Competindo pelo altar

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-Vejo que estão ocupados então vou me retirar -Diana diz em um tom contido, mas posso ver arrogância brilhando em seus olhos enquanto ela se retira.

Olho para o chão mortificada com a situação, não acredito que ela trabalha aqui, ela trabalha com ele...

-Melanie -ele diz em um tom apaziguador.

Ao invés de sempre fazer como faço e não olhá-lo, o olho querendo saber exatamente o que se passa, o que se passa para ele ser tão estúpido!

Isso tudo me faz querer ir para o mais longe possível e chorar até não ter mais lágrimas e assim poder não me importar com ela... Mas isso não vai acontecer, mais uma vez eu ergo a barreira anti-choro que já ergui tantas vezes antes...

-Explica -digo e cruzo os braços para que ele perceba que minha paciência está se esgotando, e a barreira que acabei de construir está aos poucos desabando.

-Ela sempre trabalhou aqui, ela faz a contabilidade da empresa, fica aqui uma vez por semana, eu nem a vejo -vejo sinceridade em seus olhos mas o meu medo de estar sendo tola nessa história me força a continuar querendo mais explicações.

-Ela veio ontem, mas pelo que ela disse não terminou ontem então voltou hoje, eu nem sabia que viria. Me desculpe, não sabia que ela estaria aqui -ele diz e segura minha mão.

Olho para nossas mãos, penso em retirar a minha, mas como tem muitas pessoas passando em volta isso o faria passar vergonha, então não o faço. Então ele não a vê? Por que ela? Por que justo ela!? De todos os contadores por aí tinha que ser ela?

-Se quiser podemos ir embora agora mesmo -ele sugere e vejo seus olhos azuis cheios de preocupação.

-Não, viemos até aqui. Vamos ficar -digo porque não quero que ela vença mais essa. Afinal agora eu sou a namorada, não ela!

-Tudo bem -ele diz mas vejo que está confuso.

O sigo, ele anda a minha frente casualmente olhando para trás, acho que para garantir que eu não fui embora. Nós saímos do prédio e vejo uma grama verde e muitas flores, crianças correm pra lá e pra cá, idosos jogam xadrez, adultos conversam sentados na grama. Me lembra a clínica da minha mãe, mas mais bonita certamente.

-Quanto se paga para ficar aqui? -pergunto curiosa, porque a da minha mãe é cara, mas aqui deve ser uma fortuna.

-Nada -ele diz e posso ver um brilho feliz nos seus olhos.

-Nada? -pergunto descrentes volto a observar o lugar.

-Nada, as pessoas vêm para cá dois dias antes da cirurgia e ficam aqui até se recuperarem totalmente. Elas já pagam pela cirurgia -ele dá de ombros.

-O meu dinheiro vem de pesquisas, essas pessoas precisam de ajuda, se posso ajudar, porque não? -ele olha para mim e vejo que seu olhar se iluminou ao falar disso.

Percebo também que a minha raiva se esvaiu, não consigo nem ficar com raiva dele... Ele faz pesquisas! Ele é realmente inteligente...

-Quero te mostrar o melhor lugar daqui, quer ver? -ele pergunta animado.

Ofereço-lhe um pequeno sorriso e aceno com a cabeça, acho que sabendo que a minha raiva se esvaiu, ele segura na minha mão e me leva de volta para dentro passando por alguns corredores. De um certo ponto em diante as portas são decoradas, umas com flores, outras azuis, umas rosas, algumas cheias de arco íris... Ian segura a maçaneta de uma porta branca, mas cheia de marcas de pequenas mãos feitas com tinta colorida.

-Espero que goste -ele abre a porta e parece incerto.

Quando ele abre a porta uma grande sala super colorida com umas 10 crianças e muitos brinquedos é se amostrada diante de mim.

As crianças vem até mim e parecem duvidosas, faço questão de mostrar o meu melhor sorriso. Entro na sala por todo e percebo que o lugar é cheio de desenhos infantis pelas paredes, tem 4 tvs, muitos pufs, esse lugar é lindo.

