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Logo que o médico examinou Harry, Anne foi para a sala onde ele estava. O belo menino de cabelos cacheados estava deitado na cama com um olhar triste. 

Anne queria lhe perguntar por que se parecia tanto com um alfa quando seu jeito era de um ômega, mas não queria ser indelicada, ainda mais com ele naquela situação. Então tirava suas próprias conclusões com base no que o menino havia dito e no que ela havia observado. Harry poderia vir de uma família composta só de alfas conservadores que não aceitavam um ômega tão delicado como ele. Não queria nem imaginar o que fariam ao saber que ele foi abusado. Ao invés de lhe dar carinho e serem compreensíveis, poderiam muito bem ficarem bravos por ter sido tocado por outro alfa, mesmo sendo da pior maneira possível.

Quando Anne percebeu, o médico estava novamente na sua frente.

— Sra. Cox, a senhora é a mãe do Harry? — perguntou.

— Não, apenas uma amiga.

— Bem, ele não está com ferimentos tão profundos, apenas está um tanto machucado em suas regiões íntimas, mas já prescrevi os devidos medicamentos e cuidados para a situação. Porém, acho melhor ficar o observando de perto, marcar uma consulta com um psiquiatra ou um psicólogo, pois o trauma que ele está sentindo é provavelmente a pior parte do que aconteceu. Vai marcá-lo por muito tempo. 

Anne assentiu. Procuraria ajudar Harry da melhor maneira que conseguisse.

— Obrigada, doutor.

H&L

Harry estava novamente no carro de Anne com a ômega. 

Pelo jeito, o médico disse que não deveria ser algo grave, mas ele podia sentir essa dor — não a física, porque havia tomado alguns remédios — mas a emocional. Estava quebrado por dentro.

Anne era uma ômega maravilhosa, se preocupou com ele sem ao menos conhecê-lo. Gostaria que sua mãe fosse assim, mas esta o odiava por ser um ômega.

Por que foi nascer ômega? Por que tinha que sofrer quase todo mês, amarrado em uma cama, passando dor por quase uma semana, como um castigo por ter nascido assim? Nunca quis ser um alfa, só queria poder ser do jeito que era, fazer o que o deixava confortável, usar o que o agradava. Mas havia esses momentos em que pensava que poderia ser tudo mais simples se fosse um alfa. Como quando aqueles alfas o jogaram no chão. Naquele momento Harry desejou poder ter nascido um alfa.

O carro parou no sinal vermelho e Anne o olhou com espanto, preocupação em seu olhar. E só nesse momento Harry notou que estava chorando de novo.

— Querido, você está bem? Está com dor? Quer voltar ao hospital? — perguntou, tão preocupada que o fez chorar ainda mais.

Era tão bom ter alguém se preocupando com ele. Alguém que não fosse Gemma, a única razão por ainda estar vivo.

— Não, está tudo bem. Só estou cansado — mentiu, procurando controlar o choro. Não queria perturbar ainda mais a pobre mulher que já fizera tanto por si.

— Nós já estamos chegando, tudo bem? — falou sorrindo e levantou o rosto do ômega limpando as lágrimas que molhavam suas bochechas.

Ela olhou pra frente e voltou a dirigir, logo parando na frente de um prédio que Harry reconheceu como a floricultura.

— Se quiser pode ficar comigo hoje. Já é tarde, amanhã você vai estar melhor para falar com seus pais — falou.

Harry assentiu com a cabeça, concordando. Provavelmente seus pais ficariam ainda mais bravos consigo, mas estava cansado e Anne seria a melhor companhia no momento.

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