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Já havia se passado quase dois meses desde aquilo. O pior mês da vida de Harry. Tirando o fato de que se sentia realmente mal por tudo o que aconteceu, ainda foi um mês em que ficou muito doente. Passou as últimas semanas passando mal, com enjoos, tonturas, um sono fora do comum; não sabia o que havia de errado consigo e estava tão assustado. O mais estranho era que já era para o seu cio ter acontecido - apesar de ser meio descontrolado por conta dos hormônios que tomava, alguns durando somente uns dois dias, outros durando uma semana, às vezes vindo antes, outras demorando mais de um mês, mas nunca chegando a dois meses. Estava atrasado e isso nunca aconteceu antes. No fundo de sua mente, ele tinha uma noção do que poderia ser aquilo, mas procurava não pensar, porque se não surtaria.

Gemma havia ido na farmácia, ela dizia que precisava comprar uma coisa e agora estava de volta com uma sacolinha nas mãos.

— Pronto, agora você só tem que fazer xixi nisso aqui.

Ela estendeu para Harry um objeto e no mesmo momento ele reconheceu o que era aquilo. Um teste de gravidez.

Balançou sua cabeça. Não podia estar grávido. Já sentiu o coração acelerar e as mãos começarem a suar, em um claro sinal de ansiedade.

— Vamos lá, Hazz, é só fazer o teste. Vai ficar tudo bem.

Respirou fundo. Não tinha outra opção.

Pegou o teste e foi ao banheiro. Fez o que tinha que ser feito e logo voltou para o quarto com o objeto em mãos. Tinha que esperar alguns minutos pra ter o resultado.

Então Gemma pegou o teste em sua mão e arregalou os olhos ao que viu o resultado.

— O que foi, Gemma? Me diz.

Ela o olhou com os olhos arregalados, seu rosto pálido e a boca semi-aberta em choque.

— Você está grávido.

Estas três palavrinhas deram um choque tão grande em Harry que ele caiu sentado na cama.

Não podia ser. Seus pais iriam o matar, com certeza. Se seu pai quase o bateu ao pensar que havia ficado com aqueles alfas, o que faria se descobrisse que ele estava grávido?

Começou a chorar desesperado e Gemma saiu de seu estado de choque, indo em sua direção, o abraçando.

— Vai ficar tudo bem, Hazza.

Harry acenou com a cabeça, negando.

— O que eu faço a-agora?

Gemma não soube o que responder e Harry passou o restante do dia chorando em seus braços. Sua cabeça estava uma completa confusão, assim como seu coração; tudo o que conseguia fazer era chorar.

H&L

A noite naquele mesmo dia, Harry procurou se acalmar o máximo que pôde e desceu para o jantar. Ainda não sabia como se sentir ao saber que havia uma vida crescendo dentro de si. Sempre sonhou em ter crianças, mas não naquelas situações. Se lembrar do que causou aquela gravidez também não ajudava em nada. No entanto, não conseguia se imaginar tirando aquele pequeno ser de si. Tudo estava tão confuso e Harry não sabia o que fazer.

Estavam comendo em silêncio, como sempre faziam. Às vezes John falava de alguma coisa que aconteceu em seu trabalho, sempre reclamando, mas já estavam acostumados então não diziam nada.

Mas nesse jantar ele resolveu opinar sobre algo que fez Harry petrificar em seu lugar.

— Sabe o que tenho estranhado, Harry? Já faz um bom tempo que não vejo você tendo aqueles cios, tendo que ser amarrado. Talvez quase dois meses? Isso é realmente estranho, considerando que ômegas geralmente passam por isso todo mês. Você não acha? — Ele olhou para Harry com seus olhos sérios.

O ômega engoliu em seco e permaneceu em silêncio. Suas mãos começaram a tremer e seu corpo a ter calafrios, um claro sinal da ansiedade chegando. Gemma nem estava em casa aquela noite para ficar do seu lado.

