XIV

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Faltava menos de uma hora para o sol nascer. Johan olhou para o painel, o marcador de gasolina acendia. Merda. Olhou para frente e viu a linha do horizonte solar se formando, o céu de azul escuro, começava a abrir num rosa. Ele não tirou os olhos da direção mas pode sentir o olhar de Rose fitando-o. Eles já estavam perto. O ar quente havia mudado drasticamente para uma brisa fria com cheiro de enxofre.

***

Chegaram a uma pequena cidade, tudo parecia abandonado, carros virados, escombros por toda parte e a vegetação avançava por casas e prédios. Pararam em frente a um pequeno prédio velho, a rua estava deserta. Johan apressou-se em sair do carro. O sol começava a aparecer no leste.

– Pega a Irina, eu cuido do Meyson – disse Johan rapidamente pegando seu irmão no colo.

Na porta principal do pequeno prédio residencial, Johan deu um chute que estourou a maçaneta e balançou os pinos. Ele entrou e então colocou Meyson no chão, logo depois Rose chegou com Irina.

– Não esquecemos de nada? – perguntou Rose olhando para a porta aberta.

A cadeira de rodas... Pensou Johan consigo mesmo, foi até a porta e antes que pudesse sair de novo o sol estourou na rua e queimou seu braço. Um gemido de dor e um rápido movimento foram o suficiente para Johan lembrar-se de que ainda não era um "humano". Fechou a porta e sentiu a escuridão novamente. Eles respiraram fundo e sentiram o cheiro de mofo e poeira envolvendo o ar pesado do cômodo, acenderam a luz florescente de uma lâmpada de tubo que piscava incessantemente.
O hall de entrada era pequeno, havia uma arara para pôr casacos e um portal quadrado que levava a uma pequena saleta com um grande lustre antigo, um sofá de couro verde, uma estante com uma TV de tubo pequena e uma mesinha de centro preenchendo o local devastado.
Johan entrou o colocou Meyson deitado no sofá. Rose amarrou Irina no aquecedor perto da janela que estava tapada por madeiras e fitas, impedindo a passagem do sol.

– Eu vou investigar o prédio – disse Johan a Rose.

– Eu vou com você, ela está amarrada, está tudo bem – as palavras saíram da boca de Rose com facilidade, por alguns segundos Johan temeu aquilo.

– Vamos – disse ele subindo as escadas.

A cada andar haviam duas portas, eles vasculharam todos os apartamentos e todos estavam vazios, empoeirados e abandonados, em alguns o cheiro nauseabundo de comida estragada enchia o ar pesado, pratos ainda na mesa preparados, objetos pessoais intactos, tudo parecia ter sido largado às pressas.
Rose conseguiu achar alguns objetos que consideravam úteis: uma lanterna, uma faca de cozinha, uma bússola e pasta de amendoim. Colocaram tudo em uma caixa de papelão e desceram.

– Vamos dormir todos juntos no hall até cair a noite, depois sairei para procurar gasolina e volto pronto para continuarmos – a voz de Johan era rouca e cansada, ele estava exausto.

   ***

Deitado no sofá, ele não conseguia dormir, mesmo muito cansado a tensão de ser o mais responsável por tudo ali, sobrecarregava-o. Seus olhos vagavam pelo teto branco descascando à procura de respostas para o apocalipse. Ele olhou em volta, Irina estava no chão ainda amarrada pelos pés, mas descansava sobre os braços com os olhos fechados, Rose dormia em um lençol branco e seus cabelos cinzentos cobriam seu rosto, Meyson mal tinha forças para respirar novamente. Eles precisavam se apressar, sem os medicamentos certos, Meyson poderia morrer, ele sentiu uma pontada de náusea, toda vez que lembrava da palavra "morte", automaticamente seus pensamentos se elevavam a Dênis, jogado entre um emaranhado de corpos sujos e mutilados, se concentra-se bem ainda podia sentir o cheiro metálico do sangue em suas mãos.
Johan era tão jovem mas já presenciara coisas demais para si mesmo.
Fechou os olhos e tentou focar no mapa, antes da ansiedade lhe tomar, um velho mapa amarelado da Bélgica, estava em cima de uma mesa de pedra no escritório de Mathew, um dos responsáveis pelo resgate. Johan havia entrado sorrateiramente naquela manhã e pegado de sua mesa assim que Mathew saira com dois homens mais velhos, ele observou todo o mapa até encontrar um X marcado em algum lugar em Bruxelas. Ele virou a folha e atrás as palavras quase saltavam em alto relevo:
laboratório de Bruxelas Suprimentos.
Seus olhos brilharam e Johan partiu no dia seguinte.

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⏰ Última atualização: Sep 12, 2021 ⏰

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