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Prólogo; O baile.Os centímetros a mais que havia ganhado com o salto deixavam-me completamente confiante e segura de mim mesma, embora quase nunca demonstrasse essa fragilidade ela cá estava. O cetim azul balançava de um lado para o outro freneticamente acompanhado o meu caminhar.
O barulho constante do salto no piso de linóleo fazia minha cabeça palpitar de dor, já estava quase na hora do baile e ele ainda não havia dado sinal de sua presença ou mandado uma mensagem dizendo que iria se atrasar. Parecia algo do feitio do Jonathas, mas algo me dizia que isso era bem mais que um simples atraso. Era irreal e doloroso pensar sequer na possibilidade de estar sendo dispensada na noite do baile. Doía. Bem... bastante.
Vi cada cinquenta e nove passar para dois zeros e recomeçarem de novo. Foi assim durante umas três horas. O salto já não estava mais em meu pé e a minha maquiagem estava parcialmente destruída.
Um prato de batatas fritas estava pousado sobre o meu colo enquanto uma serie ridícula passava na televisão. Eu estava a chorar e não sabia bem o porquê.
Papai desceu as escadas devido ao barulho que eu fazia ao soluçar, sem que eu percebesse meu choro havia tomado um rumo grandioso e vergonhoso. Ele ficou parado na escada a me olhar de cima a baixo, dei de ombros como se não estivesse ligando mesmo que meu rosto me denunciasse e continuei a comer as batatas foi só quando ele chegou perto de mim e me abraçou que eu percebi o que realmente estava acontecendo.
Agarrei-me o mais forte que pude em seus braços, deixando de lado aquela minha aparência de forte e superior. Ele sabia que era tudo fachada e eu precisava do abraço dele. Papai afagou meus cabelos já maiores e sussurrou no meu ouvido.
— Tudo há de ficar bem querida. Eu sei disso. — ele se riu um pouco e continuou: — Afinal... Sou seu pai.
Fingi sorri e murmurei deixando que toda a minha dor carregasse a minha voz e a tornasse rouca.
— Ele se atrasou três horas... Como alguém que se atrasa três horas e não manda nem um sinal de fumaça, pombo correio ou sei lá o que? — a amargura era bem visível na minha voz e só apetecia-me socar a cara do infeliz com quem aceitei ir ao baile.
— Ele é um idiota. Disse isso a você.
— Maldita sou eu por não ouvir a voz da razão. Odeio-me. Odeio-o. E principalmente odeio você por ter me deixado ir à festa. — deixei as lagrimas caírem pelas minhas bochechas e molharem a blusa do pijama do meu pai.
— Eu não tenho nada a ver com isso... — ele encarou o vazio e depois começou a gargalhar. — Isso me faz lembrar uma historia.
— Qual? — perguntei secando as lagrimas.
— O dia que conheci sua mãe.
Naquele exato momento a companhia de casa tocou, o som era agradável e quase imperceptível, se não fosse papai me soltando e indo até a porta eu poderia jurar que ela nem havia tocado. De repente um sorriso aflorou em meus lábios, ele, afinal, havia mesmo só se atrasado.
Calcei o salto e arrumei minha maquiagem, tirei todo o rímel borrado deixando meus olhos castanhos extremamente grandes e inchados, vermelhos também. Mas ele poderia não notar. Pus no rosto o melhor sorriso que tinha e fui até a porta. Meus olhos subiram e desceram pela figura que se encontrava parada na minha porta. O sorriso rapidamente sumiu e eu me permiti voltar a chorar.
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