Cuidado com a atração

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Campo XCV; Quinta-feira (dois anos antes); 11h30

Parafusar as estruturas, instalar o regulador de pressão e o termômetro, soldar. Parafusar a estruturas, instalar o regulador de pressão e o termômetro, soldar. Parafusar as estruturas, instalar o regulador de pressão e o termômetro, soldar. Parafusar as estruturas, instalar o regulador de pressão e o termômetro, soldar. Parafusar as estruturas, instalar o regulador de pressão e o termômetro, soldar. Parafusar as estruturas, instalar o regulador de pressão e o termômetro, soldar. Parafusar as estruturas, instalar o regulador de pressão e o termômetro, soldar.

Hailee estava tão acostumada com aquele processo, que nem mais precisava pensar para realizá-lo com maestria. Tinha pouco mais de dez anos quando começara a ajudar o pai na oficina e desde então, montar os radiadores era a sua função. No começo, ela apenas auxiliava, mas não demorou muito para que a sua predisposição com a tarefa conquistasse a confiança do pai e ela assumisse a tareta sozinha. Todos os radiadores que saíam dali eram montados por ela.

Todos os radiadores dos tanques militares que circulavam pelas ruas eram montados por uma garota de dezesseis anos.

Mas, como foi dito anteriormente, ela tinha muita predisposição para o trabalho. Na verdade, ela tinha uma predisposição um tanto quanto peculiar com os metais.

Hailee estava jogada em sua cadeira de plástico no segundo andar da oficina, brincando de empilhar algumas brocas enquanto os parafusos giravam sozinhos nas placas de metal do radiador, sem que ela movesse um dedo sequer.

-Hailz!

O grito do pai fez com que a garota quase pulasse da cadeira de susto, deixando todas as brocas que empilhava caírem na mesa e procurando sua chave de fenda no meio daquela bagunça, puxando o radiador para si num movimento brusco quase no mesmo instante em que o homem barbudo todo sujo de graxa entrou no cômodo.

-Oi, pai. -Ela respondeu forçando um sorriso, fingindo fazer força para parafusar a placa de metal em sua mão.

-Quantos hoje?

-Vinte e cinco. -Ele disse de imediato e ele franziu o cenho, unindo as grossas sobrancelhas grisalhas. Hailee sentiu vontade de bater na própria cara por ser tão idiota.- Mas é que eu... É porque... Eu só estou parafusando, né, daí é rapidinho, eu vou montar tudo só depois que tiver parafusado um monte e... Você sabe, eu só estou juntando as placas e isso é muito rápido e...

-Você está dividindo as etapas, isso é muito inteligente, filha! -Ele sorriu largo e a garota relaxou os ombros em alívio.- Você está produzindo cada vez mais e isso é muito bom, se continuar assim, vamos suprir todas as encomendas antes do prazo e iremos ganhar praticamente o dobro.

-Acho que a gente consegue bater essa meta. -Ela sorriu amarelo e ele assentiu, escorando-se no batente da porta com um sorriso orgulhoso ao observá-la.- Faltam só mais trezentos e cinquenta e sete.

-Eu também acho que a gente consegue... Bom, mas eu não vim aqui pra falar disso e atrasar seu trabalho, só queria te lembrar daquela calota que eu deixei aqui ontem, eu vou precisar dela pra amanhã. -A garota limitou-se a assentir e ele mostrou o dedo positivo, dando duas batidinhas no batente antes de deixá-la sozinha novamente.

Hailee rolou os olhos para o canto do cômodo e os revirou ao ver a grande calota do tanque encostada na parede, toda amassada que por mais alguns danos não estava quebrada. Banal. Jogou o peso do corpo para o lado e a cadeira de rodinhas escorregou até o objeto, deixando-a analisar a calota de metal por um longo tempo antes de espalmar as mãos nela.

As fendas amassadas se esticavam conforme o toque da garota corria pelo metal, e aos poucos, as partes achatadas perdiam a profundidade, voltando ao design original. Com um toque mais delicado, ela deu um liga nas rachaduras e abriu um sorriso ao encarar a peça agora novinha em folha novamente.

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