Capítulo 3- Ele

1.2K 107 9
                                    


A escola estava tão monótona quanto de costume. Estava sentado com meu grupo de amigos, ouvindo as bobagens que saíam de suas bocas.

Eu me chamo Sebastian Whech, tenho 17 anos e estou cursando o último ano escolar. Isso me deixa muito feliz.
-Cara, teve mais um suicídio naquela clínica psiquiatra- Bob riu
-não entendo por quê ainda tentam salvar essa gentinha- Aline falou cerrando sua unha
-Isso é horrível- sussurrei
-Eles que querem se matar - Bob deu de ombros
-E você acha isso normal?- perguntei incrédulo
-relaxa Sebastian- Aline agarrou meu tórax, atirada como sempre- não temos nada haver com esses psicopatas.
-Eles são gente Aline. Garotos e garotas da nossa idade que precisam de ajuda e não de julgamentos- rosnei
-Desde quando virou médico? -Bob zoou
-Desde que escolhi o que facultar- me levantei saindo de perto

Eu morava no Caribe, e aqui tinha uma clínica psiquiatra onde ficavam internados muitos adolescentes com problema de depressão, na minha escola, a maioria julgava isso como: quero chamar atenção. Eu achava burrice e não suportava ouvir e nem ver eles rindo disso.
Há graça em ver pessoas se matando por dor? Por não aguentarem a situação?

Estava sentado na grama com meus fones lendo um livro que havia esquecido o nome. O Caribe era um lugar morno, tinha praias e sol, mas as vezes uma chuva ou outra.
-Ei...-Aline surgiu me fazendo resmungar um palavrão
-Que foi? -perguntei
-Vamos comer pizza hoje a noite, tá afim?- ela perguntou
-Não sei, tenho coisas para fazer- fechei meu livro
-Ah, vamos Sebastian- ela passou as mãos no meu cabelo
-Não sei, eu realmente tenho coisas para fazer- me levantei e ela me acompanhou
-Você anda tão chato ultimamente- ela cruzou os braços
-Ah, jura?- ergui minhas sobrancelhas
-Sim, que bicho te mordeu?
-nenhum, eu tenho que ir- caminhei e ela se meteu na minha frente
-Acho que isso é falta de uns beijos- ela passou as mãos por meu abdômen
-Aline, eu já disse. Não vou namorar você, nem nada parecido- avisei e saí deixando ela lá

Aline me pressionava em relação a isso a muito tempo, não sinto nada por ela, afinal sei o quão superficial ela é. Minha escola era bem movimentada, mas não havia nada de interessante. Tinha garotas interessantes que eu sentia vontade de conhecer, mas não sabia como chegar, e nesse impasse acabava não conhecendo.
-Ela foi internada também- ouvi alguém rir

Olhei para trás e duas garotas conversavam.
-Ainda bem que nos livramos dela- a outra disse- falei que ela era louca. Questão de tempo para ela se matar também.

Chega! Cansei!
Caminhei determinado para minha casa, sabendo o que eu queria fazer.

Minha casa ficava perto da praia, meus pais ficavam sempre na varanda conversando e rindo de suas bobagens, eles eram o casal mais feliz que eu conhecia.
-Oi filho- minha mãe me cumprimentou
-Oi mãe- me sentei ao lado deles
-Como foi a escola?-papai perguntou
-Ótima, a diretora me ofereceu vários nomes de universidades para estudar medicina- contei
-Que ótimo, pode começar a se candidatar assim que acabar a escola- mamãe sorriu
-Sim, vou fazer isso- sorri satisfeito

Minha cabeça fez nota mental do que eu realmente queria fazer.
-Hã, mãe...pai- comecei- eu estava pensando em me candidatar como voluntário na clínica psiquiátrica.
-Uau, isso é maravilhoso filho- papai sorriu com orgulho
-Isso seria um bom ato de sua parte- mamãe segurou minha mão- aqueles adolescentes precisam mesmo de ajuda.
-Então, irei lá amanhã, depois da escola- sorri satisfeito
-que filho incrível o meu- mamãe beijou minha bochecha

No meu quarto eu treinava um discurso para conseguir entrar como voluntário, queria muito estar lá dentro e mostrar que a vida pode dá certo. Depressão é um caso sério, e eu já tive uma experiência familiar com isso, eu não me lembro como na verdade, eu era muito pequeno quando ocorreu, e eu odiava os julgamentos sem sentido dos meus amigos, as palavras sem conteúdo de cada um. Eles eram snobs e só pensavam em se dar bem, mas não conseguiam enxergar que cada um tem sua própria dor, e lidar com ela pode exigir grande força, talvez uma força que você não tenha.
Me sentei na cama para analisar isso melhor.
A maioria das pessoas que entraram em depressão se cortam, queimam ou arranjam um método para se infligir dor, eu queria entender esse lado da história, mas sinto que já sei a resposta.
Seria talvez para afagar uma dor maior? Talvez a dor de um corte não seja tão ruim como a situação que é vivida. Entrei na internet para tentar entender melhor o mundo da depressão, dizia várias coisas sobre humor oculto, mente desfocada, sorrisos extintos, perda de interesse em coisas importantes, e desvio escolar. Isso é verdade, afinal muitos garotos que estavam internados saíram da minha escola.
Olhei as imagens vendo os cortes que surgiam na tela, pessoas tristes, frases que me faziam entender um pouco.
Fechei a tela do computador tentando me concentrar em como iria ajudar quem estava em uma situação assim. O que faria se eu me deparasse com um garoto ou garota da minha idade se cortando? Eu teria força para levantar o humor dele? Eu o ajudaria ou eu simplesmente ficaria em choque?
Minha cabeça era uma tempestade de pensamentos, cada um me fazia ver uma brecha sobre o que pensar, mas não me dava nenhuma resposta.
Suspirei pesadamente.
Eu tenho que conseguir.
Eu posso ajudar, eu posso fazer isso.
Me deitei na cama sabendo meu objetivo do dia seguinte

Querida Lâmina. . .Onde histórias criam vida. Descubra agora