VI

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Johan pisca seus olhos lentamente, ainda desnorteado por ter dormido um pouco sobre o assento duro do trem. Ele abre os olhos na esperança de que tudo o que viveram na noite anterior fosse apenas um sonho, mas infelizmente não era. Ainda estavam no mesmo lugar. Johan levanta do banco e senta-se, lamentando por suas costas estarem doloridas. Ele arruma os cabelos, e sente o trem ainda em movimento. Já deveriam estar perto da Bélgica.

Rose se remexe no assento acordando, olhou para Johan de relance ainda deitada e sorriu. Johan retribui o sorriso, mostrando seus dentes perfeitamente brancos. O sorriso dela era ainda mais lindo, enquanto ela se levantava, Johan pode observar todo o seu corpo se contorcer leve e lentamente enquanto ela soltava pequenos gemidos,  por ter dormido por um longo tempo. Rose estica seus braços e suas pernas estalando-os. Ela leva suas mãos aos cabelos brancos e brilhosos e os prende com uma pequena fita que estava em seu braço. Seus olhos fuzilam Meyson dormindo, jogado no assento à alguns metros de distancia deles. Parecia exausto.

– Por quantas horas dormi ? – disse ela à Johan

– Umas quatro horas, talvez.

– Estou com fome – disse Rose levando as mãos à sua barriga.

Johan pegou a mochila de Meyson que estava jogada no chão e a abriu sem pudor, ele olhou para procurar a latinha e viu algo que fez seu corpo estremecer, suas entranhas pareciam ter congelado quando viu uma pistola. Johan engoliu em seco.

Por que Meyson tinha uma arma, e onde ele conseguira ?

Tentou parecer imparcial e manter-se controlado. Ele pegou a latinha, tentando não tocar na arma negra.

– Aqui – disse ele erguendo a latinha à Rose.

Seus olhos brilharam ao ver o objeto. Ela pegou das mãos de Johan, sem dizer uma palavra, abriu e logo levou à boca. Johan pode observar o liquido descendo por sua garganta a baixo. Ele passa sua língua suavemente por seus lábios. Rose termina de beber seu sangue e limpa seus lábios com as costas das mãos.

– Estava melhor do que nunca! – exclamou Rose – Eu não sabia que Meyson tinha. Ele tem mais ?

Rose ia se aproximando de Johan com curiosidade, como uma criança pedindo mais açúcar.

– Não! – disse ele alto e surpreendeu-se por ter dito levando sua voz e talvez meio grosseiro.

– Tudo bem – disse Rose séria e meio sem jeito.

Ele estava segurando a mochila contra seu peito, e quando percebeu o estranho ato de si mesmo, a largou. A mochila caiu de seu colo e ele tapou os ouvidos. Ele pode ouvir o baque no chão, mas nada além.

– Johan ? Você está bem ? – disse Rose olhando estranho para ele.

Ele não disse nada, olhou para a mochila no chão e suspirou de alivio.

– Estou – ele olhava para a mochila com olhos febris e estático.

Meyson se remexe no banco afirmando estar acordando. Johan rapidamente pegou a mochila do chão e a escondeu atrás de suas costas. Rose o observa com desconforto e um pouco de curiosidade.

– Bom dia! – Meyson sorria para eles.

– A Cinderella está de bom humor hoje! – disse Rose sorrindo.

– Nós nos entendemos ontem enquanto você dormia.

Os olhos de Rose se viraram para Johan, que desviou o olhar. Meyson observou a atitude estranha entre eles e se levantou.

– O que está acontecendo? – seu tom havia mudado drasticamente, assim como sua expressão facial.

Os olhos de Meyson percorreram todo o vagão, provavelmente a procura de sua mochila. Ele se virou para Johan e logo depois para Rose.

– Onde está ? – exigia saber onde estava seu objeto. Ele parecia tenso – Johan, me dê.

– Não.

Meyson marchou em direção à ele que se levantou com a mochila nas costas.

– Me dê!

– O que vai fazer com isso ? Onde conseguiu ?

– Não importa. É meu. – disse Meyson puxando a camisa de Johan e jogando-o no chão novamente.

Johan joga a mochila para Rose e grita para que ela corresse para outro vagão. Sem pensar muito, ela corre ainda com os olhos neles ao chão. Meyson ousa a se levantar mas, Johan puxa sua calça e ele cai bruscamente de boca no chão. Ele se vira para Johan e lhe dá três socos em sua costela. Meyson grita para que ele o soltasse. Os dois se levantam com muita dificuldade e com uma freada brusca eles caem novamente. Uma explosão na parte da frente faz todo o trem estremecer. Eles até conseguem sentir o ar quente vindo em direção à cabine.

– Droga – disse Meyson ainda no chão.

– O que foi isso ? – disse Johan olhando para Meyson seriamente.

– A mochila.

Os olhos de Johan se arregalarm.

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