Acht.

1.3K 104 42
                                    

Meu coração gritava que eu deveria sair dali, que eu estava agindo exatamente como a mocinha boba dos filmes de terror, mas ainda assim, eu precisava encontrar uma fonte de luz que pudesse me manter a salvo. Ou pelo menos me deixar fingir que estava. O alívio momentâneo veio assim que, logo na entrada da Sala dos Espelhos, uma luz piscou, e como se lutasse um tanto, ela acabou se acendendo, e com ela as outras lâmpadas da Sala. Respirei fundo, e com um nó no estômago que gritava pra eu voltar pro carro, eu caminhei em direção a ela.

O lugar estava todo iluminado; quer dizer, uma sala destas sempre tem uma luz fraca. Escassa, mas que ainda assim, me possibilitava enxergar, e me garantiria algum tempo para respirar sem o medo constante do escuro. Me sentei logo na entrada, e olhei no celular. Eram quatro e dezesseis da madrugada e minha bateria estava abaixo dos quinze por cento. Porcaria de celular, não me deixe agora, por favor.

Meu coração acelerado e a dificuldade para respirar me alertavam do ataque de pânico que logo chegaria, e quando olhei em volta, pra conseguir prestar atenção nos detalhes do ambiente, só sentia a vontade de chora e o aperto no peito aumentando. Por que tudo isso estava acontecendo? Eu devia ter ouvido o Doom... Doom... Meu coração se apertou mais ainda e eu fechei os olhos, imaginando o lugar em que me encontrava.

Estava sentada na porta da Sala, encostada na madeira antiga, bem de frente com o emaranhado de espelhos. Se eu abrisse os olhos, encararia meu próprio reflexo; milhares dele me encarando de volta em cada espelho daquele lugar. Pensar em me encarar, ver meus próprios olhos me fazia sentir pior ainda. Era a culpa. Meus amigos desapareceram, e eu poderia ter evitado. Eu não aguentaria encarar a mim mesma, e eu sabia que, a qualquer momento, algo poderia acontecer comigo. Quem me garante que eu não vá ser a próxima? Quem estiver fazendo tudo isso, com certeza virá atrás de mim depois.

Minha respiração ofegante fazia barulho, muito mais do que eu pretendia, e eu realmente queria evitar, pra não chamar a atenção de alguém com tanto barulho, mas meu próprio corpo me traía, fazendo difícil a entrada de ar em meus pulmões. Minha única esperança era esperar amanhecer; assim que visse os primeiros raios de sol, eu poderia ir até o carro, talvez tentar pedir ajuda. Mas o sol só raiava ás sete da manhã, o que eu faria até lá? De alguma forma eu precisava me acalmar. Endireitei minha coluna, puxei o ar pela boca até meus pulmões se encherem e soltei lentamente.

Lembrava de algo eficiente que o Lindemann me ensinou uma vez: criar um 'lugar seguro' mentalmente, e usa-lo durante os ataques. Assim eu tirava minha atenção de qualquer coisa que estivesse me aborrecendo, me acalmaria e poderia pensar direito. Juntos, nós criamos o meu. Aos poucos ele foi tomando forma na minha imaginação, ganhando cores, e eu ia desviando a atenção pra ele. O lugar que criei era um descampado, durante a primavera, um lago e uma casa de madeira logo ao fundo. A pequena e simples casa tinha um jardim de rosas vermelhas e, se eu me concentrasse o suficiente, poderia até sentir o perfume delas. O sol estava alto, com uma brisa fresca chacoalhando a grama e o enorme carvalho, ao lado da casa. Eu podia ouvir o som das folhas, os pássaros, a água corrente e um pingo.

Acordei do meu 'transe' e abri os olhos, percorrendo cada centímetro possível, tentando identificar de onde viera o barulho. Nada. Nem uma poça, muito menos qualquer fonte de água que eu pudesse ver. Pensando ser só mais algo da minha cabeça, eu fechei os olhos, respirei fundo, mas antes que eu pudesse entrar de novo no meu lugar seguro, o mesmo som me atrapalhou. Desta vez eu me levantei com pressa. Fiquei em silêncio, e alguns segundos depois... Outro! Parecia estar próximo, então fiquei em silêncio, só esperando para ouvir outra vez e ir atrás da fonte. A curiosidade matou o gato, eu repetia pra mim algo que ouvira a tempos atrás, mas era mais forte que eu. Tinha que encontrar.

Stein um SteinOnde histórias criam vida. Descubra agora