Mais outro dia, mais outra manhã e claramente mais outra manhã em que não consigo dormir. Acordo tão congelada ao ponto de nem sentir os meus dedos dos pés. E eu a pensar que o clima estava a aquecer. Vou à casa de banho e olho desagradada para o espelho e tenho olheiras e os meus lábios estão roxos, um roxo que só pertence aos lábios de um cadáver. Bem, eu sou um cadáver...basicamente um cadáver ambulante.
Abro as cortinas e até as janelas estão frias. Um arrepio desce pela minha coluna e abano o meu corpo. Como tenho, obviamente, muito tempo até o café abrir tomo um banho. Tiro as minhas roupas e para além de notar as minhas curvas noto também as marcas, as cicatrizes. Algumas têm ligeiras elevações e noto também novas cicatrizes que ainda não tinha notado das outras vezes que tomara banho. Uma na zona abdominal,na vertical e profunda, cinco espalhadas nas minhas pernas e menos profundas. Por o que é que será que Ela passou? Porquê tanta dor? estas são perguntas às quais nunca terei resposta.
Ligo o chuveiro e sinto as pingas escaldantes de água a fazerem contacto com o meu corpo, fazendo este ficar cada vez mais quente. O meu cabelo torna-se mais escuro ficando quase um castanho negro. Passo as mãos pela cara enquanto esta fica rosada devido à temperatura da água. Quando acabo, enrolo uma toalha em volta do meu corpo e limpo o vapor que se notava no espelho. Os meus lábios ainda estão roxos. Pergunto-me se será uma constipação. Bem, eu morta já estou. Mal não me pode fazer.
Hoje, não sei porquê sinto-me ainda mais vazia do que normalmente. Parece que me arrancaram algo mas a minha memória não permite relembrar o que é que esse "algo" é.
Tento comer algo e acabo por simplesmente comer uma barra de cereais. Visto uma camisola larga e calças iguais. Vou até ao café e sento-me novamente no pequeno degrau, à espera do Owen.
Passados 15 minutos vem ele a assobiar uma música e com um sorriso no rosto que me alcança a vista mesmo de longe. Oiço o ruído que as chaves fazem nas suas mãos e o som que os seus sapatos fazem na calçada.Não sei porquê, mas acho que poderia ouvir aquele som para sempre e não me fartar.
-Olá Di!-disse ele a sorrir, como sempre.
-Di?
-Ah pois, não te importas que seja a tua alcunha? E que tal Ana? Ou Dia? Ou Nana?
-Diana é bom,por favor...- é a única coisa que me prende à minha verdadeira identidade.
-Erm..okay,certo... -ele abre a porta e sigo-o lá para dentro.
Ele já vinha para o trabalho vestido com o uniforme, então fui para o vestiário. Tirei a roupa ficando só com as calças largas e o sutiã desportivo e peguei na camisa mas notei que esta ainda estava manchada de sangue e nesse momento vi a porta abrir-se e o Owen entrou, desapercebido da minha figura.
-Hey, está aqui a nova camis-----
Ele interrompeu logo o que estava a dizer e ficou vermelho ao olhar para mim e eu fiquei pasmada a olhar para ele. Posso dizer que ficámos assim uns 5 segundos que para mim pareciam 5 horas, até ele me atirar com a camisa à cara e sair de rompante pela porta, batendo esta com força e gritando do outro lado :-Desculpa! Desculpa! DESCULPA!!!! Eu não sou um tarado juro! Esqueci-mede que estavas aí! Eu nã-
Agora eu interrompi-o.
-Deixa estar! Foi um acidente, eu é que peço desculpa! Devia ter-te avisado!
-Mesmo assim,peço imensa desculpa! Vou fazer-te um café para te compensar!
Ouvi passos apressados e o Owen a tombar contra esquinas de balcões e os seus pequenos gemidos de dor.
Vesti a nova camisa e as calças e atei o cabelo, depois fui beber o café e ajudar o Owen a preparar para a abertura.
•••
O café já tinha aberto, já estava cheio mas ainda só era o início da tarde.
Agora ando de um lado para o outro a anotar e a servir e a nunca parar. Nunca pensei que fosse requerido tanto esforço... Hoje o café parece estar ainda mais cheio do que o habitual. Depois de ter acalmado fui almoçar uma simples tosta e depois de volta ao trabalho.
Tenho andado tão concentrada no trabalho que me esqueci da minha verdadeira missão.
Agora sim as coisas acalmaram mais e tive tempo para observar as pessoas.
