Não sou maratonista

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Me irrito com o sorriso convencido dela. Olho para longe, observando as árvores, para me distrair e não explodir de raiva.

-Temos que marcar alguma coisa, desculpa não poder ir com você para o evento do Kole. Ele me chamou mas não posso ir, isso é, se soubesse que ia ir eu iria, mas me chamou hoje e eu estarei em Paris.

Ele a chamou para o evento! E está aqui fazendo o romântico comigo! Meu sangue ferve, o olho jogando toda minha raiva em um olhar, ele me olha, mas rapidamente volta a olhar para Diana.

Se eu não sair daqui agora vai ser pior, junto meus pedacinhos espalhados pelo chão com uma respiração profunda e vou andando. Nem que eu tenha que andar 10km eu não vou com ele!

-Tenho que ir -ouço ele dizer e ouço seus passos atrás de mim.

Cruzo meus braços para não
empurra-lo para longe. Piso na calçada com tanta raiva que temo que os meus saltos quebrem.

Ele soube que eu não iria com ele e a chamou para ir no meu lugar!

-Melanie, para -ele diz.

-Acredite, você não quer que eu pare -eu digo entre dentes, sabendo que se eu parar de andar descontando a minha raiva no asfalto eu vou discutir com ele, e será do tipo de discussão gritada.

Não tenho voz nem cabeça para isso agora.

-Eu só a chamei porque não ia comigo! -ele tenha se explicar mas isso só me faz ficar mais irritada.

Continuo andando olhando o asfalto enquanto ele me alcança andando ao meu lado e me olhando.

-Ótimo. Já que não vou com você ao evento, talvez devesse ir a Paris com ela.

Mantenho meus olhos no chão. Não querendo olhá-lo.

-Claro que não, não quero nada com ela! Só a chamei para te provocar, mas depois de te encontrar na clínica percebi que você já tem muitos problemas, e que não precisa que um idiota piore isso fazendo ciúmes em você com a ex dele.

Me lembro das palavras dele quando revelei os meus motivos: "gostaria de ter sabido disso antes."

Talvez ele não a teria chamado se eu tivesse concordado em ir com ele...

Não! Isso não é culpa minha, é dele!

-Agora, vamos voltar para eu poder pegar o carro -ele diz parando de andar.

-Não vou com você -vocifero.

-Vai a pé? São 16km -ele diz e ouço seus passos, ele está correndo para me alcançar. Ando mais rápido, antes que perceba estou correndo dele.

Não sei porque, mas só quero fugir dessa confusão que me enfiei.

Não preciso de um amor complicado. Preciso de alguém que me entenda e me aceite, e principalmente que não me troque pela ex assim que eu viro as costas.

Ele não está te trocando, vocês nem namoram, me lembro.

-Porque está correndo? -ele grita.

Não quero ouvi-lo, mas também não quero mais correr de saltos, meus pés doem. Paro de correr ofegante. Me viro e começo a andar de volta para o restaurante para ele me levar de volta.

Ele para e tenta entender o que aconteceu que me fez mudar de ideia.

-Melanie -ele diz em um tom gentil.

-Não quero ouvir! Só me leva pra casa.

Andamos em silêncio até o carro. Entro sem esperar que ele abra a minha porta e o meu movimento brusco é notado, ele demora um pouco para entender, mas logo se recupera e entra no carro.

Encosto minha cabeça na janela na esperança de que a janela gelada esfrie a minha cabeça.

Ele liga o rádio e começa a tocar "At Last", ah não, não mesmo!

Em um movimento quase agressivo eu desligo o rádio. Ian me olha espantado mas logo se desinteressa, encosto minha cabeça de volta na janela.

Ele a chamou... Meu coração se contorce e aperta com o pensamento do que eles fariam depois do evento...

Com certeza ele não a deixou um bilhete na primeira noite deles juntos. Faço uma carranca para o pensamento indesejado.

Ela estará em Paris, ele devia estar com ela, é rica. De mim o máximo que ele terá é... Nada, nem estamos juntos. Ele não é meu namorado.

Só agora percebo que a minha crise de ciúmes implica que temos algo. O que não temos.

Me forço a ver a realidade, ele é um cliente e eu sou uma acompanhante. Nós tivemos relações sexuais, mas só, não somos namorados, nem estamos apaixonados.

Ele estaciona o carro em frente ao meu prédio e eu saio imediatamente sem esperar que ele abra a minha porta, começo a andar para o meu prédio.

Uma sensação de choro começa a se acumular, mas devido a anos treinando para não chorar, nenhuma lágrima desce, mas a sensação permanece lá...

-Então vai acabar assim? -ele grita.

Me viro, com uma revoltante esperança no peito. Não quero ter esperanças com o fato de ele implicar que temos algo, quero ter raiva! Me zango comigo mesma.

-Não, se quiser me chame para ir a outro evento, infelizmente não posso me dar ao luxo de escolher meus clientes.

Ele parece irritado enquanto anda até mim com passos largos, ele para na minha frente. O encaro, mas logo desvio o olhar, seus olhos azuis me deixam... Confusa.

-Você sabe o que quero dizer -ele diz quase que em um sussurro.

-Não, não sei. Não se pode terminar algo que nunca começou.

Entro no prédio e ele não me segue, entro no elevador e finalmente deixo as lágrimas descerem pelas minhas bochechas.

A Acompanhante -COMPLETO Onde histórias criam vida. Descubra agora