A visão e a adaga

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Lauren passou pela porta de sua casa muito atrasada e já podia prever a bronca que iria levar de sua irmã mais velha.

Era sempre assim, toda vez que ela atrasava cinco minutos levava um sermão, deve ser porque depois do acidente sua irmã mais velha ficou responsável por Lauren e isso meio que é de mais pra ela.

- Ta atrasada- diz Sabine, sua irmã mais velha, agora sua única irmã.

- Desculpa- diz Lauren baixinho- só fui andar um pouco depois da aula- Ela não contou pra Sabine dos estranhos acontecimentos no beco porquê: 1) ela não iria acreditar. 2) iria perguntar o que ela estava fazendo com um garoto no beco.

Então Lauren não disse nada e foi para seu quarto no segundo andar.

O quarto estava do mesmo jeito que deixara hoje cedo, a mesma cama de casal com um lençol rosa, o mesmo closet com a porta aberta que Lauren tinha deixado e a janela aberta deixando o vento entrar e balançar as cortinas.

Ela vai até a janela lentamente, a vista da cidade de Nova York, os prédios por toda parte, quase todos eles parecem iguais... Exceto por um.

Apenas um prédio é bem maior do que a maioria, o prédio é metade totalmente de vidro e a outra metade é dourada, separando as duas metades tem um enorme símbolo do infinito dourado, da mesma largura do prédio.

Lauren já pesquisou sobre esse prédio, é uma escola para super-dotados ou algo assim.

Ela vai para o banheiro e tira toda a roupa, ela liga o chuveiro e entra na água morna.

Lauren se observa no espelho que ocupa todo o box enquanto a água molha todo seu corpo, ela nunca se sentiu igual a suas antigas amigas, todas elas viviam falando que deviam emagrecer que estavam feia, Lauren sempre fora o contrário, sempre achou e até hoje acha que seu corpo é perfeito.

Ela se lembra da primeira vez que tomou banho depois do acidente, seu corpo todo ardia, ela quase gritou de dor mas acabou passando, Lauren nunca foi o tipo de pessoa que reclamava demais, alias, ela nunca foi uma pessoa que fala demais.

A dor dos hematomas visíveis passou, mas a dor de ter perdido a família não, e ela acha que nunca vai passar, afinal de contas, a única pessoa culpada pela morte de seus pais e irmã é ela.

******

Ele trava a última tranca da porta. Pronto, agora aquele idiota não tem como fugir, pensou ele.

Trevor começa a andar pelo corredor escuro, todos já foram dormir, ele decidira ficar mais um pouco para tentar tirar alguma coisa do prisioneiro, mas nada.

Acha a porta de seu quarto, tudo que ele consegue ver la dentro é sua adaga prateada em cima da cama. Ele entra e fecha a porta, vai até a comoda abre a gaveta e retira o caderno de dentro, o caderno que Trevor carrega consigo a mais de 900 anos.

Ele pega a adaga da cama e o lápis da comoda, vai até a janela abre e sai na sacada, por um momento fica olhando a vista da cidade, então senta no chão e abre o caderno na primeira folha.

*****

Lauren encara o próprio reflexo no espelho. Esperando, se concentrando, tentando fazer o que ja fizera várias vezes.

Os olhos começam a ficar mais brilhantes, a pupila do olho verde aumenta enquanto a do olho azul diminui, depois ao contrário e começando a acelerar. A garota começa a ficar tonta, como se tivesse com muito sono então... Tudo escureceu.

Mas Lauren ainda estava com os olhos abertos, parecia que alguém tinha apagado a luz, ela esperou.

Não demorou muito para começar a aparecer um campo vasto e perfumado de árvores e flores vibrantes que tremeluziam, o céu azul e com poucas nuvens surgiu logo depois, um riacho surgiu depois, seguido por uma ponte que ligara o campo vasto a... Nada.

Simplesmente nada, aonde terminava a ponte era tudo branco, como se tivesse faltando alguma parte.

Do outro lado do vale surge uma floresta e bem no meio do vale surge um carro destruído. Porém, onde Lauren está não tem nada, onde ela está pisando é tudo preto, sem nenhuma forma. Ela está olhando para a paisagem que surgiu como uma pessoa assistindo a um filme ou algo do tipo.

Aparece um garoto, ele está de costas para Lauren, vendo o carro destruído. Ele mexe nos destroços e tira uma garota de lá, a garota ta inconsciente.

Lauren estremece quando vê o rosto da garota, a garota é ela.

O rapaz coloca a outra Lauren deitada no chão, ela está com a camiseta toda ensanguentada, e com um corte horrível na testa. Ele tira uma adaga da cintura, pega o corpo flácido da garota e vai até as margens do riacho.

Ele deita ela novamente no chão, faz um pequeno corte na mão com a adaga, deixa a mão em forma de concha e pega um pouco de água do riacho.

A água se mistura com o pouco de sangue do corte, ele leva a água até a boca de Lauren e faz ela beber.

Depois ele se inclina e beija levemente ela, sem reparar Lauren leva a mão aos lábios enquanto vê a outra Lauren sendo beijada por aquele estranho.

O estranho se levanta e se vira, de frente pra verdadeira Lauren, mas antes de Lauren levantar os olhos para olhar seu rosto, tudo desaparece e ela está de frente para o espelho novamente.

Seus olhos estão voltando ao normal, mas o que ela viu não sai de sua cabeça. O que isso significa?. Sua vida ficou totalmente sem sentido depois do acidente, e aqueles caras no beco?, o quê será que eles são?. São tantas perguntas, Lauren sente que não vai conseguir guardar tudo isso pra ela, como se nada tivesse acontecido, como se tudo tivesse normal sendo que a palavra "normal" nem tem mais sentido pra ela.

Ela sai do quarto correndo e vai em direção ao quarto de Sabine- sua irmã-, chega na porta mas antes de bater se contém, ela ouve uma voz que não é de sua irmã.

- Então, quando ela vai se aliar a nós?- era uma voz rouca.

- Na hora certa ela vai se juntar a nós- a voz de Sabine estava sem emoção, como se tivesse certeza- mas eu tenho que te contar uma coisa.

- O que foi agora?

- Ela viu Trevor hoje.

- O que?- a voz do homem ficou mais alta e era claro que estava com raiva- como você permitiu isso.

Lauren não desgrudava o ouvido da porta, assustada, apavorada.

- Só porque ela viu ele não quer dizer que ele tenha a visto- diz Sabine sem mudar o tom de voz- e abaixa o tom de voz pra falar comigo seu idiota que não serve pra nada.

- Sabine isso é sério, se ela passar para o outro lado vai deixa-los mais fortes- a voz do homem já estava mais calma.

- Ela vai vir para o nosso lado- diz Sabine- tenho certeza disso.

- Para o seu próprio bem, espero que esteja certa, você sabe que se você falhar a Gabee vai tirar você de jogada.

Lauren ouve Sabine suspirar.

- Eu sei, agora va embora.

Lauren escuta o som da janela sendo aberta e volta para o seu quarto e vai para a janela.

Ela vê a cena mais esquisita que já vira, um garoto com um tipo de... Asas?, voando pra longe da janela de Sabine, parecia um anjo, mas Lauren sabia que não era.

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