Capítulo 3. Débora: Contando as estrelas.

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Nota  do Escritor: Voltando ao tempo presente. Talvez seja o melhor momento para comentar que,  eu tenho sim uma certa intimidade  com algumas pessoas desse grupo. Julguei que  não deveria mostrar aquela carta, afinal, eu não sabia aonde estava me metendo, os procurei novamente e tentei convence-los a não mais contar alguns momentos de juventude, mas, serem sim os protagonistas do meu livro.

Não foi facil convence-los eu já estava prestes a cometer um desatino, quando Débora decidiu me conceder uma entrevista.

Sobre a minha primeira entrevistada, na época do furto, Débora era uma moradora recente e novo membro do grupo de amigos, mesmo que não tivesse qualquer envolvimento com a Agnes e a sua morte, isso não a empediria de estar envolvida com o sumiço desse diário. Estava focado primeiramente em descobrir com quem estava o diário. Eu precisava encontrar o diário, depois pensaria no que eu iria fazer, decidiria se tentaria descobrir quem matou a garota. Complicado, minha cabeça estava um turbilhão, todo escritor tem um sexto sentido, eu sabia que estava perto de algum assassino, mas, qual deles? E o que eu faria quando eu descobrisse? Hoje, já te adianto, me meti na maior cilada da minha vida.

Registra-se que  a rodovia citada pela  entrevistada dá acesso a serra, nela encontramos algumas cidades históricas e rurais do sul do país, formadas por pequenas colônias de imigrantes de origem eslava. Por lá, velhos hábitos coexistem até hoje com a modernidade, hábitos desconhecidos de muitas pessoas da capital e que são dignos de um filme do leste europeu. Agora, imagine essa cidade a mais de trinta anos atrás.

Entrevista 01

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Entrevista 01. Transcrição áudio entrevistada: Débora . Está ausente as minhas perguntas.

Débora: - Minutinho, você quer que eu  me apresente, não revele o nome desta cidade  e ao te mencionar seja na terceira pessoa? Mas, qual sentido disso, se queres contar as nossa histórias? Apesar de muito jovem, você está nela, esqueceu?

Débora: -Tudo bem, vamos tentar, eu me chamo Débora, na época tinha 25 anos, vim de uma capital, onde eu era professora em uma escola e dividia o apartamento com o meu namorado. Por razões, deixadas no passado, eu  estava fugindo para a minha liberdade. Mal imaginava as aventuras que eu teria pela frente.

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Débora: - Sobre o meu primeiro dia nessa cidade, deixe-me pegar um conhaque, quer uma taça?....Que ano deveria ser aquilo, verão de 92,93...faz tanto tempo...

Débora: - Já haviam se passado dez horas desde que eu saí da minha caótica capital, rumo às cachoeiras no interior do país. Pelos meus cálculos, faltava pouco tempo para chegar ao meu destino, já estava próximo a entrada da cidade, bastava  localizar o hotel-fazenda, onde eu   trabalharia pelos próximos meses, sendo guia especializada em biologia, para realizar passeios promovidos pela  agência de turismo que me contratou.

Débora: - Eu fiquei absolutamente fascinada com a linda paisagem da região, estacionei o meu carro no acostamento da rodovia, de onde eu poderia contemplar e talvez fotografar o pôr do sol. Quando eu saí do carro a sensação de alívio foi imediata, estava muito quente, me aproximei do que parecia ser um mirante  e me permiti ficar ali alguns minutos, junto a  alguns turistas que também admiravam a serra.

Débora: - Da altura de onde eu estava, contemplei os cânions da região,  com seus imensos paredões naturais e suas descidas íngremes que finalizaram em vales profundos, cobertos de inúmeras tonalidades de verde da vegetação. - Definitivamente, aqui é o lugar que escolhi para passar as noites contando as estrelas! - Falei aos plenos pulmões.

Débora: -Eu estava eufórica, até aquele momento,  eu vivia a maior aventura da minha existência. Dane-se se alguém me julgasse uma louca. Eu fechei meus  olhos,  senti o  vento brincando com as mechas dos meus cabelos, não contive um longo suspiro. Suspirei como se isso fosse libertar a minha alma. Abri os meus braços como se isso fosse libertar as minhas asas. - Estou fazendo a coisa certa? - Perguntei.   

Débora: -Naquela época não era assim tão simples, uma mulher solteira e jovem se aventurando na vida rural, sem lenço ou documento, por isso,  trabalhar em um hotel que promovia passeios, para mim que ainda era uma bióloga inexperiente, me pareceu a melhor alternativa, e talvez, ficar mais próxima do sonho da minha vida, falo sobre isso depois.

Débora: - Agora,  não tem mais volta! -  pensei em voz alta, quando percebi uma criança de colo  me olhando com curiosidade, retribui as  caretas que ela me oferecia.  Quem sabe agora, aprenderia  a viver sozinha,  pelo menos, até  encontrar alguém  disposto a compartilhar uma vida  estável e ter belas crianças como aquela ao meu lado, me dei conta que de novo  perdia  tempo colocando um homem nos meus planos. - Cacete! -  Dessa vez foi a atenção da mãe que despertei,  a senhora me olhou de cima a baixo e se afastou aborrecida.

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Débora: - Sim, foi neste dia que nos conhecemos,  eu o odiei no início, mas, talvez, ele possa explicar melhor. Você já o entrevistou?...Não se preocupe eu darei alguns telefonemas, você terá a sua entrevista com ele.

Débora:- Aonde eu estava mesmo?...claro, eu teria continuado ali perdida em meus pensamentos, brigando comigo mesma,  como já tinha feito inúmeras vezes,  se não fosse  o som das buzinas e dos  roncos das motos que seguiam pela estrada. - Parecem com aquelas motocicletas antigas que assistimos naquele filme, qual  é mesmo o nome? - Ouvi alguém perguntar.

Débora: -Eu não sei, provavelmente, por pena dos  quatro rapazes, cada um em sua moto,  parecendo bastante sujos de terra  e cansados, quando me dei conta, eu participei da troca de  acenos de mãos, entre o grupo de motociclistas e os turistas. Infelizmente não demorou  segundos para   me arrepender desesperadamente,  pois, um dos motoqueiros olhava na minha direção e ameaçou retornar, só desistiu quando os outros  fizeram sinal para que ele continuasse o percurso.

Débora: - Pior que pareciam tão charmosos e perigosos ao mesmo tempo,  com aquelas calças jeans, jaquetas e botas de couro! Bufei comigo mesma, eu estava sem tempo  para bater papo com os últimos homens da face da terra, aos quais eu gostaria de  conhecer naquele maravilhoso fim de mundo,  ainda sim,  peguei minha câmera amadora,  a resolução não era aquelas coisas, e  fotografei os motoqueiros se afastando, lógico, que por mero registro da viagem. Enfim, voltei para o meu Fiat Uno, liguei o rádio do carro na estação da região e aumentei o volume a toda altura. Não me lembro o que tocava na hora, mas, se aceita uma sugestão, sou uma senhora antenada...

"Esta é uma obra de ficção, qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência"

Estradas CruzadasOnde histórias criam vida. Descubra agora