As aulas da parte da manhã já se tinham ido e a maioria dos professores me tinham como uma "cabeça de vento" ou simplesmente a irmã mais nova do Dylan. Eu provavelmente teria mais trabalho em ficar invisível do que pensei.
Deixei meu matérial no armário e peguei o livro de francês junto com o meu caderno, atravessei o corredor principal da escola e fui parar na ala B, não se via muita movimentação por lá, mas a maioria dos alunos que ficaram na escola estavam sentados no gramado, entrei na sala de número 87 e somente havia nela uma garota sentada de costas para a lousa. Dela era possível ouvir algo como um soluçar e meu coração se apertava a cada passo que eu dava em direcção a ela. Ela pareceu perceber a minha presença e se virou rapidamente. Os olhos estavam inchados e totalmente pretos em volta, ela manteve a boca em uma linha fina e alguns segundos antes que eu pudesse lhe perguntar se estava tudo bem ela se levantou.
— Está tudo bem... Não de preocupe, só sente e fique quieta. — aquilo praticamente foi um sussurro, mas tinha tanta firmeza na voz que acabei me sentando por reflexo na cadeira mais próxima ao meu corpo.
— O que houve? Ninguém chora em uma sala isolada quando tudo vai bem. — coloquei minhas coisas sobre a mesa e me ajoelhei ao lado da mesa da garota.
— Meu... Meu... — e a garota caiu no choro novamente como se não houvesse amanhã é o mundo estivesse a cair... Bem talvez o mundo dela estivesse a cair de forma brusca mesmo.
— O seu? Vamos lá... Se você não me contar não vou poder lhe ajudar em nada, e eu quero lhe ajudar. De verdade! — segurei a mão da garota em um gesto de empatia.
— Meu namorado me traiu... Ele... Ele ficou com a minha melhor amiga e eu vi tudo, não foi ninguém que me contou... Eu vi com os meus olhos, mas ainda não acredito. — ela levantou a cabeça e me olhou suplicante por alguma ajuda.
— Fácil! — minha voz vacilou.
— Então me conta.
— Termina com ele. — bati a mão na mesa e ela deu um pulo da cadeira.
— Não... Tudo menos isso. Eu o amo. — ela estava visivelmente chocada.
— Se ele te traiu ele não te ama. Não adianta você dar o seu sangue pra receber água... Vai fazer o que? Traír ele é ficar moralmente errada? — encarei os olhos negros da garota.
— Mas... Eu sei que tem outra saída. — ela baixou a cabeça e parecia reprimir o choro.
— Bem... Se fosse eu terminava.
— Eu sei que ele deve ter uma boa resposta pra isso. Não preciso ser tão extrema e acabar com um relacionamento de anos. Afinal.... Ele me ama. — a voz mesmo embargada exalava determinação. Ela levantou a cabeça e me olhou secando as lágrimas, logo estava com um sorriso de canto a canto e nem sequer parecia ter chorado horrores.
— Bem... Você quem sabe. — voltei a me sentar em uma das cadeiras da frente vendo alguns alunos entrarem na sala e irem direito falar com a garota de pouco.
Pelo modo como todos pareciam gostar e idolatrar a garota presumir que ela fosse popular e mesmo que eu odiá-se pessoas arrogantes como os populares normalmente são eu sentia pena por ela. Provavelmente namorava alguém que também era popular e não ligava muito pra ela. Isso fazia o meu peito doer com algum desconforto.
A professora logo estava dentro da sala e nos comprimentou em Francês. Frazi o cenho e logo levantei a mão para tirar uma duvida sobre a pronúncia da palavra.