IX

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O vento gélido marinho, encheu as narinas de Johan, ele até pode sentir pequenas gotas salgadas vindo junto à forte ventania.

– Precisamos correr! – disse Johan alto e pegando Rose em seu colo.

Eles correram o mais rápido possível. Mas o tempo parecia passar em câmera lenta. Rose nos braços de Johan olha para trás e vê a grande onda formada, chegando rapidamente em direção a eles. Os gritos de Johan e Meyson eram abafados pelo barulho ensurdecedor da água, que se juntava aos destroços de construção e do trem.

Nas profundas lembravas da mente atribulada de Rose, passou-se um flashback.
Ela lembrou-se daquele verão. O verão em que fora registrado em uma foto que ficava em cima da lareira. Ela, sua mãe, seu pai e seu cachorro, Georg. O melhor verão de todos. O ultimo verão de sua mãe. Rose lembrou-se do desespero de seu pai ao chegar em casa, manchado de um sangue bastardo, no dia da morte de sua mãe, ele estava totalmente diferente. Seus olhos assustados, estavam brancos, e seus cabelos também, ela era apenas uma garotinha. Ele pegou Rose nos braços e disse que tudo passaria. Cobriu os olhos dela com uma venda e sentiu uma forte mordida em sua coxa esquerda. Ela berrou como um cordeiro no leito de sua morte. Perdeu as forças e desmaiou.

Rose olhou novamente para Johan carregando-a. Ele era bonito, alto e esguio, o contorno de seu rosto era levemente quadrado nos maxilares salientes, seu nariz era quase perfeito, como se tivesse passado por um procedimento cirúrgico. Rose sentia-se segura com ele. Talvez até sentisse algo além da amizade. Logo depois ela virou-se para a saída. Eles não iriam conseguir. Retornou seu olhar novamente para a onda. Não havia nada a se fazer, apenas esperar pela morte. Era eminente.

Johan, ainda correndo, deu uma olhada para trás e se assustou com a onda monstruosamente grande. Ele se volta para frente e fecha os olhos com força.
Todos sentiram a força da água arrastar brutalmente seus corpos. Em baixo d'água o desespero reinava antes de tudo se escurecer. Foram apenas alguns minutos, mas que pareciam anos até a água cessar e cuspir violentamente seus corpos para fora do túnel.
Rose rolou pelos trilhos e parou em baixo de um banco de mármore que ficava ao lado de uma estação abandonada. O corpo de Meyson estava estirado no chão com o rosto virado para a terra molhada ao sol, um metro de distância dos trilhos. E Johan, ainda estava no túnel. Seu corpo fora jogado para um pequeno vão, antes de se acabar a pedra. Ao lado dele havia uma porta, provavelmente para reparos técnicos e mecânicos para o trem.
Johan cuspiu a água, ainda engasgando, havia algo em sua garganta, ele sentia rasgar. Colou o dedo na glote para forçar o vômito, e cuspiu uma pedra de tamanho mediano, havia sangue e a água tinha uma cor negra. Johan levou sua mão vagarosamente por cima da garganta, e sentiu o gosto de sangue salgado descer até seu exofago. Ele fez uma careta de desgosto. Johan observou todo o seu corpo. Haviam cortes profundos e grandes hematomas roxos. Sua pena esquerda estava virada do lado contrário, contorcida, quebrada. Ele encostou de leve uma de suas mãos na mesma e sentiu uma dor latente. Recostou a cabeça no chão e viu o sol brilhar fortemente túnel a fora. Ele só estava a quase dois metros de distância de alcançar o seu sonho, mas o sol iria machuca-lo, logo lembrou-se de Rose e Meyson, quase havia se esquecido deles. Primeiro seus olhos vagaram pelo túnel e logo depois para fora. Ele pode ver Rose, ela estava debaixo de um banco de mármore, inconsciente, o sol não atingia seu corpo, relaxou um pouco ao vê-la. Johan tentou levantar-se mas se esqueceu de sua perna. Ele sente novamente a forte dor descer de sua coluna até as penas, adormecendo todas as suas vértebras do tronco para baixo e quase desmaia. Ele pensou. Procurou algo em que pudesse se apoiar. Nada. Foi se arrastando, mesmo com muita dor, até a saída. Johan não conseguia aceitar seu estado moribundo e queria salvar Rose e seu irmão. Mas seu corpo não correspondia aos impulsos. Ele decidiu abaixar a cabeça e descansar um pouco pois estava muito cansado e seu corpo debilitado demais. Fechou os olhos e tudo escureceu.

Johan ouviu vozes, mas não reconheceu nenhuma delas, não eram de Rose e nem de Meyson. Ele inclina sua cabeça tentando ver quem era, mas só conseguira ver pernas. Haviam três pessoas, e andavam em sua direção.

– Droga! Eu não vou fazer isso! – disse uma receosa voz masculina.

– Por favor Peter... Harry? – outra voz melódica e feminina, surgiu entre os sussurros.

– Tudo bem Irina, mas só dessa vez – disse a outra voz rouca e cansada masculina. Ele parecia ser mais velho.

Eles caminharam na direção de Johan estirado e molhado no chão que só vira vultos, sua mente ainda estava muito confusa. Estava anoitecendo, e o céu estava rosa. Um vento entrou pela abertura do túnel e Johan sentiu o ar seco e ardido. Sentiu também quando alguém colocou as mão em sua perna debilitada.

– No três Peter! – disse a voz rouca – Um, dois...

Johan ouviu um estalo vindo de seu joelho e desmaiou.

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