VII

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Johan e Meyson correram em direção à cabine, de onde viera a explosão. Logo avistaram Rose, estirada no chão. Uma grande placa de metal, pendia-se em cima dela. Johan abaixou-se e tirou o objeto pesado de cima de suas costas. Ela estava desacordada. Os olhos de Johan deslizaram por todo o seu corpo, em busca de algum ferimento. Haviam alguns nos membros e pequenos cortes e ralados em seu rosto mas nada grave, apenas ferimentos superficiais. Por um momento Johan tira os olhos de Rose e procura por Myeson, que estava no final do vagão, imóvel, parecia estar em choque.

— Meyson? — chamou Johan mas ele continuava petrificado.

Johan o chama mais uma vez, dessa vez um pouco mais alto e ele se vira para olha-lo. Ele inclina sua mão em sinal para que seu irmão o amparasse.

— O que faremos agora? — a voz de Johan modulava.

Meyson olha para o corpo desacordado de Rose, depois para Johan abaixado ao seu lado. Ele parecia perdido em seus pensamentos. Meyson olha novamente para o grande buraco que havia feito pela explosão, por onde faíscas jorravam dos fios desencapados e barulhos das correntes elétricas atravessam o vão da estrutura. A explosão fora grande. Tudo estava destruído. Meyson sentiu uma sensação estranha percorrer seu corpo. Ele se volta para Johan e Rose.

—Eu não sei — disse finalmente.

Johan abaixa seu olhar. Sentiu uma pontada de desespero ao olhar o estrago feito pela bomba. Ele ergueu Rose ainda desmaiada e seguiu para a grande abertura.

— O que vai fazer? — perguntou Meyson alcançando-o.

— Vou continuar — disse Johan caminhando com Rose em seus braços sem olha-lo.

Meyson parou por um instante, enquanto Johan se afastava aos poucos com Rose. Ele o observou descer para os trilhos e caminhar adiante.
Por que ele estava fazendo aquilo? Por que se importava tanto?
Meyson olhou ao redor do vagão destruído e sentiu-se culpado. A bomba estava em sua mochila e Johan só estava tentando ajuda-los mas, ele estragara tudo outra vez. Quis chorar ali. Num flashback nostálgico, tudo passou rapidamente por sua mente, sua mãe mordendo-os, seu pai saindo de casa, as manifestações, o trem. Era tudo sua culpa. Ele levanta a manga de sua camisa na parte do pulso que cobria todo o seu braço, havia uma marca, uma mordida. Meyson esfrega os olhos borrando-os de preto. Ele levanta novamente seu olhar para Johan, ele estava caminhando lentamente, se afastando cada vez mais dentre a escuridão e quase se esqueceu de que caminhariam até chegarem na Bélgica. Ao imaginar isso, seus pés doeram.
Meyson respirou fundo, pegou uma lanterna de emergência e desceu do trem para os trilhos molhados.


Eles haviam caminhado durante quase duas horas. Johan estava cansado. Seus braços estavam dormentes e doloridos e Rose parecia estar dormindo sobre eles. Meyson oferecera-se para ajuda-lo mas Johan disse que estava bem.

—Vamos parar um pouco — disse Johan abaixando-se para deitar Rose.

— Você está bem?

— Sim — disse Johan em um grande suspiro. Ele estava exausto — Só preciso descansar um pouco.

Sentaram-se e encostaram suas costas na parede úmida. Johan logo relaxou e fechou os olhos.

— Me desculpe — disse Meyson com um peso na voz.

Johan abre os olhos de relance com a cabeça ainda encostada.
Estava cansado demais para falar mas se esforçou mesmo assim.

— Onde você conseguiu a arma? — disse Johan lentamente.

— Um amigo me vendeu, foi barato.

— Eu não sabia que haviam bombas na mochila.

Meyson não disse nada. Um movimento vindo de Rose chamou a atenção dos dois. Ela estava finalmente acordando, se contorceu no chão com desconforto. Ela tentou levantar-se ainda desnorteada e Johan ajudou a senta-la

— O que aconteceu? — disse com as mãos na cabeça.

— Haviam bombas na mochila, por pouco você também não explodiu junto — disse Meyson.

Ela segurava sua perna com uma careta, estava com dor, ela deslizou seus dedos até seu tornozelo, levantou um pouco da calça e estava roxo e inchado. Ela gemeu de dor. Johan ficou surpreso ao ver o ferimento. Parecia um luxamento grave, o que dificultaria ainda mais sua caminhada. Johan se levantou a procura de alguma coisa. Meyson e Rose o observavam com estranheza e certa curiosidade. Ele vasculhou os cantos e até mesmo em baixo dos trilhos. Johan desliza suas mãos para baixo dos mesmo e de lá tira um pedaço de metal, era pequeno. Provavelmente parte da lataria de um trem antigo. Ele se volta para Rose e Meyson.

— Preciso de um pedaço de sua camiseta, sua manga é grande o bastante — disse Johan a Meyson.

— Por que?

— Irei fazer uma tala com isso, assim o tornozelo dela não irá se mover, adiantando a recuperação.

Meyson assentiu e pegou de seu bolso um soco inglês, ele pressionou-o de certa forma em que uma faca saiu de sua traseira, surpreendendo Johan que abriu um sorriso de lado. Meyson cortou uma de suas mangas acima do ombro e lhe deu o pedaço de pano negro.

Johan posicionou o ferro contra seu tornozelo de forma em que ficasse confortável para Rose. Passou a manga por sua pele sensível e envolveu-o quase por completo.

— Está bom, obrigada mesmo — disse Rose olhando fundo em seus olhos.

Por um momento Johan não conseguiu disfarçar o interesse de continuar olhando para a imensidão azul em que eram os olhos de Rose.

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