Cheguei a casa dos meus pais, onde vivia e toquei à campainha. O som de uma porta a abrir suou em conjunto com os carros e com as pessoas que passavam na rua, e dois sorrisos apareceram brilhando juntamente com o lindo dia que estava.
- Pai! Mãe! – falei largando minhas coisas para o chão e abracei-os. Que saudades de me sentir livre.
Entrei em casa e reparei em todos os pormenores. As molduras com fotos minhas e com fotos de família continuavam no mesmo lugar, um pó preenchia os móveis e quase tudo terá ficado no mesmo lugar de há três anos atrás.
- Continua quase tudo igual… - falei interrompendo o silêncio.
Sentamo-nos no sofá a falar como se não falássemos à séculos. Na verdade, nunca dava para dizer tudo naquelas visitas de quinze minutos.
- Bem, vou trazer as minhas coisas para dentro. – eu disse enquanto me levantava.
- Hm, querida… Espera! – minha mãe interrompeu.
- Sim…?
- Filha, nós não te queremos cá em casa… - meu pai finalizou o que minha mãe queria ter dito.
- O QUÊ?! - eu gritei aproximando-me um pouco deles.
- Filha, por favor tem calma – minha mãe implorou – Tenta compreender!
- Desculpem, não vos consigo perceber… - falei chorando – Eu cometi muitos erros, é verdade, mas hoje estou aqui à vossa frente a mostrar-vos as saudades que sentia e o arrependimento. Eu sempre vos disse, quando iam à prisão, o quão fiquei arrependida. Será que não percebem? – eu falei alto e vi suas cara de quem não tinham mudado de ideias – Já vi que não. Vou seguir minha vida, adeus!
Saí dali. Antes de ter fechado a porta com todas as minhas forças, ouvi duas vozes sussurrarem ao mesmo tempo um ‘desculpa’. Para quê tantas desculpas? Percebi agora que nunca fui desejada. Foda-se isto.
Se estava chateada? Sim, muito. Para onde iria agora? Só tinha Cher comigo. É isso. Cher!
Peguei nas minhas coisas e caminhei até sua casa com uma brisa de vento a passar-me pelo corpo. Só não queria ser rejeitada. Não mais uma vez.
(…)
Toquei à campainha de casa de Cher. Demorou cinco… Seis… Sete segundos a abrir-me a porta. Talvez ela pensasse que seria só uma visita de uma hora para contar tudo com pormenores e que tudo tinha voltado ao normal. Mas ela logo reparou na minha tristeza. Passou as perguntas que me queria fazer para depois, e apenas me abraçou. Contei-lhe tudo.
- Ficas em minha casa! – Cher ordenou logo que acabei de contar.
- Tenho tanto que te agradecer – suspirei – Foste a única que me compreendeu até agora. – abracei-a.
- Vamos arrumar as tuas coisas – ela falou levantando-se e pegando em todas as minhas coisas não querendo aceitar a minha ajuda. Levou-as até ao ‘meu’ quarto.
- Vais ficar aqui! – Cher falou abrindo as janelas para a luz do dia entrar.
- Obrigada Cher.
Deixávamos as roupas no armário e as minhas recordações que tinha guardadas, nas gavetas e tentávamos deixar tudo arrumado.
- Então e o Liam? – Cher questionou-me fazendo com que ficasse atrapalhada.
- O que tem? – respondi.
- Nunca mais o viste?
- Nunca. Nem nunca mais o irei ver… - falei triste. Porque é que tudo isto me afetava tanto?