Passar o dia com ela não foi tão ruim, Ilana não falava muito mas eu sim. Ela conseguiu sorrir as vezes, e eu consegui me sentir útil.
Eram 19h45, ela tinha acabado de assistir o vídeo aula e eu já estava indo para casa.
-Volto amanhã pra te perturbar mais um pouco- falei cruzando meus braços
-Tá- ela revirou seus olhos
-Não pense em se cortar, vou olhar seu braço todos os dias- avisei
-Você é muito chato- ela bateu o pé
-Sou mesmo- ri dela
-Vou tentar não me cortar, mas é difícil- ela suspirou
-Você consegue, Ilana- sussurreiEla me olhou com aqueles olhos brilhantes. Sorri para ela vendo a menina que tinha que salvar, ela corou e pôs o cabelo atrás da orelha, nos despedimos e então eu fui para minha casa.
Na mesa de jantar, meus pais me olhavam com aquela ansiedade e curiosidade, eu não queria falar sobre o assunto, mas sei que eles vão me perguntar
-Consegui a vaga como estagiário- contei
-Oh, que maravilha- mamãe jorrou
-E já tem alguém para monitorar? -meu pai perguntou
-Sim, tenho- sussurrei
-Quem?- mamãe perguntou
-Vocês não conhecem- afirmei
-descreva ela- papai pediuSuspirei pesadamente. Como iria descrever Ilana se não à conheço bem?
Lembrei das nossas conversas de hoje, de tudo que pude notar nela.
-Ela é uma garota, se chama Ilana. Não à conheço direito, mas ela tem problemas com mutilação. Ela é quieta, tímida e triste, mas basta olhar nos olhos dela para ver a garota que ela é- falei lembrando de seus olhos
-Ela parece ser encantadora- mamãe disse- tente ajudá-la filho. Não deixe que ela desista da vida
-Gostaria de conhecê-la. Fiquei curioso com modo que usou palavras tão bonitas para falar dela- papai sorriu
-ei, não é isso- falei constrangido- eu só conheço ela à um dia. Não tem nada aqui
-Oh, entendo- papai bebeu seu suco- não achou ela bonita?Linda na verdade.
-Bem, sim, mas...
-Agora também quero conhecê-la- mamãe pediu
-Deixa eu ser mais amigo dela- sugeri- não quero assustar ela assim.
-Tá bem- papai e mamãe riram juntosDurante a noite, eu não conseguia tirar Ilana da cabeça. Seus olhos me assombravam, assim como as marcas nos seus pulsos, mas também a imagem que conseguir projetar dela feliz me dava um objetivo. Seria tão bom vê-la sorrir, sair com ela, tirar ela dessa maré solidão que à acompanha.
Suas palavras de hoje a tarde trouxeram sua voz para minha cabeça, ela era de fato uma menina inocente que precisava lidar com esse mundo perigoso. Meu desejo de salvá-la aumentava, meu coração parecia não aguentar esperar as horas necessárias para conversar com ela amanhã, minha imagem com rosto bem próximo ao dela surgiu me fazendo rir, a agilidade que tive para conseguir pegar a lâmina de seu bolso me surpreendeu, dei um grande passo hoje, e estou curioso para saber o quanto vou andar.O dia chegou rápido, e eu fui para a escola depois de um farto interrogatório no café feito por meus pais. Eles queriam saber mais sobre Ilana mas eu não tinha muitas respostas.
A escola não havia mudado de ontem para hoje, e ali estavam as mesmas pessoas que tenho que conviver dia após dia.
-Sebastian! -ouvi a voz de BobMe virei vendo ele e Aline com suas expressões nada felizes.
-Que foi?- perguntei
-Ouvi falar que você tá trabalhando naquela clínica -Bob cruzou os braços
-Estou, algum problema?- lancei meu olhar desafiador
-Por que tá andando com os problemáticos agora?- Aline me questionou
-Não existe ninguém mais problemático que você- falei para ela- é um grude. Não pensa em nada além de pegar metade da escola. Vai arrumar o que fazer ao invés de ficar falando dos outros quê são mil vezes mais interessantes que você.Ela deu um passo para trás como se tivesse levado um soco.
Bob me dá um empurrão que me faz cambalear para trás
-qual o seu problema!?- berrou ele
-Vocês que tem um problema- empurrei ele tentando afastá-lo ao máximo de mimEle ia avançar mas Aline o segurou.
-Você é um idiota! -Bob apontou- troca gente normal, por gente que passa o dia querendo se matar.
-Algumas pessoas valem a pena, outras não- joguei a indireta
-Vai se foder! -Bob mandouVirei de costas indo para longe deles. Era frustrante como as pessoas tem a mente tão pequena, como julgam uma dor que desconhecem.
As aulas eram as mesmas, e eu me interessava pela maioria, mas minha cabeça girava com raiva que agora tinha em mim.
Eu não tinha pena daquelas pessoas, mas sabia que podia arranjar um jeito de ajudar elas.
Eu não gostava das palavras duras que eles usavam para descrever essas pessoas, isso me irritava. Tentei ao máximo ser condescende com meus amigos ao longo do tempo, mas agora quê estou lá dentro, tentando ajudar Ilana, não consigo aceitar as palavras que eles usam.Na hora da saída fui chamado na diretoria, eu não sabia exatamente porquê mas sabia que não era nada ruim.
Eu era um ótimo aluno. E meu histórico era só uma pequena prova disso.
Entrei na sala da diretora vendo ela me aguardar
-olá...- me anunciei
-Olá Sebastian, como vai?- ela perguntou
-Estou bem. Fui chamado?
-Oh sim. Eu ganhei duas cartas promocionais para sugerir para dois alunos exemplares da minha escola, para a Universidade de Harvard -ela me deu a carta- você foi aceito.Meu coração pulsou. Harvard?
Abri a carta vendo meu nome convocado ali.
Medicina.
-Isso é incrível- sussurrei
-Sim, eu fiquei muito contente- ela disse
-E a outra carta?
-Ainda não preenchi, ia lhe dar ela para sugerir para alguém que julgue merecer- ela me deu a outra carta em branco
-Ok. Muito obrigado- sorri
-Você tem um mês para confirmar sua matrícula lá- ela avisou
-Claro, não vou esquecer, obrigado- saí da sala totalmente lerdoEu fui aceito em Harvard no curso de medicina?
Isso é incrível!
VOCÊ ESTÁ LENDO
Querida Lâmina. . .
Misterio / Suspenso"Qualquer dor é melhor que a emocional" Consumida pela dor da perda, e da rejeição, Ilana Janlous tenta lutar contra o destino para acabar com sua vida, entrando assim em uma intensa depressão. Os tios já não aguentam vê-la assim, com medo da influê...