Concha vazia

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 Naquele momento Hiro paralisou, mas não de medo e sim por causa da beleza que emanava de Enmi, ela era exatamente como Teiji havia descrito, seus cabelos eram brancos como a neve, seus olhos grandes e rosas, pele branca e macia como algodão, não havia engano, era ela. Mas havia algo de errado, ela parecia confusa com o local e estava mais séria, sem sorriso e sem expressões. 

- Olá, jovem. - Ela acenou na frente do rosto de Hiro, ele estava paralisado. - Onde estou? Estranhamente pareço estar perdida.

Ela não conseguia se lembrar do que havia acontecido com ela, suas memórias haviam sido esquecidas por causa do tempo que passou. Hiro não poderia contar para ela, Enmi deveria lembrar sozinha, se ele contar pode acabar acontecendo uma catástrofe. 

Ele estendeu a mão para ajuda-la a sair do caixão, ela apenas olhava em volta atenciosamente para as árvores e flores que nasceram no local. Parecia um pouco diferente para ela, já que mil atrás não haviam flores nas trilhas, apenas árvores e sons do riacho. A chuva já havia cessado e dava para ver as estrelas, iria ser uma noite " clara ". Seguidamente eles vão para a escola, iria ser um choque para Enmi retornar para escola depois de anos, ela perceberia que havia mudado. Hiro pensava que Enmi iria se chatear ou até mesmo ficar triste, mas ao ver a escola T. Werk "destruida", Enmi apenas caminhou até o chafariz.

- Parece que eu fiquei fora por uns tempos. - Ela passava a mão do chafariz - Esse lugar... é um dos únicos da minha lembrança, a escola T. Werk.

- Não se sente triste? - Hiro caminhava até onde Enmi estava - Quer dizer, não tem vontade de chorar nem algo do tipo?

- Estranhamente me sinto triste, mas não consigo expressar e nem chorar. - Ela olha a escola, as janelas sujas e quebradas. - Vamos entrar.

Ela abre a porta de madeira, isso lhe traz lembranças de quando era menor e fazia com toda a alegria, mas hoje em dia ela não sente mais a felicidade de antes, apenas lhe trás uma nostalgia enorme de quando era criança.

- Enmi, vamos para o laboratório, tem uma coisa para te mostrar. - Ele caminha em sua frente, ela apenas o segue sem entender muito sobre.

Teiji estava de costas arrumando os tubos de ensaio e os limpando, ele também havia limpado as estantes, ele estava realmente animado com a volta de Enmi. Quando ele menos esperava ouve-se um barulho de porta atrás dele, ele estava nervoso e não sabia exatamente se deveria virar.

- Olá? - Essa voz, só podia ser dela, a voz doce e suave que ele não ouvia desde que ela morrerá. Ele se vira rapidamente e...

- May.. que susto que você me deu. - Infelizmente May tem a voz igual a da Enmi, Teiji havia se esquecido.

May é uma garota bem quieta, sem cabelos um pouco grandes e negros parecem esconder um mistério aquilo não era comum, ela quase não fala com ninguém mas é comportada, sempre agarrada com seu colar de uma flor laranja . Era raro ela andar sozinha, mas desta vez não havia ninguém com ela. May olhava em volta do laboratório, quando viu o tubo de ensaio com o líquido vermelho paralisou por uns segundos.

- Desculpa entrar assim, não sabia que o senhor estaria aqui. - Ela diz baixo e quando vira para sair se encontra com Enmi, aperta o colar e corre. 

- Enmi, quanto tempo minha filha. - A alegria de Tenji parece ser imensa - Venha sente-se, a não você deve estar cansada de ficar sentada...

- Está tudo bem, eu acho. - Ela olha o laboratório e rapidamente vem uma lembrança ruim do local, parecia estar tudo quebrado e com muito sangue em sua volta.

- Enmi, está tudo bem mesmo? - Hiro se preocupa com a expressão de pânico em seu rosto.

- Está tudo bem sim, por um momento eu achei... esquece.

- Teiji, vou me retirar e deixar vocês a sós.

Hiro sai do local para deixar pai e filha conversarem melhor, aquele momento seria realmente mágico. Hiro olha pela janela, um pouco embasada por causa da sujeira, May estava lá fora e parecia tensa com algo, parecia que estava nervosa , Hiro foi ver o que poderia ser e tenta-la acalma-la. Estava garoando novamente.

- May, o que faz aqui ? Está frio ainda, vai ficar resfriada. - Hiro oferece um agasalho - Vamos entrar.

- Enmi... - Ela falou baixo - Enmi realmente voltou? 

- Sim, não é incrível ? Nem parece real. - Ele sorriu - Agora nós estamos a salvos.

- Não é tão incrível assim... - Ela falou baixo de mais que nem Hiro escutou o que ela disse, May começou a se dirigir para floresta.

- Hey, onde você vai? - Hiro se levanta e grita para ver se ela o ouve.

- Vou para o riacho, lá eu posso pensar com tranquilidade... - Ela finalmente grita - Faz um favor para mim?

 Hiro apenas acena com a cabeça.

- Fala para Enmi me encontrar perto do riacho, tenho algo para falar com ela. É importante. - Ela cora - Coisa de menina.

Ele concorda, apesar de querer saber o que vai ser esse " coisa de menina" . Ele volta para dentro com muito frio, encontra Enmi nas escadas e passa o recado, também deixa o colar de rosa com ela. O colar em sua pele fez um destaque muito gracioso.

O riacho que May estava era o mesmo da morte de Enmi, era lembranças tristes mas as águas sobre o luar estava realmente encantador, as águas faziam um barulho bem alto a noite. Não demorou muito para Enmi chegar.

- Enmi, finalmente chegou. - A expressão de May muda totalmente - Você pode não se lembrar de mim, sou Amaya.

- Ama..ya.. Eu me lembro. - O terror que Enmi sentiu ao ouvir esse nome, naquele local novamente. - O que você quer de mim?

- Pode ficar tranquila, assim como você eu sou o que dizem ser: - Ela sorri ironicamente - "Uma concha vazia".

- Concha vazia? - Ela estava espantada ainda.

- Concha vazia, alguém sem sentimentos, sem alma, sem coração, ou seja, uma pessoa morta. Você se lembrou do que aconteceu aqui? - May senta na grama perto do riacho e começa a passar a mão nas águas que corriam ali. -  Foi realmente triste para os cidadãos e os magos, deveria tomar cuidado por onde anda, pode escorregar.

Enmi estava paralisada de medo, o medo era algo realmente assustador, ela não conseguia falar uma palavra.

- Enmi, não tenha medo, eu não vou fazer nada a não ser dizer a verdade agora. - May ficou séria - Aprendi algo com minhas mentiras antigamente, a verdade pode doer uma vez que falada ; Mas a mentira dói a cada vez que se lembra.

- O que quer... dizer com isso? - Enmi ainda estava confusa.

- Você irá descobrir com o passar do tempo, eu só queria te dizer para tomar cuidado. - May sorriu - Eu não te odeio mais Enmi, mas mesmo assim cuidado, algumas pessoas vão amar pelo que você é. Outras lhe odiaram pelo mesmo.

May passa a mão no rosto de Enmi enquanto fala e logo em seguida volta para escola. Enmi ficou ali por mais um tempo. E pelo primeira vez, em muito anos, Enmi chorou.

EnmiOnde histórias criam vida. Descubra agora