Apague as luzes

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Campo IX; Segunda-feira (dois anos antes); 15h00.

-Eu te amo, tá? -A mulher disse em meio as lágrimas, segurando o rosto do filho bem próximo ao seu para que pudesse encará-lo por mais algum tempo, beijando-o uma centena de vezes.- Independente do que vai acontecer, eu te amo, eu te amo muito, tá? Não esquece!

Luke assentiu abaixando a cabeça, para que a mãe não visse que ele também estava prestes a chorar. Quando ela o abraçou, ele sentiu as lágrimas escorrerem por seu rosto, e tudo o que ele queria era afundar em seus braços e não largá-la nunca mais, mas o aperto das algemas em seu pulso não o deixavam fazer muita coisa.

-Liz, eu preciso levá-lo. -O patriarca da família murmurou sem tirar os olhos do chão e a mulher agarrou o filho contra si, fitando amargamente o marido fardado.

-Ele é nosso filho! Você é a porra de um General! Devia poder fazer alguma coisa contra isso!

-Ben e Jack também são nossos filhos. Se eu não o entregar, todos nós vamos pagar por isso, eu já fiz o máximo que podia.

-Mas ele...

-Ele eletrocutou um pacificador, ele matou um pacificador! O que você queria que eu fizesse?! Os outros guardas também viram, eu não pude fazer nada, eu não pude me recusar! Com muito esforço eu consegui livrá-lo da sentença e tive que abusar da minha patente pra isso, mas ele precisa ir agora.

-O que vão fazer com ele? O que vão fazer com o meu filho? -Liz gritou em prantos, apertando os braços em volta do garoto.

-Eu não sei. -O homem respondeu com sinceridade.- Mas me garantiram que ele ficaria vivo, então preferi optar por isso do que mandá-lo a bombardeio.

-Você tinha que impedir isso... Você tinha que impedir isso!

-Eu não tenho escolha!

-Ele é seu filho! Você é um General, usa a porra da sua autoridade!

-Você acha que eu queria que isso acontecesse? Você acha que eu não tentei protegê-lo? Isso está fora do meu alcance, os guardas viram o que ele fez! Ser meu filho não livra da lei, muito pelo contrário. Eu não queria isso! Eu não queria que fosse assim, mas justamente por ser um General que eu preciso cumprir as regras com afinco, mesmo quando se trata do meu filho.

-Se alguém tentar te matar, é só eletrocutar todo mundo. -Jack disse como se fosse óbvio e o garoto quase sorriu, encostando sua cabeça no ombro do irmão. Com os pulsos algemados, aquilo era o máximo que podia fazer.

Ben se aproximou dos irmãos com os braços apertos e abraçou os dois ao mesmo tempo, apertando-os fortemente num abraço de urso em grupo que quase nunca costumava acontecer. Agora provavelmente não iria acontecer nunca mais.

O momento foi interrompido pelo pai que pesou a mão no ombro de Luke, separando-os dos irmãos sem nem uma palavra sequer, guiando-o para fora de casa e o garoto nem pôde falar com a mãe novamente. Liz gritava para que o marido lhe devolvesse o filho, e se não fossem os outros dois mais velhos a segurarem, ela teria saído correndo e enfrentado todos os militares na frente de sua casa, acabando por sentenciar toda a família.

Os guardas fizeram menção se aproximar, mas o General Hemmings os impediu, levando ele mesmo o filho para a viatura. A grande caminhonete toda fechada e camuflada, com a carceiragem interior toda feita de pedra, sem nem mesmo uma janela para que os cativos respirassem. Luke já a tinha visto um milhão de vezes, mas nunca imaginou que um dia ele seria um dos levados.

-Interceder por essa garota quase acabou com a minha carreira. -O general murmurou num tom que só o filho podia ouvir, e essas palavras o fizeram franzir o cenho interrogativamente.- Mas eu não queria que você fosse embora pensando que eu não me importo.

As Galáxias de UranoOnde histórias criam vida. Descubra agora