XIII

94 5 4
                                    


Johan se apressa em sair do quarto e se depara com Rose ao atravessar o portal, seus olhares se encontram e por alguns segundos ele quase se perde na imensidão de seus olhos penetrantes, vívidos, um sorriso no canto de sua boca se forma, afirmando maliciosamente a façanha combinada.

Ao sair do quarto de Meyson, Johan fora visitar Rose, que milagrosamente havia se recuperado em uma velocidade sobre-humana. Disse-lhe o plano que havia em mente e que partiriam na noite seguinte, ela concordara, pois com Irina, teriam mais vantagens e uma chance de conseguirem sua vida  "normal" de volta.

À noite desértica era seca e gélida, no céu límpido a luz do luar era quase ofuscante, tudo estava em perfeita harmonia para que o plano saísse como planejado, esta era a hora, ele aponta para o quarto de Meyson e ela segue como o combinado. Johan segue em outra direção, na direção do quarto de Irina.
As luzes incandescentes das velas quentes, de algum modo, lembraram a Johan uma fogueira que fizeram num verão há seis anos atrás em um camping em Londres, às gargalhadas de sua mãe ecoavam em sua mente abstinente de seu aconchego, sentiu-se fabril.
Ele seguiu até o aposento número cinco, onde havia um portal grande, maior que os outros, com uma cortina vermelha bem elaborada, de linho, era ali. Tudo estava estranhamente em silêncio, não havia ninguém pelos corredores. Johan olhou à sua volta e entrou rapidamente. O quarto de Irina era luxuoso se comparados aos outros que pendiam-se na miséria local, muitas almofadas rosas eram espalhadas pelo chão, um grande mosquiteiro branco, envolvia a cama com um colchão que de longe era macio, mas estava vazio. Ele xingou baixinho. Antes que pudesse sair, ouviu algo no corredor. Ele se escondeu atrás de uma cômoda velha e viu Irina entrar molhada. Seus longos cabelos negros gotejavam em sua regata quase transparente sem sutiã. Os olhos de Johan brilharam ao percorrer todo o seu corpo gracioso, ela não deveria ter mais do que seus vinte anos. Irina os secou com uma toalha branca e sentou-se na cama. Parecia cansada. Sorrateiramente, ele saiu de trás da cômoda e antes que pudesse gritar, Johan estava com a mão em sua boca.

– Se tentar alguma coisa, eu te mato – disse-lhe num sussurro em seu ouvido.

Irina gemia. Ele amarrou suas mãos e colocou uma mordaça em sua boca e a levou para fora. Rose estava ao lado do quarto com Meyson em uma cadeira de rodas, ele ainda estava desacordado. Johan colocou Irina em seus ombros e ela quase desabou. Eles seguiram caminhando pelo vão imenso da caverna em silêncio.
Pararam em uma espécie de estacionamento privado. Os carros eram altos e sujos de barro, as grandes rodas dos jeeps ajudariam na fuga, pois eram extremamente eficazes em solos desérticos e acidentados. Johan para em frente à um veículo cinza e tentou abri-lo, sem êxito.

– Eu consigo – disse Rose tirando um grampo de seu cabelo.

Ela colocou o grampo precisamente na fechadura e abriu a porta como mágica, lançou-lhe um pequeno sorriso que retribuiu mostrando os dentes. Ele jogou Irina no banco de trás e Rose colocou Meyson delicadamente deitado, ela sentou no banco da frente ao lado de Johan.
Ele virou as chaves e o motor roncou ecoando pelo estacionamento, Johan olhou nos retrovisores, ninguém. Acelerou até a poeira vermelha subir.

                                ***

Estavam a mais de 100km por hora, seus olhos não saiam dos retrovisores. O Jeep balançava incessantemente pela rodovia acidentada e Rose segurava-se em seu lugar.

– Onde fica esse laboratório? – perguntou Rose quase alto demais

– Em Bruxelas na capital do País, vamos levá-la e ela irá nos curar, o Meyson ficará bem, com certeza eles têm ambulatório.

– Quanto tempo até chegarmos?

– Não sei... Talvez... Dois, ou três dias.

– Três dias? Não temos esse tempo, Meyson não pode ficar sem medicamentos por muito tempo e logo o sol irá nascer.

Johan ficou calado, ele estava preocupado. Sua expressão se tornou tensa e sua boca serrada. Ele acelerou mais, olhou mais uma vez para o retrovisor e viu Irina no banco de trás, ela chorava em silêncio, sua boca amordaçada, estava envolta por um pedaço de roupa suja e suas mãos atrás de suas costas dificultavam seus movimentos. Ele franziu o cenho, será que estava fazendo a coisa certa? Passou-se rapidamente por sua mente.
Olhou para Rose de relance e ela olhava pela janela, o vento quente balançava seus cabelos brancos pelo vidro entre aberto, ela parecia estar pensando em algo profundo. Talvez seu pai, ou talvez em como tudo isso acabaria.

Evite o Escuro Onde histórias criam vida. Descubra agora