A sua mente não está segura

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Em algum ponto dos túneis entre os Campos XXVIII e XXIX; Terça-feira (oito anos antes); 22h50.

Quando Andrew notou o entortar dos trilhos conforme Normani andava com as mãos fechadas em punho, ele percebeu que a coisa estava muito mais séria do que o que ele achava. Ela nunca havia se enraivecido tanto ao ponto de fugir, ela nunca havia se enraivecido tanto ao ponto de sair destruindo tudo o que via pela frente. Se as coisas já estavam críticas antes, agora ele sabia que o estopim havia chegado, e seja lá como haveria de suceder, Normani não aceitaria uma derrota.

-Se eles acham que isso vai ficar assim, estão muitíssimo enganados. -A negra rosnou entre dentes, seguindo em seus passos firmes sem nem mesmo voltar o olhar para o rapaz que a seguia.

-O que houve dessa vez?

-Dessa vez?! -Ela perguntou num riso sarcástico.- Houve o que sempre há e eu não sou obrigada a aturar!

-Normani, eles só querem proteg...

-Proteger a gente é o caralho! -Ela gritou e ele fechou os olhos com a dor que o atingiu quando suas costas atingiram fortemente o concreto.- Você não me venha ficar do lado deles, Andrew, porque você não sabe o que eles pensam, eu sei! Eu sei tudo o que se passa na cabeça deles e eles acham que somos duas crianças inúteis!

-Normani, eles não...

-Você é um idiota! Você acha mesmo que eles gostam de você? Ninguém gosta de você aqui embaixo, Andrew! Eles queriam o seu pai e não você! Você é mais um inútil aqui, mais um que não sabe fazer nada, e todas vez que eles olham pra você, pensam que seu pai deveria ter se salvado enquanto você se fodia lá em cima!

-Cala a boca! Você está mentindo! Todo mundo aqui embaixo gosta de mim, eles cuidam de mim, da gente, são a nossa família.

-Pra eles, você é um desperdício, Andrew. O seu pai era o herói que eles queriam, mas você? O que você faz? Fica se exibindo com as flexões de um braço só? Você não faz porra nenhuma, você não é merda nenhuma! Quando eles olham pra você, eles veem uma decepção, bem como o seu pai também via.

-O meu pai tinha orgulho de mim! -Andrew gritou com o rosto vermelho de raiva, mas a negra retorceu o rosto de forma amarga e fez com que ele batesse as costas com força novamente na parede do túnel.

-Ah, com certeza. -Normani uniu as sobrancelhas em falsa concordância, o sarcasmo transbordando em sua voz.- Aposto que foi com muito orgulho que ele arriscou a própria vida pra me salvar para que eu pudesse proteger você na ausência dele, tenho certeza que ele sentiu muito orgulho tomando aquele tiro pra me salvar só porque o filho dele não era capaz de se proteger sozinho.

Andrew fechou o semblante e a negra pôde ver a raiva se apossando das feições do rapaz.

-Você é inútil, Andrew. -Ela cuspiu as palavras com desdém.

-Eu não tenho culpa por ter nascido assim! -Ele explodiu num berro.

-Mas você não faz nada pra mudar isso! E é por isso que a cada dia que passa eles te desgostam ainda mais!

-E o que você queria que eu fizesse? Não é como se eu pudesse virar um mutante!

-Eu queria que você não abaixasse a porra das orelhas pra tudo que nos mandam!

-São eles que comandam aqui em embaixo! Eu sou obrigado a abaixar as orelhas!

-Eu sou mais poderosa que todos eles! Eu deveria estar no comando! Eles deviam acatar as minhas ordens e não contrário!

-Você tem doze anos.

-E mesmo tendo doze anos, sou mais poderosa que todos eles juntos, e eles são uns idiotas que não percebem isso. Estamos passando fome há semanas porque aqueles imbecis não me dão ouvidos! Eles sorriem pra mim e me chamam de querida, mas eu consigo ouvir a mente deles, eu consigo ouvir, eu ouço quando eles me chama de queridinha enquanto pensam que eu sou uma pirralha inútil e enxerida. Eu ouço quando eles insultam você, eu ouço tudo, Andrew, e eu sei que eles não se importam com a gente, eles não gostam da gente porque não somos o que eles queriam. Eles queriam o seu pai e não duas crianças inofensivas e inúteis.

