Após o banho passei a tarde mergulhada em músicas e séries, que aprendi se chamar dorama, me vi absorvida por um mundo novo que acabei aceitando muito bem, ávida por aprender mais e agradecida por minha irmãzinha ter tido o trabalho de procurar obras com tradução para assim me acostumar com o som das palavras sabendo seu significado. Levei aquele conhecimento a sério e me esforcei para prestar atenção a cada expressão e palavra que se repetia em músicas ou nos doramas que ela me mostrava. O tempo passou muito rapidamente e antes que eu percebesse já estava na hora do jantar. Tendo pulado o almoço senti meu estomago roncar sem muita graciosidade, o que fez minha irmãzinha rir com gosto e desligar o aparelho de dvd esticando a mão em minha direção
- Unnie, vamos comer. - Ela havia me ensinado o básico e já sabia que "unnie" era como se chamava as irmãs mais velhas de forma carinhosa e respeitosa, eu sorri e assenti.
- Vamos dongsaeng - Tentei uma pronuncia meio enrolada mas usando a expressão que ela havia me ensinado que se usava para as pessoas mais novas. Minha irmã sorriu e juntas descemos as escadas.
Ao chegar a mesa e vê-la posta para todos nós com as mais variadas cores em pratos que misturavam o requinte com o toque exótico característico da Ásia junto ao sorriso encorajador de meu pai e minha boadrasta eu tive novamente a impressão de estar sonhando ou algo parecido, mas sorri para eles confiante que aquela era minha nova realidade, enquanto me sentava onde meu pai havia apontado ser meu lugar. Após experimentar umas iguarias do lugar fiquei extremamente feliz ao ser servida de um suculento bife com batas fritas. Meu pai ria com gosto da mudança de minha expressão e me avisou que eu deveria me acostumar com o sabor da comida coreana mas que em casa eu comeria o que quisesse e que esse mimo ele iria me dar. Pensei comigo mesma que teria tempo para me acostumar com a língua e com o sabor desse lugar tão diferente, mas os meus pensamentos foram interrompidos quando meu pai com uma cara séria chamou pelo meu nome apontando a sala de visita com o indicador.
- Vamos mon petit, vamos conversar .- Meu pai usou o meu apelido de criança mas a expressão não era nada calma nem gentil, imaginei que então a tão fatídica conversa sobre o futuro chegaria logo. Assim que me sentei e pus uma almofada no colo suspirando meu pai iniciou a conversa deixando que minha boadrasta e minha irmãzinha se unissem a nós na sala com a promessa de que ficariam em silêncio.
- Marina, sua mãe ligou enquanto dormia, estava preocupada. - Não esperei meu pai terminar de falar porque se ele fosse falar da minha mãe eu não gostaria de ouvir.
- Se ela estivesse preocupada não teria feito o que fez. - Vi meu pai respirar fundo e levar os dedos a têmpora massageando devagar. Meu pai era um homem ainda muito bonito, seus cabelos negros e olhos azuis contornados com sobrancelhas grossas e cílios espessos, assim como detentor de um sorriso radiante e um corpo em forma apesar de seus quarenta e tantos anos ele com certeza era um homem bonito, porém o ato de massagear a têmpora me preocupou e fez questionar se ele trabalhava muito nesse emprego importante dele que fazia com que seu celular tocasse a cada cinco minutos. Agora o celular estava desligado e ele me encarava buscando as palavras pra falar comigo.
- Desde que você foi aceita na faculdade, você trocou de curso quatro vezes e por último resolveu trancar, não julgue sua mãe. - Ele suspirou fechando os olhos e depois voltando a abri-los para me encarar -Ela apenas não soube mais como agir com você e te mandou para que eu lhe crie, como seu pai que sou.
Papai não sabia exatamente como eu era tratada em casa, na verdade a minha mãe me tinha como uma companheira de casa e não como uma filha, quando completei doze anos e já sabia cozinhar os pratos básicos para sobrevivência ela parou de cozinhar, a casa quem limpava e arrumava sempre era eu, a escola eu só conseguia frequentar porque acordava cedo sozinha e me encaminhava até ela como dava. DInheiro eu sempre tive dentro da normalidade, mas cuidado de mãe já é outra história, porém preferi me calar para não fazer papai se sentir culpado. Abaixei os olhos para meus braços abraçados a almofada e respirei fundo esperando o resto da conversa e minha condenação final.
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O Recomeço
FanfictionQuanto se completa dezoito anos se espera de tudo um pouco, um carro novo, um beijo apaixonado, perder a virgindade, quem sabe encontrar petróleo no quintal de casa enquanto cava uma horta, mas não ser expulsa de casa e extraditada do seu país. O qu...