Visitante inesperado

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Merda. O que eu falo?

-Isso... Isso é... -eu gaguejo.

-Uma gravata. Eu sei, mas o que ela está fazendo no chão? -ela levanta uma sobrancelha sugestivamente.

-Bom eu talvez tenha... Você sabe... -eu digo sem graça, segurando o lençol em volta de mim, eu pego a gravata da mão dela.

Ela cai na gargalhada e eu vou pro meu quarto. Ela me segue.

-Vai sair? -ela pergunta ao me ver escolhendo um jeans e uma blusa azul.

-Sim, hoje é a festa de despedida do café e vou visitar minha mãe depois.

-Aham... -ela diz em um tom desconfiado. Pego uma calcinha e entro no banheiro, fecho a porta e abro o chuveiro.

-Manda um beijo pra ela e quando voltar você vai me explicar essa história direito!

Tomo um banho, coloco minha roupa e saio do banheiro, a gravata dele está na cama. Nós nem tivemos a chance de ter "o momento estranho".

Aquele momento em que você acorda e não sabem se dão oi, ou se beijam. Aquele momento na manhã do dia seguinte...

Sacudo minha cabeça sabendo que se continuar pensando nisso vou me atrasar.

••••••••••

Durante a festa, eu realmente tentei ignorar como eu me sentia sobre o que eu fiz...

Quero dizer, ele apenas me usou... Não é como se eu fosse virgem... Mas ainda assim...

Dói saber que você não é tão importante quanto achava que fosse. Acenando para todos eu entro no táxi indo para a clínica da minha mãe.

-Oi mãe -eu digo acariciando o cabelo grisalho dela.

Ela abre os olhos devagar como se estivesse cansada, eu quero chorar toda vez que a vejo... Esquece! Você precisa ser forte!

-Oi querida -ela diz baixo.

-Como está se sentindo? -eu pergunto lutando contra minhas lágrimas, é sempre assim...

E saber que eu não sou amada (realmente amada), por mais ninguém além da Amanda e ela, me assusta.

-Eu deveria te perguntar como você está, não é como se eu estivesse melhorando.

-Oh mãe, não fala isso, nós precisamos ter esperança -lágrimas dançam nos meus olhos.

Se segura Melanie!

-Esperança, não estupidez -ela me dá seu sorriso aguçado - é câncer terminal, não é como se fosse sumir -ela diz com os olhos demonstrando preocupação.

Acho que é por eu ainda não ter aceitado que vou perdê-la.

Esse sorriso aguçado dela me lembra de quando eu era criança, como ela costumava me segurar em seus braços e apenas por esse simples gesto o mundo parecia se ajustar no lugar certo.

Uma lágrima desce o meu rosto, ela suavemente levanta a mão e a seca.

-Não é educado não responder a pergunta de um idoso -ela ri e o meu humor melhora, sabendo que nem mesmo a doença pode deixá-la pra baixo.

-Bom, hoje eu tive uma festa de despedida na cafeteria.

-Oh, você está se demitindo? -ela ainda não sabe...

-Eu consegui um emprego na Contém 1g -eu digo feliz, ela sorri, esse sorriso especial para poucas ocasiões, ela abre os braços e eu a abraço.

Ela cheira como mãe, como a pessoa mais doce e gentil do mundo. Como lar.

Uma enfermeira nos interrompe, eu a solto e beijo sua testa, entendendo que a enfermeira dará pílulas pra ela dormir. Ela suavemente agarra meu pulso.

-Você sabe... Eu não acredito que isso seja tudo... Tem mais alguma coisa? -ela pergunta.

Como ela faz isso?

O sexto sentido dela é enlouquecedor.

Eu quero que ela saiba? Não, porque aí eu teria que explicar como eu o conheci, teria que mentir...

-Não mãe -eu dou a ela o meu sorriso doce -virei aqui no meio da semana. Ok?

-Sozinha? -ela pergunta levantando uma sobrancelha.

-Sim... Amanda não vai vir, só eu -porque eu viria com alguém? Ela quer que eu traga alguém? Amanda, talvez?

-De qualquer jeito eu virei, sozinha ou não.

-Espero que venha -ela me dá um sorriso como se ela soubesse melhor...

Eu beijo a testa dela e saio da clínica pegando um táxi.

Não tenho certeza se deveria ter contado a ela. Ela sempre diz que quer me ver casada antes de...

Mas eu ainda não encontrei o cara certo, e quando eu acho que encontrei, ele corre assustado antes de amanhecer...

Para de sentir pena de si mesma!

-Obrigada -eu agradeço ao motorista.

Eu entro e Amanda está sentada no sofá assistindo TV. Ela desliga e olha pra mim, e que comece o interrogatório!

-O cara de ontem à noite foi aquele que foi embora?

-Sim, mas ele voltou -eu digo e não querendo mais reponder nada eu vou pro meu quarto. Ela me segue joga em mim uma almofada. Eu a seguro e rio.

-O nome dele é Ian, sim, ele é um cliente -eu digo sentando na cama. Ela me olha desacreditada.

-Eu pensei que fosse sua regra número um...

-E é...

-Eu pensei que tinha dado errado... Ele voltou por você? -ela está animada e surpresa.

-Sim, ele voltou e disse que não poderia ir embora sem fazer algo e me beijou... E aí você já pode imaginar o que aconteceu...

Ela dá pulos animados e gritinhos adolescentes, e nós duas começamos a rir como as garotas estúpidas que ainda somos por dentro.

A campainha toca e nós duas paramos de rir imediatamente.

É ele?

Corro, me ajeito antes de abrir a porta, a abro e...

André!

A Acompanhante -COMPLETO Onde histórias criam vida. Descubra agora