assim? Ninguém me trata bem. Meus tios me chamam de doente, não gostam que eu fique perto de meus primos, e meus amigos. Não tenho nenhum. Ninguém.
Estúpida. Doente. Dramática.
A lâmina já havia feito um show em meu braço, o sangue já se acumulava, meu peito parecia que ia explodir com o pulsar de meu choro. Eu queria muito morrer.
-Ilana?- ouvi a voz de TonyMe virei assustada vendo seus rosto confuso ao ver meu braço sangrando. Deus não!
-Filho..-Tia Carla surgiu se deparando com a situação- Meu Deus!Ela puxou Tony para seus braços e os dois ficaram me olhando como se eu fosse um animal. Cobri meu braço com a manga longa sentindo meu coração saltar de tanto medo.
-Você é louca!?- ela berrou
-não, tia...eu...-Tentei argumentar
-Sua doente! chega! Quero você fora da minha casa e longe dos meus filhos!- ela levou Tony com a raiva em seu rostoO que seria de mim?
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Querida Lâmina. . .
Misterio / Suspenso"Qualquer dor é melhor que a emocional" Consumida pela dor da perda, e da rejeição, Ilana Janlous tenta lutar contra o destino para acabar com sua vida, entrando assim em uma intensa depressão. Os tios já não aguentam vê-la assim, com medo da influê...