Flechas envenenadas voavam em direção aos poucos soldados que restavam. O cetro da Rainha se chocou contra o chão e uma onde de choque bloqueou parte dos ataques, mas, mesmo assim, alguns guerreiros foram atingidos. Espadas enferrujadas dos goblins mediram forças com as espadas polidas dos súditos. Um imenso clangor se fez ouvir. E os defensores do bem começaram a cair, um a um. Alguns morriam dando glórias a Rainha. Outros, perfurados pela arma inimiga, agarravam-se a vida por tempo o bastante para levar consigo seus assassinos. Ainda havia os que se sacrificavam voluntariamente para impedir que Nan fosse atingida. A halfling, concentrada em seus feitiços, não tinha como se defender adequadamente. Sua magia dava suporte a Hydayn, enquanto este travava, sozinho, uma impiedosa batalha corpo-a-corpo com quatro golens. Dois magos do reino arriscaram atacar diretamente o Conquistador Negro. Seus truques arcanos voltaram-se contra eles, resultando em sua morte instantânea.
Os minutos foram passando, levando com eles alguns trogloditas e muitos humanos. Os inimigos a serem mortos pareciam estar acabando mais rápido que a munição, e por isso alguns humanóides começaram a disparar em direção a Rainha. A chuva de flechas esbarrou em um campo de força gerado pelo poder do Cetro Real. Além de Hydayn e Nan, prestes a serem derrotados, só restavam três outros valentes guerreiros. Trogloditas, goblins, golens e Conquistador cercaram a Rainha e seus fiéis defensores. Crianças choravam a poucos metros dali.
- Acabou, Conquistador – Vierhut se manifestou, após receber de Durud a esmeralda que estava com Murdaryk – Eu tenho a quinta esmeralda e sei como usá-la.
Silêncio. Todos olharam em direção ao sábio. Sem entender, todos se limitaram a comemorar em silêncio ao verem Murdaryk e Dargo novamente de pé, curados por Tahya.
- O poder supremo será meu – Vierhut olhou para a Rainha, e depois para o Conquistador – Renda-se, Conquistador.
- Mais um tolo pretensioso que acha que, com uma esmeralda, vencerá aquele tem quatro delas.
- Agora que meu triunfo é inevitável, deixe-me contar a esses idiotas – o sábio olhou para a Rainha e seus servos – A quinta esmeralda negra, que está em minhas mãos, não serve apenas para aprisionar na Zona Negativa alguém que tenha as outras quatro. Claro que ela também faz isso. Mas o mais importante, é que a quinta esmeralda é um receptáculo. Com ela, mandarei você para a Zona Negativa, e depois absorverei o poder das outras esmeraldas para mim. Assim, poderei, de fato, usar o poder total das esmeraldas negras. Prepare-se.
Vierhut juntou as duas mãos e as colocou de frente a sua testa. Recitou palavras de algum idioma arcaico e as repetiu uma, duas, três vezes, tal qual uma litania.
- Desgraçado! – Durud vociferou – Nos enganou.
- Esqueça isso – a Rainha esbravejou – Vamos aproveitar o tempo que temos e atacar o Conquistador Negro.
- Não preciso destas esmeraldas – o Conquistador arrancou as pedras negras do cinturão e as jogou tão longe quanto pôde – Prenda-me na Zona Negativa agora, se for capaz.
A espada de lâmina vermelha foi desembainhada. Ela clamava por sangue, mas seu desejo não foi atendido. A primeira investida foi detida por Hydayn, que aparou o golpe com as mãos nuas. Murdaryk, apenas parcialmente recuperado, atacou com o machado, mas sua arma apenas arranhou a armadura inimiga. Os feitiços ofensivos de Nan já não tinham poder destrutivo suficiente para fazer mais do que ricochetear na couraça metálica do oponente. Tahya e Durud, cimitarra e adaga, golpearam em uníssono, mas as armas foram bloqueadas por um rápido movimento do braço esquerdo do Conquistador. Hydayn olhou para trás e viu que Vierhut continuava o ritual. Gestos enigmáticos, palavras incompreensíveis, todos em uma seqüência que era refeita vezes e vezes sem fim. Mas parecia não haver resposta por parte da quinta esmeralda negra.
Acuado, o Conquistador Negro girou a espada em um movimento circular, atingindo Nan e Durud. Houve sangue e prostração. Dargo, que até então apenas olhava de longe, aproximou-se e desferiu o golpe mais poderoso que podia. No mesmo instante, o machado Murdaryk e o punho de Hydayn também acertaram o inimigo. Um gigantesco ente, conjurado por Tahya, prendeu seus fortes braços em torno do pescoço do Conquistador, tentando estrangulá-lo. Nan invocou sua última magia. Um raio amarronzado entrou dentro do adversário retirando dele toda a força e resistência. De longe, a Rainha disparou com seu cetro um violento relâmpago. A armadura negra rachou-se. Em um dos pequenos vãos, penetrou uma adaga. A lâmina encontrou o coração e Durud gritou de alegria.
- Sem suas esmeraldas, não era grande coisa.
Trogloditas e goblins correram ao ver seu senhor derrotado. As crianças, antes reféns, foram simplesmente deixadas de lado. Os golens ali presentes simplesmente caíram, como se sua existência estivesse condicionada à existência de seu mestre. Antes de seu último suspiro, o Conquistador Negro ainda amaldiçoou a Rainha, seus guerreiros e todo o seu povo. Jurou vingança e morreu.
Enquanto isso, metros atrás, um ritual estava terminando.
- Vocês me pouparam um grande trabalho ao matá-lo – Vierhut sorriu para a Rainha e seus servos – Agora, só tenho que absorver o poder das quatro esmeraldas restantes.
- Você realmente é um traidor desgraçado – Durud esbravejou.
- Ajoelhe-se diante de mim, Yalanthara. De agora em diante, eu serei o rei e você a súdita.
- Como se atreve? – Tahya e Murdaryk gritaram quase que em uníssono.
***
Hydayn se adiantou.
- Você foi enganado, idiota – o monge riu em alto e bom som – Você realmente acha que essa esmeralda é verdadeira?
- Do que está falando? – Vierhut questionou exasperado.
- Quando chegamos aqui, deixamos com Murdaryk uma esmeralda falsa, e pegamos a verdadeira quinta esmeralda. Ou será que alguém que se auto-intitula “sábio” não sabe distinguir a verdadeira esmeralda negra de uma réplica fajuta?
- Impossível. Você está blefando.
Todos avançaram, ansiosos em mandar Vierhut para o inferno. E pela última vez naquele dia, sangue foi derramado.
***
A quinta esmeralda, juntamente com as outras quatro, foi incrustada no Cetro Real. Com o poder sobrenatural ali contido, foi possível ressuscitar parte das vítimas do Conquistador Negro. Cidades foram reerguidas, o castelo foi reconstruído e as crianças foram devolvidas a seus pais.
- Glória a Rainha Yalanthara – todos disseram, reverentes, prostrados diante do trono.
Hydayn, Nan, Durud, Tahya e Murdaryk receberam condecorações da Rainha. Brasões, títulos de nobreza, terras e muito ouro lhes foram oferecidos, mas eles estavam felizes demais para aceitar. Agradeceram sua monarca, e foram preparar-se para a cerimônia que iria se realizar em poucas horas.
Sua Majestade, em pessoa, iria celebrar o matrimônio de Dargo e Yanysha. Seguiram-se semanas de comemoração incessante com muita dança, vinho e alegria. Os recém-casados, seus amigos, e todo o povo sorriam na terra.
E os deuses sorriam nos céus.