A mulher mais linda do mundo dormia na minha cama

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4 de fevereiro de 2015.

Esse foi o dia em que conheci minha Delila. Eu tinha dezoito anos, e ela dezessete. Estudávamos na FreePros, no Centro de Jandira. Era intervalo, por volta das 10h30. Lembro-me de estar andando vagamente pelos corredores da escola, até que de longe, em um banco sob a sombra duma árvore, eu vi a garota mais linda do mundo. Ela estava sentada como uma dama: pernas enlaçadas debaixo do assento, o longo e liso cabelo castanho caído de lado sobre seu ombro esquerdo, a cabeça levemente inclinada para o lado, e um livro em suas mãos. Ela vestia um jeans escuro, a camiseta do uniforme e sapatilhas pretas com um laço cor de rosa pregado em cima. Era a coisa mais linda que eu já tinha visto.

Pensei em ir falar com ela, mas quando notei, estava nervoso e com as mãos suadas. O que era estranho porque eu costumava ser o maior galanteador de todos. Era impossível que Devon Passé, o "pega todas", estar nervoso de chegar numa mina e jogar um chaveco. Mas aí é que estava a questão: eu não queria jogar chaveco naquela garota. Aquela garota, com postura de uma princesa e sorriso dócil (que eu via acenar e sorrir para quem lhe cruzasse o caminho), não. Eu queria mais que isso, mas eu era só um moleque de dezoito anos. Na época, eu não sabia nem dizer que sentimento manso era aquele no peito.

Olhei para os lados e não avistei ninguém se aproximando. Esfreguei as mãos suadas na calça, arrumei meu cabelo de qualquer jeito para trás, e comecei a dar passos trêmulos em sua direção. Ela estava sentada sozinha no banco, lendo. E eu sempre soube o quão irritante é ser interrompido no meio de uma boa leitura, e ao vê-la toda entretida em seu livro, que a fazia rir sozinha, eu resolvi me sentar calado ao seu lado, deixando uns quarenta centímetros de distância entre nós. Não queria dar na cara que aquele seu jeito meigo tinha me atraído. Mas ela sabia, porque após alguns poucos segundos de silêncio, comigo olhando para o nada, ela resolveu tirar o livro da cara, e pela visão periférica (traiçoeira), eu percebi que ela olhava para mim. Virei o rosto para olhar para ela e dei de cara com um par de olhos negros, lindos, que quase me deixaram sem ar. Ela soltou um risinho ao me ver em conflito com meus próprios sentimentos.

- Delila Siqueira. - disse ela, ao estender a mão para mim.

Fiquei imóvel, sem reação, até que Delila inclinou a cabeça para o lado, para ver se eu mudava o foco. Nesse exato instante, chacoalhei a cabeça, bobo, sorrindo, e estiquei a mão para cumprimentá-la.

- Devon. - tomei fôlego, ao que ela riu timidamente da minha falta de jeito. - Devon Passé. - concluí, sorrindo.

Eu sentia meu coração nas nuvens, e sua pele macia me atraia e me chamava para si. Eu sabia que com ela seria diferente. Que se eu deixasse, ela seria capaz de mudar minha vida. Eu queria conquistá-la. Era isso o que eu queria: con-quis-tá-la.

Estava me preparando para dizer algo, mas o sinal tocou.

- Eu, ahn... - Mas nada parecia sair da minha boca. Fala, Devon!, eu gritava em pensamento. - Te vejo na saída. - E isso foi tudo o que consegui dizer, olhando nos olhos dela.

De repente, enquanto olhava em seus olhos, percebi que não me perdia neles - era lá onde eu me encontrava. Era naquele sorriso que eu me deleitava, e por sua voz me deixava levar, porque eu sabia que não importasse para onde quer que ela me levasse, eu sempre estaria bem.

- Pode me levar até minha sala? - ela perguntou, sorrindo.

- Claro! - respondi, já me levantando.

Por você eu faço qualquer coisa, pensei.

Andamos quietos até o corredor que dava para as salas de aula. Eu queria perguntar que curso ela fazia, até que ela parou de frente para a porta da minha sala. Administração. Olhei assustado para ela, ao ela sorriu timidamente. Era tão linda!

Nuvens de algodãoOnde histórias criam vida. Descubra agora