— Nós estávamos conversando — continuou, como se estivesse falando sobre o tempo, ao mesmo tempo em que cortava um pedaço de carne em seu prato. — Eu e sua mãe. E estávamos pensando no porquê não precisamos te amarrar esse mês. Pensamos que você poderia estar com algum problema, mas então eu me lembrei, assim, por acaso, daquilo que aconteceu. Daquele dia que você chegou com vários cheiros diferentes de alfas, o dia em que você nem dormiu em casa, porque estava provavelmente dando a bunda por aí. E então você não passa por um cio e fica passando mal por praticamente um mês. Tudo isso me fez pensar em qual a possibilidade de você estar, não sei, grávido?

Ele olhou fundo nos olhos de Harry e este podia sentir o medo crescendo em si.

— E sabe o que é mais estranho nisso tudo? — continuou, deixando os talheres de lado e pegando algo dentro de um bolso de sua blusa. Oh não. — Nós achamos esse teste jogado no lixo do banheiro, nem um pouco discreto por sinal, e o mais interessante é que ele está positivo.

Harry já estava chorando e agora John o olhava com raiva.

— Eu quero que você tire essa aberração de você. — Ele estendeu alguns comprimidos na direção do outro que balançou sua cabeça, implorando para que ele não fizesse isso. — Eu não quero saber, caralho, você vai fazer isso por bem ou por mal.

Ele segurou seu braço, o puxando para cima. 

Harry estava tão desesperado, mas não podia fazer nada. John era muito mais forte que ele, mesmo que tomasse hormônios.

— Por favor, não faz isso, eu te imploro, por favor. — Harry implorava ao que ele o jogou para dentro do banheiro. Apesar de toda a confusão em sua mente, não queria perder o bebê assim. Queria um tempo para pensar no melhor que poderia ser feito, não queria ser forçado a tirar somente porque seu pai o obrigava.

— Eu não me importo, Harry. Essa coisa nem era pra estar dentro de você, então tome essas pílulas e se livre dessa aberração.

Harry chorava desesperado, mas não pôde fazer nada ao que ele abriu sua boca com força e empurrou as pílulas pela sua garganta. Ele tentou vomitar pra ver se conseguia pôr elas pra fora, mas não conseguiu e o desespero o tomou. Não queria perder o bebê assim, sem ao menos ter assimilado a ideia de estar grávido.

Depois de um tempo, ao que John o vigiava de perto, ele sentiu uma dor forte no ventre e então viu sangue. Muito sangue.

Havia perdido seu bebê. 

Se deixou cair no chão, chorando desesperado. Queria tanto morrer. Deveria ter morrido junto com o bebê.

John saiu do banheiro em seguida o deixando lá, com todo o sangue a sua volta.

H&L

Alguns dias depois daquilo, Harry estava em seu quarto, deitado na cama. Os lençóis o cobriam totalmente e lágrimas rolavam por suas bochechas.

Ele queria acabar com a sua vida. Só acabar com tudo isso, não aguentava mais. Estava com esses pensamentos há dias, pensando na melhor maneira. No entanto, por algum motivo, alguma coisa aquele dia o fez se lembrar de uma ômega que o ajudou há dois meses atrás. E a vontade de ter uma vida diferente o fez pensar.

Não podia mais continuar naquele casa, não depois de tudo o que aconteceu. Talvez ele pudesse fugir e procurar Anne, tentar uma vida diferente, começar do zero. 

Apesar de todo o sofrimento e da vontade enorme de desistir, ele procurou um pouco de esperança e foi atrás de um mochila para colocar o essencial.

Com tudo pronto, só precisava dar um jeito de contar para Gemma. Desde que começou a faculdade, há dois anos, ela morava em uma república, mas todos os sábados ela aparecia na casa dos Styles para ficar um pouco com Harry.

Sabendo que naquele sábado não seria diferente e que logo Gemma aparecia em seu quarto, Harry escreveu uma curta carta dizendo que estava a procura de uma vida melhor, para ela não procurá-lo porque não queria que seus pais o achassem e que, logo que tivesse um jeito, entraria em contato. Não queria encontros, porque Gemma o convenceria a não ir ou a morar com ela e Harry não podia. Ele precisava de uma vida nova.

Deixou o pequeno papel em cima do seu travesseiro e deu uma última olhada para o quarto em que passou tanto sofrimento. Antes que seus pais chegassem, saiu da casa pensando que não sentiria nem um pouco de saudades.

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