...
- Ele tinha as asas cortadas, não é? – Jolon perguntou, enquanto desciam uma escadaria. Zepon apoiava-se no corrimão, descendo com dificuldade. Seu corpo inteiro ainda doía.
- Sim, só conseguia planar por pouco tempo. Agora chega, imperador. Eu preciso que explique o que está acontecendo. – Zepon parou no fim das escadas.
O imperador lentamente caminhou até um portão, abrindo-o.
- Veja por si só.
Zepon entrou no salão, e mais uma vez perdeu as palavras quando viu seis enormes pilares marcados por cortes de garras enormes, cortes esses que se espalhavam por todo o ambiente incinerado. E no meio, várias correntes enormes estavam jogadas no chão estranhamente quente.
- Eu mesmo cortei as asas dele para que não pudesse fugir.
- Você... Você manteve um dragão? ELES DEVIAM ESTAR MORTOS! POR QUE VOCÊ TEM UM DRAGÃO?
- Acalme-se. – O imperador entrou na sala, parando ao lado de Zepon. Era quatro palmos mais alto que ele, e carregava em cada ombro uma ombreira feita de presas de lobos. Sua armadura era negra, não havia um só pedaço de pele visível além de seu rosto. Seu manto de zal era negro e longo como uma cauda.
- TODOS MORRERAM! – Zepon acertou um soco no rosto de Jolon – O DRAGÃO QUE VOCÊ CRIOU FEZ ISSO! – Zepon empurrou o imperador em direção a um pilar, fazendo-o chocar-se de costas – E POR QUE ELE ESTAVA COM OS HUMANOS?
Correu em direção a Jolon, mas o orc se moveu tão rápido que Zepon mal foi capaz de acompanhar com os olhos quando ele aproveitou o impulso do pilar para acertar um chute no meio do peito do arqueiro, que foi atirado alguns metros para trás e caiu no chão quente, escorregando. Sentiu uma dor excruciante no braço quando ele bateu no chão.
- Acha que se eu pudesse voltar no tempo e impedir que eu trouxesse o ovo, eu não faria? EU NÃO SABIA! Eu era jovem. O meu clã significa "domador de feras", zal'Zepon. Tente imaginar a honra que eu traria para meu clã. – O imperador caminhou até o orc caído – Eu encontrei o ovo nas ruínas do império do sul, trouxe-o para cá, e o dragão veio atrás da cria dele. Mantive-o em segredo aqui, para que quando estivesse pronto, o império inteiro pudesse contemplar a maior glória do meu clã. Domar o inferno. – ajoelhou-se sobre o peito de Zepon, acertando um soco em seu rosto – Mas ele nunca obedecia. Cheguei a cortar as asas – acertou outro soco – Mas eu não desisti, e estava quase lá. Faltava pouco para montá-lo, zal'Zepon – levantou-se, dando as costas para o orc caído.
- E olhe só o que você causou – Zepon sussurrou, cuspindo sangue.
- NÃO FOI ISSO QUE EU PLANEJEI! – o imperador virou-se, finalmente perdendo a compostura – Levei-o em um navio até o sul do continente, conseguimos mantê-lo dopado até lá, e eu iria montá-lo na guerra em que aqueles malditos elfos surgiram e estragaram tudo. Assim que o navio atracou, os elfos chegaram à costa e atacaram o navio. Eu escapei por pouco, mas o dragão foi tomado. Devem ter entregado aos humanos e eles usaram bruxaria para controla-lo. Mas não funcionou, não foi?
- Não – Zepon se pôs de joelhos, tentando levantar – Ele matou a todos.
...
Quando acordou, já era noite.
Levantou-se com dificuldade, seu corpo queimava em dor. A armadura havia fundido em vários pontos, e não conseguia se mexer propriamente. Notou pela dormência que o braço direito havia quebrado, e apenas com a mão esquerda, tirou as partes da armadura que conseguiu. A carne embaixo estava vermelha e ensanguentada.
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O Fosso
FantastikEssa é uma série de contos sobre como qualquer um se torna um herói. Sobre como heróis se tornam lendas. E como, com o tempo, seus feitos se tornam em vão.