Capítulo 4 - O lago

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Acordei de sobressalto. Estava ensopado de suor, olhei ao redor do quarto, em baixo da cama, dentro do armário, lá fora através da janela. " Foi um pesadelo. ", pensei saindo do quarto, " Maldita mente, maldita imaginação! " .

Entrei embaixo do chuveiro. Nem mesmo a água morna que batia em minha pele era capaz de me relaxar. Depois de tomar todos os remédios para a manhã, desci até a cozinha. O cheiro de waffles me fez me sentir um pouco mais confortável. Me sentei em um dos bancos giratórios da bancada e observei minha mãe preparar o café.

- Bom dia! - Ela me entregou um prato com waffles e uma caneca com café.

- Bom dia... - Ela me olhou preocupada.

- O que foi? Teve outro episódio? - Tomei um gole de café.

- Não foi bem um episódio, foi mais um pesadelo. Mas igualmente atormentador. - Ela se sentou em um banco ao meu lado.

- Querido... Queria tanto poder te ajudar. - Ela acariciou meu cabelo, como fazia quando estava doente.

- Mas não pode. - Voltei a me concentrar em meu café.

Melanie chegou na cozinha e se sentou conosco. Seguimos nosso café da manhã normalmente.

- Quer mesmo ir patinar? - Melanie perguntou enquanto me ajudava a lavar a louça.

- Bom, sim. Se não se incomodar.

- Não me incomodo, vai ser legal. - Ela estava mais serena. Era bom ver minha irmã assim, sem aquela melancolia.

Organizamos tudo e nos encaminhamos para o lago, que ficava a poucos quilômetros da casa. Melanie estava falante, ria o tempo todo, andava saltitando pela trilha como uma jovem chapeuzinho vermelho. Sim, estava feliz em vê-lá daquele jeito, desde a morte de nosso pai ela nunca havia esboçado tanta euforia. Mas era... Estranho. Quase como se ela estivesse atuando, como se aquela não fosse a Melanie real. Ignorei esses pensamentos e me concentrei no caminho.

Em vinte minutos chegamos a beira do lago. Ele era grande e extenso, tinha várias árvores e vegetação ao redor. Era lindo no verão, para nadar e pescar. Lindo no outono e na primavera para navegar. Mas principalmente no inverno, o gelo era firme e reto, perfeito para divertida patinação.

Amarrei os patins em Melanie, e ela os meus. Nosso pai havia nos ensinado várias " manobras " por assim dizer no gelo. Eu era de certa forma desastrado, era raro conseguir concretizar com perfeição uma manobra. Já Melanie era magnífica, patinava com agilidade, dava um salto e um giro no ar e caia em pé no gelo, com leveza. Ficamos nos divertindo por um bom tempo, perdi a noção do tempo, apenas percebi já ser tarde avançada quando mamãe e Coraline chegaram. Ela havia embrulhado o almoço em uma cesta, nos sentamos em alguns troncos e comemos, Melanie e Coraline terminaram primeiro e Mel levou Coraline para o gelo, ela nunca havia patinado no lago mas já era quase tão boa quanto eu, com anos de pratica. É, talvez garotas sejam melhores com patins.

Eu e mamãe ficamos conversando, nos lembrando dos velhos tempos, quando papai e ela dançavam juntos no gelo.

Antigamente só de se lembrar de papai ela caía no choro, agora, fazia questão de falar sobre tudo com um sorriso no rosto. De pouco em pouco, estávamos superando. Depois de quase uma hora, organizamos as coisas para voltarmos.

Melanie disse que queria ficar mais um pouco, mamãe e eu concordamos, ela finalmente estava de certa forma feliz, não iriamos impedir isso. Porém, eu ainda sentia aquela estranha sensação. Mamãe e Coraline foram na frente pela trilha, demorei um pouco para tirar meus patins e calçar as botas, e então fui atrás delas. Antes de a trilha mergulhar na floresta e a vista do lago ser bloqueada, olhei por cima do ombro para Melanie.

Ela patinava com animo, mas, ao redor dela parecia haver uma espécie de aura ou sombra negra, pisquei rapidamente e lá estava ela, normalmente, sem nada de estranho. Me fixei a ideia de quê aqueles remédios não estavam fazendo muito efeito e segui pela trilha. E se... Aquilo não fosse apenas minha imaginação?

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