Capítulo II

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"Chanco", "Choça"... que raio de palavras eram aquelas? Doía-me a cabeça mas pus-me de pé e elevei a voz:

- Eu estou a ouvir tudo! Quem são vocês? Onde é que eu estou? -  gritei por cima do coro de vozes agitadas. Ouvi um baque no metal e um rapaz loiro e sisudo apareceu à minha frente e estendeu-me a mão:

- O meu nome é Newt e tu estás na Clareira. É provável que não te lembres se quer do teu nome e...

- Johanna.- havia surgido na minha mente. – O meu nome é Johanna.

Newt fez um ar surpreedido que desapareceu tão rápido como surgira. Avançou na minha direção, estendendo-me a mão, mas eu recuei, encostando-me à parede. Ainda não confiava neles.

- Ei, está tudo bem, ninguém te vai fazer mal. Nós somos como tu, também não nos lembrava-mos de nada. – disse o rapaz. Fitei os seus olhos cor de chocolate, com desconfiança. Mas algo no sorriso gentil que despontara na sua face fez-me descontrair ligeiramente e aceitei a sua mão, dando-lhe um aperto desajeitado.

Alguém estendera uma corda e Newt mostrou-me como prender os pés e as mãos para não escorregar. Notei que tinha sotaque Britânico, que não era nem muito suave nem muito carregado. Era, de certa forma agradável.

Puxaram-no para fora e, de seguida, foi a minha vez. Agarrei-me com força e, quando atingi a superfície, fui fulminada por olhares curiosos e sussurros urgentes. Uma mão surgiu da multidão e tocou-me na coxa. Afastei-me dando uma palmada na mão do atrevido.

- Ui, esta é fresca! Não se metam com ela! – Gozou um deles.

Oque é que se passava com eles? Nunca tinham visto uma rapariga na vida? Analisei as faces da multidão e de facto vi apenas rapazes. Sujos, maltrapilhos e suados rapazes.

"Oh deuses, onde é que eu me vim meter?"

Ao longe, Newt fez-me sinal que me aproximasse dele e de outro rapaz mais velho, de pele escura e semblante carregado. Este sussurrou algo a Newt que acenou e permaneceu em silêncio. O rapaz negro avançou e estendeu a mão:

- Bem-vinda à Clareira, Caloira. O meu nome é Alby. E espero bem que não venhas causar problemas como os últimos dois. – Ele deve ter visto o meu ar confuso – É que antes de ti vieram mais dois chancos. Um com a mania de andar a bisbilhotar e a outra aparece meia morta e com mensagens esquisitas. Bem, mas isso não interessa agora. Qual foi o nome que disseste que tinhas?

- Johanna... Mas há outra rapariga? E porque é que estamos aqui? E... - A realização abateu-se sobre mim e milhões de perguntas jorraram-me pelos lábios.

- Whoa, calma lá com as perguntas. Tens tempo para isso no Passeio. Agora vou ter de vos deixar. Newt, podes mostrar-lhe a Clareira? E vocês, voltem ao trabalho seus cara de fu!- disse ele virando-se para a multidão de rapazes. Contrariados, eles foram dispersando, voltando ao que quer que estivessem a fazer antes.

Olhei pela primeira vez o que me rodeava e senti de novo a sensação de falta de ar e claustrofobia. Altos muros de cimento cobertos de trepadeiras formavam um gigantesco quadrado. Ao longo do espaço encontravam-se irregularmente distribuídos um conjunto de edifícios toscos. Dezenas de rapazes corriam de um lado para o outro, imersos nos seus afazeres.

Depois de dar uma volta completa, virei-me para Newt e fitei-o, à espera que falasse. Após um breve momento de silêncio, o seu olhar encontrou o meu e ele pigarreou levemente, começando a falar.

- Bem, como já deves ter percebido, fomos postos aqui por alguém.

- Mas quem...

- Deixa as perguntas para o fim, se fazes favor. – Ele apertou levemente a cana do nariz com dois dedos e suspirou. Bolas, se cada pessoa nova tivesse a mesma atitude que eu, era normal que ele não tivesse muita paciência.- Não sabemos, ok? Foi-nos retirado qualquer tipo de memória do nosso passado. Mas apesar de tudo consegui-mos organizar-nos e aprendemos a sobreviver. E o mais importante é que nos temos uns aos outros. Por isso temos apenas três regras simples. Primeiro. Faz a tua parte. Não podemos ter chancos preguiçosos por aí ou não durava-mos um mês. Segundo. Nunca ferir outro Clareirense. É importante que confiemos uns nos outros. Terceiro. Nunca em situação alguma saias da Clareira.- Quis perguntar porquê mas o seu olhar intenso fez-me fechar a boca. A curiosidade borbulhava dentro de mim como leite a ferver.

Fugitiva - Livro I -  Maze Runner FanfictionOnde histórias criam vida. Descubra agora