Ele havia conseguido.
As quatro esmeraldas negras, que sozinhas eram capazes de esmagar gigantes e dizimar exércitos, estavam reunidas. E em mãos erradas.
Sangue inocente fora derramado, vidas foram sacrificadas, mas era um preço baixo comparado à recompensa obtida. Reluzindo como estrelas da morte em um horizonte, as quatro estavam em sua manopla. Com uma delas, era possível destronar mil reis; com todas, até os deuses se curvariam.
Mas aquele não era o momento para ações de tamanha magnitude. Era hora de esmagar os insetos que tentaram impedi-lo. Sim, esmagar aqueles que levantaram espadas jurando vingança, clamaram por justiça com suas bravatas vazias, lutaram em defesa de ideais patéticos.
Ajoelhou-se. Contemplou a noite, agradeceu pela conquista e fez um juramento às forças negras do Cosmo. Jurou que os únicos joelhos que se dobrariam daquele momento em diante seriam os de seus inimigos implorando clemência. Jurou que liberdade não seria mais um direito, mas sim uma conquista.
Quando a prece foi terminada, os deuses choraram nos céus longínquos.
***
A Rainha Yalanthara olhava fixamente para o globo mágico. Por intermédio de encantos, era possível visualizar nele os acontecimentos do mundo lá fora. Estava imóvel.
- Mais duas cidades de grande porte foram tomadas ao norte – alguns conselheiros de guerra gritavam uns aos outros tentando se manterem informados – Pouquíssimos sobreviventes.
Os comandantes de batalha corriam de um lado ao outro como baratas tontas buscando definir estratégias, gritando ordens contraditórias, e tentando, em vão, encorajar os soldados com discursos não muito entusiasmados.
Os combatentes vestiam suas armaduras desajeitadamente, pegavam, por engano, as armas de seus colegas ao invés das suas, e tinham dificuldade em entender ordens simples, tamanho seu desespero.
Mas mesmo com generais e conselheiros gritando, soldados murmurando, e crianças chorando, havia um silêncio que não era quebrado. Era o silêncio da Rainha.
- No passado, nossa Rainha já esteve na guerra – os conselheiros sussurravam para não serem ouvidos por Sua Majestade – Ela viu gente morrendo, gente chorando, cidades desmoronando.
A monarca continuava insondável, pensamento distante, olhar compenetrado nas imagens projetadas no globo à sua frente. Não ouvia o que seus conselheiros de guerra conversavam.
- Nossa Rainha quer ficar frente a frente com quem está fazendo isso com o povo dela. Ela quer olhar para o desgraçado. Olhos nos olhos.
Os dois conselheiros se afastaram, pois tiveram a nítida impressão de que Sua Majestade os ouviu. Caminharam uns poucos metros em meio ao turbilhão de generais e soldados atabalhoados e seguiram com sua conversa.
- Essas imagens agora no globo são do vilarejo de Dahn. Há poucos meses, uma violenta chuva destruiu todas as casas, deixando o vilarejo inteiro desabrigado. A rainha foi pessoalmente ao vilarejo com centenas de servos. Em poucos dias, novas casas foram erguidas. Desta vez, mais resistentes. Nunca mais as chuvas foram um problema para aquele povo.
O conselheiro, que apenas ouvia, derramou as primeiras lágrimas.
- E agora estas mesmas casas estão em chamas e seus habitantes estão mortos.
Metros adiante, frente a frente com aquelas imagens, a Rainha sentia ódio demais para chorar.
- Vou ficar frente a frente com você seu desgraçado. Quero olhar dentro de seus olhos e fazê-lo se arrepender do que está fazendo com meu povo.
***
- Eles chegaram, Majestade – o guarda se ajoelhou após o anuncio.
- Ordene que entrem.
Os seis aventureiros ingressaram na Sala do Trono. Colocaram cuidadosamente suas armas e demais pertences no chão e, cabisbaixos e silenciosos, prostraram-se no tapete vermelho em reverência à sua monarca.
- Estou feliz que vocês finalmente chegaram.
Um dos seis se levantou. Era Murdaryk. Cabelos desgrenhados, cicatrizes pelo corpo, e sobre si, apenas uma armadura feita de peles que ele tinha dificuldade em ajeitar. Percebeu que sua Rainha aguardava que ele se manifestasse, largou a armadura, e apresentou seus colegas à monarca.
- Majestade, essa é Nan – apontou para uma halfling cheia de amuletos em seu pescoço – Ela é uma feiticeira, dessas que usam magia sem precisar estudar, nem ler livros. Este é Hydayn – era um jovem estranho, careca, coberto de estranhas tatuagens – É nosso monge. Ele não precisa de armas para matar os inimigos.
E assim seguiram-se mais alguns curtos minutos nos quais apresentou ainda Dargo – um guerreiro elfo que trajava uma imensa armadura e empunhava uma espada respeitável – Tahya, elfa druida voluptuosa, e Durud (definido por Murdaryk como “o faz-tudo” do grupo).
- Nós seis salvaremos o reino – Murdaryk fez questão de deixar claro.
- Realmente, espero que sim – Sua Majestade esboçou um sorriso, mas logo enrijeceu o cenho – Quero muito acreditar que sim.
Todos se dirigiram a um outro local dentro do palácio. Lá, conselheiros de guerra, generais, e mais uns poucos campeões do reino aguardavam para uma reunião que determinaria o curso de ação a ser seguido.
- Nós salvaremos o reino – Murdaryk reiterou – Não importa que nosso inimigo tenha essas esmeraldas. Nós derrotaremos o Conquistador Negro.