Hydayn, Nan, Rainha Yalanthara, oito arqueiros, dezessete soldados e dois magos neófitos. Era o que restava. Enfraquecidos, ensangüentados, armas gastas, armaduras rachadas, com pouca munição e recursos arcanos insuficientes.
- Devemos ir até onde o Conquistador está – a Rainha quebrou o silêncio – Mas não posso exigir que venham comigo. Vocês têm suas vidas e suas famílias.
- Majestade – Hydayn bebia uma poção encontrada entre os espólios de guerra – Não deve ir. Seu lugar é sentada em seu trono sendo reverenciada.
- Eu irei. A verdadeira Rainha vive para servir a seu povo. Não o contrário.
Nos céus, os deuses choraram. Na terra, a discussão se encerrou. Um súdito jamais desobedece as ordens de sua rainha.
***
Nada acontecia.
Murdaryk tremia, respiração descompassada, suor mesclando-se ao sangue que escorria de sua testa em uma incessante cachoeira rubra. Mantinha as pálpebras cerradas a muito custo. As veias saltaram, os músculos se comprimiram e por curtos instantes buscou uma conexão com o poder supostamente presente na esmeralda que tinha em seu poder. Esvaziou sua mente de todo e qualquer pensamento, e acelerou ainda mais a respiração descontrolada. Precisou fazer seu cérebro voltar a funcionar para fazer uma curta prece aos deuses.
Mas não houve resposta,
- Hahahahahaha. Idiota! – o Conquistador gargalhava, embriagado pela certeza da vitória – Sua quinta esmeralda é uma farsa. Prepare-se para juntar-se ao seu amiguinho no inferno!
Um brilho malévolo de seu olhar foi sucedido por uma apocalíptica liberação de energia que atingiu tudo que havia ao redor – incluindo Murdaryk. O bárbaro chocou-se violentamente contra o chão. Um corte abriu parte de seu crânio, suas vértebras se partiram e o vermelho tomou seu corpo, adocicando com sangue o amargo sabor da derrota. Inconsciência.
Antes que o golpe final pudesse ser desferido, o Conquistador ficou temporariamente cego por um rútilo repentino que tomou de súbito todo o local. A luz arcana se intensificou até que se materializassem três pessoas a poucos metros do campo de batalha.
- Espero que ver esse monte de trogloditas mortos signifique que a luta já acabou. Minhas unhas agradecem – Tahya ponderou.
- Espero que a luta não tenha acabado com a derrota de Dargo e Murdaryk – Durud replicou.
- Parece ter sido isso que aconteceu – Vierhut apontou em direção ao Conquistador, que caminhava ferozmente em direção a eles.
- Neste caso, só nós três não teremos muita chance – o ladino balançou a cabeça.
O Conquistador exibia um sorriso demoníaco. Como um predador que sabe que suas presas não têm como escapar, vinha passo a passo alimentando-se do desespero de suas futuras vítimas. Deliciava-se com a certeza da vitória e isto o fazia sorrir.
- Vocês me pouparam o trabalho de ir atrás de vocês. Como recompensa, permitirei que morram no mesmo lugar que seus amigos morreram.
- Ninguém aqui pretende morrer – Vierhut bateu seu cajado contra o chão. Uma faísca arcana surgiu.
- Muito me admira, seu velho estúpido, que você esteja lutando junto com os servos da rainha. Pensei que você odiasse a pobre Yalanthara.
- Não estou fazendo isso pela rainha, nem pelo povo dela. O que vou fazer, será apenas por mim – um imensa labareda surgiu na ponta do cajado.
As energias se confrontaram. O Conquistador Negro lançou de suas mãos um raio de natureza indecifrável oriundo do poder das esmeraldas. Vierhut apontou o cajado em direção ao inimigo e disparou um gigantesco cone de fogo arcano. A terra tremeu ligeiramente com o impacto do choque, e os dois mediram forças por longos minutos. O Conquistador pouco fazia além de esticar o braço e deixar seu poder ilimitado avançar rumo ao inimigo. O sábio recitava palavras mágicas, gesticulava com a mão que tinha livre e procurava segurar o cajado com cada vez mais firmeza. Suas labaredas mágicas intensificavam-se à medida que novos encantamentos de ataque eram conjurados, mesclando o poder do cajado com as habilidades inatas de Vierhut.