-Ian! -uma delas grita.

Assim que viro para trás vejo Ian agachado sendo literalmente derrubado por todos eles, Ian ri enquanto os abraça.

-Agora pessoal, essa é a Melanie -ele consegue dizer antes de uma menininha de cabelos ruivos se lançar sobre ele em um abraço apertado.

Seus pequenos olhos se viram para mim e eu sorrio, coloco minha bolsa em um canto e me sentando no chão. Uma menina de olhos verdes com longos cabelos loiros se aproxima de mim.

-Sou Kassie, tenho 9 anos -ela diz, sorrio.

-Sou a Mel, tenho 26 -digo, olho enquanto um outra menininha se senta ao meu lado, sorrio para ela.

-26? -um menino adorável sem cabelos surge perguntando e se senta na minha frente.

-26 é muita coisa -uma diz. Quando percebo estou cercada deles, Ian me olha divertido sentado no chão, uma menina sem cabelos está sentada no seu colo, percebo que ela tem uma cicatriz que vem do início da testa até algum lugar que de onde estou não consigo ver...

-O Ian tem 28 -sussurro em tom conspiratório.

-Não, o Ian tem 10 que nem eu -um deles diz.

-Não, 7 como eu! -uma menina diz.

Rio da situação, todos eles se viram e olham para Ian que parece estar sem saber o que dizer.

-É verdade pessoal tenho 28 -ele diz.

-Ele é velho -uma ao meu lado diz, rio.

-Ainda posso casar com você? -uma de cabelos encaracolados que está ao lado dele pergunta, rio.

-Eu que vou casar -a outra diz.

Ele ri abanando a cabeça divertido. Essas crianças o adoram! O observo enquanto as meninas brigam para ver quem vai casar e Ian as observa, posso ver a felicidade nos seus olhos...

-Hora do desenho! -ele anuncia e acredito que é para distraí-las.

Animadamente elas se levantam, todas puxam seus pufs e almofadas e se aninham em frente a TV maior. Ian segue até lá e coloca um dvd, ele desliga a luz, mas abre as cortinas pela metade deixando uma certa quantidade de luz entrar, todas se mantém vidradas na tela, o observo enquanto ele se senta ao meu lado, ainda as olhando sem dizer nada.

-Elas gostam de você -sussurro.

-Também gostaram de você -ele diz de volta.

-Todas elas já operaram? -pergunto ainda sussurrando.

-Não, apenas algumas.

-Elas são adoráveis -respondo observando que elas estão atentas ao desenho que passa na TV.

-Sim, são -ele me olha.

-Ainda brava comigo? -ele pergunta.

Tenho a sensação que ele me trouxe aqui porque sabia que eu não poderia ficar zangada nessa situação.

-Para a sua sorte não -sussurro de volta.

-Bom -ele sussurra e segura na minha mão.

Assistimos ao desenho junto das crianças, eu e Ian não conversamos mais, nossas mãos ficaram entrelaçadas durante esse tempo. Quase na metade do filme a menininha que brigava por Ian conversa e depois sorri pra mim, retribuo o sorriso.

Todas as crianças parecem ter dormido, ajudo Ian a colocá-las em uma parte estofada que assumo ser para sonecas. Nós as colocamos lá e as cobrimos. Seguimos até a porta.

Ian a abre, mas antes que possamos sair a menina que estava brigando pelo casamento aparece e me chama, eu e Ian a olhamos parando no lugar.

-Não vamos ser nem eu nem a Sarah.

Não vão ser o que?

-Vai ser você quem vai casar com Ian. Porque você é bonita, não se preocupe eu e a Sarah deixamos -ela diz sorridente.

Meu estômago da voltas e o meu coração acelera com o pensamento de me casar com Ian.

A Acompanhante -COMPLETO Onde histórias criam vida. Descubra agora