-Eu posso ser tão bom quanto o meu pai, eu posso ser tão forte quanto ele. Eu treinei pra isso, eu nasci pra isso.

-Você é uma bichinha passiva nas mãos deles, isso sim!

-Eu não sou!

-Então prove. -Normani rosnou com os olhos brilhando em azul celeste.

-Como você quer que eu prove? O que você quer que eu faça? -O rapaz perguntou angustiado, deixando os braços caírem ao lado de seu corpo.- Você fala tanto de mim, mas o que você faz além de bancar a revoltadinha? Tudo que eu te vejo fazer é gritar com eles pra no final das contas, acabar seguindo suas ordens. A única coisa que te diferencia de mim são os surtinhos temperamentais que você tem, e a cada dia que passa, eles parecem desprezar ainda mais você, e não a mim.

-Eles não gostam de mim e pelo menos nisso são sinceros. Eles não gostam de mim porque me temem.

-Ah, claro. -Andrew riu, rodeando a garota que parecia ser capaz de explodir a qualquer momento.- Aposto que eles estão se cagando de medo de você, uma garotinha de doze anos.

De repente, todos os barris e sucata espalhada por aquele túnel estavam flutuando e no mesmo instante, foram todas arremessadas em volta de Andrew, amassando-se lentamente, gerando uma alta, aguda e dolorosa sinfonia metálica arranhada, fazendo com que o garoto caísse de joelhos e com os braços ao redor da cabeça, tapando os ouvidos.

-Eles não tem ideia de nem um terço das coisas que eu sou capaz de fazer. -Normani rosnou se aproximando e o rapaz se encolheu mais ainda.- E vão se arrepender amargamente por todas as vezes que acharam que eu era uma garotinha inútil.

-O que você está pretendendo fazer, Normani? -Andrew perguntou, engolindo seco.

-Depende. -Ela ponderou num arquear de sobrancelhas.- Você vai ficar do meu lado ou não vai?

-Eu sempre fico. -Normani sorriu satisfeita e esticou a mão para ajudá-lo a se levantar.

-Primeiro, eu vou acabar com você. -Ela murmurou casualmente, saltitando a sua frente sem nenhum resquício da raiva que a assolava há segundos atrás. Andrew arregalou os olhos ao ouvir tais palavras e ela riu de sua reação.- Eu vou acabar com você, Andrew, mas vou fazer isso de dentro pra fora.

-Do que você está...

-Você não vai mais obedecer ninguém, não vai mais abaixar a cabeça pra ninguém. Eu vou acabar com esse marica que existe dentro de você e te transformar no garoto que seu pai queria que fosse. E quando essa mudança for notada por eles e te julgarem pronto para subir numa incursão, você vai me dar cada detalhe de tudo o que acontece e como acontece.

-E o que você vai fazer com isso?

-Eu vou acabar com eles também.

**

E aí, gente? Essa é a penúltima galáxia e eu sei que ela foi pequena, mas não é como se eu pudesse dar muitos detalhes sobre ela sem revelar partes rudes da história que vão fazer parte de momentos importantes. Esse capítulo foi só uma deixa para que o futuro entendimento seja mais fácil e faça sentido. 

Enfim, o que vocês acharam? A Mani é como vocês esperavam? E vocês já sabiam que a garotinha que o pai do Andrew salvou era ela? Um tanto quanto agressiva pra uma bichinha de doze anos, né? O que vocês estão achando de tudo até agora? Bom, eu adoro ouvir tudo o que vocês tem a dizer sobre a história, toda e qualquer opinião é muito bem vinda então vocês podem comentar o que quiserem e caso quiserem falar algo comigo, estou lá no targaryenblake no twitter com as mentions e dms abertas pra vocês. 

É isso aí, espero que estejam gostando dessa penúltima parte de agdu porque acdu está prestes a começar ;)  

As Galáxias de UranoOnde histórias criam vida. Descubra agora