A maioria das pessoas estava acompanhada, quer por um familiar, amigo, namorado, cônjuge... Eram poucas as pessoas sentadas sozinhas. Mas essas pessoas emitiam tristeza. Acho que ninguém gosta de estar sozinho quando os outros estão a ser amados.
Não vejo nenhum possível par até notar um forte contacto visual entre duas pessoas. Aproximei-me mais e fiquei surpresa. Esses olhares entrelaçados pertenciam a pessoas do mesmo género. Dois homens para ser precisa. Eles devem se sentir julgados entre estas pessoas por isso falam com o olhar. Bem, posso lhes dar um empurrãozinho.
Passei pelo primeiro homem que devia ter uns 22 anos e dei-lhe um pequeno encontrão, desculpando-me de seguida. Depois dirigi - me à mesa do outro homem que devia ser ligeiramente mais novo que o primeiro e toquei-lhe na mão casualmente perguntando lhe se ele desejava mais alguma coisa.Fui de novo para o balcão e observei as suas reações. Para minha surpresa, foi o homem mais novo que se dirigiu ao outro, sentando - se a seu lado e daí fluiu uma conversa cheia de gargalhadas e toques.
-Um café expresso para a mesa 4!
-Vou já!-respondi eu.
Depois de tirar o café fui até à mesa designada, nunca tirando os olhos do café para não derramar nada. Pouso o café na mesa e digo :Aqui está, bom proveito!
Olho para o cliente e vejo - o. Vejo a pessoa cuja essência é característica. A pessoa que queria tirar a sua própria vida. Uma pessoa pálida com cabelos negros e encaracolados e com olhos azuis que tiraram o fôlego a qualquer pessoa.
Essa pessoa fica a olhar nos meus olhos e eu fico a desviar a cara.
-Erm...então boa tarde!-tentei fazer conversa.
Ele continuava a olhar para mim sem expressão. Passado uns segundos ele falou alto:
-AHHHH és tu! Bem me parecia que te reconhecia!
-Sim...pois sou.
-Uau isto é estranho...Pensava que nunca mais te ia ver.-disse ele continuando com aquela expressão irritante de 'eu não quero saber/deixa-me em paz'.
-Pois é.-virei as costas e dirigi - me novamente ao balcão.
-Ex-namorado?- perguntou Sonya.
-Não. Posso dizer que é um desconhecido.
-Parece aborrecido e deprimido.-disse ela com nojo na cara.
Fiquei a olhar para ela a transmitir - lhe que o que ela tinha dito era desnecessário.
Ela saiu para a cozinha e fui levantar a chávena dele.
-Com licença.-disse enquanto retirava a chávena vazia da mesa.
Ele agarrou-me no pulso e depois perguntou - me ao ouvido muito baixo se ele podia falar comigo.
A voz dele no meu ouvido enviou arrepios pela minha espinha abaixo e fez - me estremecer. Respondi que sim, simplesmente anuindo com a cabeça.
Quando ia pousar a chávena Owen parecia estar a olhar para mim de uma forma desapontada.
-Owen-disse-posso tirar um intervalo curtinho?
Ele disse que sim,zangado.
Saí com o rapaz de olhos azuis e o vento combinava perfeitamente com os seus caracóis. A maneira que os fazia dançar na sua cabeça.
- Sobre o que é que querias falar?
-Só te queria agradecer - disse ele - pelo que fizeste por mim,isto é. A maioria das pessoas nunca pensaria nisso. Mesmo eu não merecendo tu até que me salvasse a vida.
-Erm...de nada. Só agi por instinto.
-Nunca pensaste nisso?-perguntou ele curioso.
-No quê?
-Em...tu sabes...''sair deste mundo''?Porque é que eu haveria de ter pensado isso? Ah pois é. As cicatrizes...
-Nunca pensei nisso.-disse.
Ele depois olhou para o chão e começou a andar.
-Espera!-agora eu agarrei no pulso dele.-O meu nome é Diana. Por favor sempre que quiseres ajuda, encontra-me.
Ele olhou para trás e deu um ligeiro sorriso. Depois proferiu as seguintes palavras: Tens os lábios roxos. Elias,prazer.///////////////
End deste capítulo. Espero que tenham gostado e votem e comentem pfv significa tudo para mim!!bjs e até ao próximo capítulo ❤
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•Waking up dead•
Roman d'amour•Diana, uma rapariga normal, tão normal que até é cliché. Até que um certo dia de São Valentim muda a sua vida por completo•