O escudo é o seu melhor amigo

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Campo XXV; Quinta-feira (quatro anos antes); 20h00.

A expressão rígida do rapaz se contorcia dolorosamente a cada choque que os militares acionavam em sua algema enquanto o arrastavam para fora da caminhonete a caminho da grande casa branca a sua frente. A dor era tamanha que a sensação que tinha era de que agulhas penetravam seu pulso para dar-lhe aquele solavanco elétrico, mesmo assim, não se permitia chorar, falar ou deixar escapar um grunhido em protesto, seguia o mais firme que conseguia manter-se, com a cabeça erguida e um olhar que transbordava ódio a quem quer que lhe encarasse naquele momento.

Apesar de saber qual fim tomaria seu destino, Bronze nunca soube detalhes sobre ele. O povo pouco sabia e muito dizia, mas a verdade dos fatos havia morrido com todos aqueles que fizeram o mesmo caminho que agora ele estava fazendo, independente do que houvesse dentro daquela casa e pelo o que mais teria de passar, nada lhe aterrorizava mais do que saber que depois de passar por aquela porta, não havia mais volta, ele morreria ali dentro. Em fato, era justamente com aquele fim que o estavam levando até lá: ele iria explodir junto com aquela construção.

Para a sua surpresa, o ambiente era um tanto quanto adorável, como qualquer outra casa que já havia visitado, até chegava a lembrar um pouco a sua própria, mesmo tendo o triplo do tamanho e muito mais quartos do que pudera contar naquela caminhada arrastada pelos homens de farda branca. As paredes eram beges com alguns quadros de paisagens aqui e ali, passaram por uma grande sala com cinco sofás enormes, mesas com jogos de tabuleiros, algumas bonecas e brinquedos no chão. A única coisa que o fazia ter certeza que aquela não era uma casa qualquer, era a ausência de janelas e as inúmeras portas de metal nos corredores, todas sem maçaneta e com um teclado digital no meio delas.

Eles pararam de caminhar no terceiro corredor e o guarda que segurava seu braço direito o largou bruscamente, digitando rapidamente um número enorme na porta enumerada como 12. O outro guarda soltou suas algemas e o negro se permitiu relaxar os ombros num breve instante de alívio antes da porta ser aberta e eles o empurrarem à pontapés, fazendo com que Bronze caísse de quatro no chão, jogado para dentro do quarto como se fosse um animal.

Um feroz rugido fez com que o negro se levantasse no mesmo instante para fugir dali, mas a porta de metal se fechou no mesmo instante.

-Eu não quis assustar você, foi mal, mas é que se eu não fizesse nada eles iam entrar e acho que nós dois concordamos que não são lá o que podemos chamar de companhia agradável.

A voz chamou a atenção de Bronze que arregalou os olhos ao virar para trás e se deparar com um garoto sentado da cama de cima da beliche; se é que aquilo era realmente um garoto.

A cabeleira loira do moleque formava uma majestosa juba ao redor de toda a sua cabeça e ele tinha olhos castanho-amarelados feito um verdadeiro felino. Seu rosto tinha linhas rígidas de expressão e lhe dava um tom um tanto quanto animalesco, ele sorriu de forma divertida e Bronze sentiu um frio na barriga ao encarar seus dentes que na verdade, eram grandes presas que mal lhe cabiam na boca.

Aquele garoto definitivamente não era apenas um garoto.

-Não é porque eu pareço um bicho que vou agir como tal. -O loiro murmurou num revirar de olhos.- Isso é preconceito, sabia?

-Não é como se eu fosse pagar pra ver.

-Neste momento, você não me parece ter muitas outras saídas. -O garoto pulou da cama, caindo perfeitamente de pé bem na frente do negro. O garoto loiro soltou um rosnado gultural que não se parecia nem um pouco com nenhum som humamo, e o negro recuou, batendo violentamente as costas na parede por não ter mais o que andar pra trás. Ao ver o medo do rapaz, o garoto de juba soltou uma gargalhada, esticando a mão para que o negro apertasse.- Relaxa, cara. Estamos no mesmo barco. Meu nome é Dandelion.

As Galáxias de UranoOnde histórias criam vida. Descubra agora