IV

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Johan e Rose seguiram da High Sreet para o metrô. Eles corriam freneticamente, esbarrando nas pessoas e ofegantes.
Pegaram um ônibus e desceram na Tong Le. Para o infortúnio dos dois, havia uma manifestação de Anarquistas ali, mas eles pareciam não querer machucar ninguém. Johan e Rose caminhavam despercebidos em direção contrária a pequena multidão rebelde, que gritavam aos pulmões pedindo ordem e sangue humano. Erguiam tochas com altos gritos retumbantes, alforrando as suas bandeiras e alguns mascarados.

Johan esbarra fortemente em alguém, ele cai no chão pedindo desculpas sem olhar para cima e a pessoa resmunga algo em sua direção mas contínua caminhando lentamente. Johan se inclina para ver em quem esbarrara e vê um garoto de altura mediana com calças pretas e com a bandeira estampada em suas costas e surpreendeu-se por reconhecer aquele corte de cabelo exótico. Sem hesitar, puxou a bandeira de suas costas e o garoto se vira com a mão fechada para poder dar-lhe um soco mas para de repente.

– Meyson? – diz Johan surpreso.

Meyson estava parado a sua frente. Seus olhos arregalados afirmavam o quanto ele estava surpreso em vê-lo ali.

Como ele me encontrara aqui? –perguntou-se Meyson a si mesmo

Ele queria perguntar se Johan estava bem, mas só conseguiu dizer...

– O que diabos você faz aqui?

– Um "oi' seria mais educado, e estou bem também. Mas, respondendo a sua pergunta, estou indo para o metrô – Johan evitava olhar em seus olhos.

– Para o metrô? Por que? – Meyson quase gritava.

– Vou sair de Camden Twon.

– Para onde pensa que vai pirralho?

– Eu já disse. Vou sair de Camden Twon, mais precisamente da Inglaterra, e a Rose vai comigo.

Meyson ainda não havia percebido a garota de cabelos longos e com um moletom felino ao lado de Johan.
Ele observou os olhos de Meyson percorrerem o corpo de Rose da cabeça aos pés.

– Eu estou indo! – disse Johan pegando na mão de Rose e virando-se para o metrô.

Será mesmo que ele teria essa coragem? De deixar o único membro de sua família para trás? De deixar seu irmão morrer?
Sua vontade era voltar e puxá-lo mas Meyson já tinha idade o bastante para saber o que era errado. Johan se surpreendeu por ser tão frio.
Será que ele era sempre assim com as pessoas?
Sentiu um leve desnorteamento. Mas estava disposto à fazer o que fosse preciso para sair dali.

Seguiram caminhando em direção ao metrô. Ao descerem as escadas rolantes, chegaram à grande estação vazia e fantasmagórica. As luzes incandescentes piscavam e tremeluziam e insetos voavam ao redor das mesmas, tornando o ambiente mais sombrio. Sentaram-se em um banco de mármore com propagandas políticas e Rose pode ouvir o grande suspiro de Johan, que parecia ser o único som ali em baixo. Ele encosta sua cabeça no assento enquanto os olhos febris de Rose percorrem toda a estação. Ela avista um grande A pixado em uma das paredes com propagandas e seus olhos pousam ali, se deixou levar pelos seus pensamentos confusos de uma mente conturbada: Ela tinha muito no que pensar.

Seu pai estava em algum lugar lá fora. Talvez em perigo. Ele era o único membro de sua família que morava na Inglaterra, não havia com quem ela ficar agora. Não havia como voltar para casa. O próximo metrô que viria, eles iriam para outro país, e isso a assustava, e muito. Rose sabia da situação na Inglaterra mas sentia medo de sair dali. Agora sentia ainda mais sem seu pai.
Sentiu algo descer pelo seu rosto, e levou os dedos até seus olhos que ardiam. Não queria chorar na frente de Johan, não queria mostrar que estava com medo.
Lembrou-se das palavras que seu pai dissera assim que sua mãe acabara de morrer, ela era apenas uma garotinha quando ele disse: "A garota que chora perde a coragem, Então seja corajosa filha." Rose fechou seus olhos tentando afastar aqueles pensamentos enquanto suas lágrimas desciam em seu rosto.

Ouviram um grande barulho vindo da entrada e logo avistaram a grande estrutura parando bruscamente. Rose terminou de limpar seus olhos rapidamente e levantaram-se para entrarem no trem, que abriu as portas lentamente, mostrando um vagão totalmente vazio e silencioso.
Entraram desconfiados mas dispostos, Rose sentou-se, mas Johan continuava de pé.
Ouviram passos não muito longe dali, que iam ecoando e descendo apressadamente, o barulho vinha na direção da escada rolante, e avistaram Meyson. Ele corria em direção ao trem, antes que as portas pudessem ser fechadas ele pula de raspão por elas, entrando meio desajeitado no vagão.

– O que faz aqui? – Johan estava sério.

– Eu não podia deixar meu irmão pirralho sair sem um adulto – Meyson sorria sarcasticamente.

Johan tinha dezessete anos, idade o suficiente para se cuidar sozinho.
Mas o que Meyson pretendia fazer? Eles sentiram o leve impulso da locomotiva começando a andar. Johan observou Meyson por um momento, tentando descobrir o que se passava sobre sua mente maníaca. Rose desviou o olhar.

– Nossa casa explodiu – as palavras saíram da boca de Johan secas, com muita dificuldade, parecia que sua língua havia se transformado em uma lixa.

Meyson pareceu estático. Seus olhos penetravam os dele.

– Como assim? – seu tom havia mudado.

– Você deixou nossa mãe sozinha, e agora ela está morta, por sua causa! – Johan gritava.

– O que? Foi você quem a deixou sozinha! Não venha colocar a culpa em mim pirralho.

– Escuta! – disse Johan se aproximando de Meyson. Ele não era mais alto que Johan – Enquanto você saia para manifestações desnecessárias, eu ficava sozinho em casa cuidando dela, você nunca ligou para ela. Nunca se importou com nós. Eu só sai por um momento.

As luzes se apagaram e Meyson o pegou pela barra da camiseta e o jogou contra o chão do trem que tremeu com o peso do corpo de Johan. Ele tentava tira-lo de cima dele enquanto Rose gritava histericamente. Os braços de Johan seguravam os de Meyson, para que ele não fosse atingido. Myeson levanta Johan e os dois caem novamente, desta vez, amaçando o chão de aço. De repente, as luzes piscam e se apagam novamente. Os dois continuavam no chão lutando, Rose podia ouvir socos e estrondos.
As luzes voltam a acenderem-se e os dois se afastam rapidamente. Meyson limpa sua boca que sangrava e o corte de Johan, no supercílio, havia sido aberto ainda mais.

– Eu estou bem – disse Johan a Rose.

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