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É quase hora do almoço, e eu estou faminta. Nana nossa governanta está de folga, sua filha mais nova adoeceu e ela pediu uns dias para cuidar da saúde de sua menina. Claro, que papai concedeu ao pedido. Nana está conosco desde que eu me entendo por gente, é uma mulher na casa dos cinquenta anos, loira e robusta. É Nana que prepara todas as nossas refeições, e como ela está ausente, as refeições nunca saem no horário. Não sou uma boa cozinheira, confesso. Posso muito bem fritar um ovo, mas fazer algo mais complexo, como uma refeição completa...

A casa está silenciosa demais. O que é extremamente estranho devido ao horário, mas eu sei que é por causa que meus irmãos e Bennet estão em seu sétimo sono no andar de cima. Depois do café eles me agradeceram e sumiram tão rápido quanto apareceram na cozinha. Claro que me deixaram uma quantidade grande de louças para lavar.

-Com licença, senhorita. –é Arthur, nosso chefe de segurança parado no hall de entrada. Eu me levanto do sofá para ver um garoto meio pálido, mas bonitinho, parado ao seu lado. Ele esta estendendo o que se parece demais com caixas de pizza.

-Uau, o que temos aqui? –eu pergunto surpresa. Arthur me lança um aceno de cabeça, como se me certificasse que estava tudo bem, antes de se retirar. Não duvido que ele o tenha checado.

-Sou o Gus, o estagiário da Ziemann Enterprises. O senhor Eric me mandou aqui com a sua refeição.

-Oi Gus –olho as caixas de papelão- O que tem ai?

-Quatro pizzas grandes.

Balanço a cabeça em sinal positivo, impressionada.

-Foi o que eu imaginei. É minha comida favorita, depois de massa.

-Eu sei. Procuro me familiarizar com o que meus chefes gostam e não gostam, para poder antecipar suas necessidades.

O que?!

-Isso é serio?

-Sim, senhorita.

Uau. Esse menino é o que?

-Certo Gus... Então o que você faz na empresa?

-Fui contratado há um ano e meio para ajudar o senhor Eric, em quaisquer serviços. –ele me passa as caixas com um lindo sorrisinho- Sou uma espécie de braço direito.

-Hmm... Eu devo te pagar? Você aceita cartão? -eu lanço um sorriso ao Gus e reviro a bolsa, que estava sobre a mesinha de centro.  Encontrei minha carteira, mas meu cartão sumiu. Preciso ser mais organizada, fato. Jesus, existe alguma coisa que eu não tenha aqui? Frasquinho de perfume, maquiagem, barrinhas de chocolate, analgésicos, lencinhos, chaves, absorventes, caneta...

-Não senhorita. A comida foi paga com o cartão da empresa, a senhorita não tem que se preocupar com nada...

-Primeiro, pare de me chamar por senhorita. Emily ou Em, certo? –pergunto sorrindo- E segundo, você já comeu?

-Hm, não senhorita... Desculpe, quer dizer... Emily.

Sorrio.

-Vamos Gus, coma conosco.

-Eu não acho que isso seja apropriado senhorita –lanço um olhar para Gus, e o mesmo cora- Emily... Eu deveria voltar para a empresa...

-Discordo. Você é meu herói. Eu estava faminta e você trouxe comida. Você vai ficar e comer pelo menos dois pedaços, e eu não aceito um não como resposta. Por que você não leva isso aqui até a mesa, vou só chamar meus irmãos.

Menos de cinco minutos depois, como uma manada de animais selvagens e nem um pouco graciosos meus irmãos descem correndo as escadas. Lá em baixo eu ouço comentários como "Ei Gus, bom te ver"  "Obrigado pela comida, cara".

Eu estou parado no batente da porta do quarto de visitas esperando Bennet sair do banho. Isso leva quase dez minutos, e durante esse tempo eu peço silenciosamente que os famintos dos meus irmãos não comam tudo.

Sei que ninguém aqui é padre, mas eu preciso fazer uma confissão. Estou tendo pensamentos impuros. Vários deles passando pela minha cabeça.

A porta do banheiro se abriu, primeiro saiu uma quantidade excessiva de vapor, depois o que eu vi me fez perder o foco.  Bennet estava com o tronco totalmente nu.

Ah, vamos lá, qualquer cérebro com uma imaginação fértil teria tomado o mesmo rumo que o meu.

Contornar aquele tanquinho sarado. Com as mãos... Talvez até com a língua. Hmm, eu poderia até capturar aquela gotinha que escorreu do seu pescoço e se perdeu no cós da calça. É como uma afronta, aquela gotinha tirando sarro com a minha cara. "Olhe só Emily Ziemann, eu posso escorrer livremente por esse corpinho...". Continuo com a minha inspeção minuciosa, meus olhos percorrem desde o umbigo até os ombros largos, eu faço essa inspeção por pelo menos três vezes, até enfim encontrar com seus olhos.

Bennet está me encarando com o cenho franzido, e o que se parece com um leve sorriso. Sinto meu rosto esquentar gradativamente, enquanto eu tento segurar o seu olhar inquisidor.

-Hmm, está com fome? Gus trouxe pizza, sei que normalmente comemos pizza na janta, mas não há nenhuma lei que proíba de se comer no almoço certo? –estou divagando igual minha irmã, e não consigo parar- Então se quisermos comer algo, é melhor descermos agora, por que os meninos já...

-Emily – ele sorri parado a alguns centímetros de mim. Jesus, eu nem o vi caminhar na minha direção - Não me importo de comer pizza agora.

-Hmm... Certo.

Era eu, a idiota que estava ofegando.

-Vamos descer logo? –ele pergunta e ao passar por mim, seu corpo roça na lateral do meu corpo. Foi um movimento calculado, por que tinha espaço o suficiente para ele passar sem se esbarrar em mim. Bennet acabou de esfregar o corpo no meu propositalmente.

-Você não vai vestir uma camisa? –eu balbucio, o fazendo parar no primeiro degrau da escada. Ele apenas me encara com um sorriso divertido antes de sumir escada a baixo.

Ah, pelo amor de Deus, Emily, você só se afunda.

Lafayette. NO LIMITE DO SEU DESEJOOnde histórias criam vida. Descubra agora