ESMERALDAS NEGRAS - PARTE 3

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A reunião havia acabado. Preparativos os mais diversos estavam sendo feitos. Ainda não tinha sido decidido quem iria para onde, quando Dargo, o elfo guerreiro, aproveitou-se que a Rainha estava distante dos demais e se ajoelhou diante dela.

- Majestade, sei que o que vou pedir parece egoísta, mas preciso pedir. Minha namorada. Eu a amo demais. Eu a amo mais que minha própria vida. Não sei o que será de mim se algo de ruim acontecer a ela. Vossa Majestade tem como protegê-la? Pode garantir a segurança dela?

- O que você pede não é egoísta. Mas, infelizmente, a resposta é não. No momento, ninguém mais neste mundo está seguro. 

***

Havia se passado mais de um dia e meio de sangue e violência.

Magicamente transportados, Murdaryk e Dargo tinham se afastado do castelo. Foram enviados para longe o bastante para que a Rainha não corresse perigo, mas, ao mesmo tempo, estavam perto o suficiente para retornar a tempo, caso fosse preciso.

Caminhavam sem rumo definido em uma região florestal densamente arborizada. A travessia pelo local era difícil, pois não havia nenhum tipo de trilha a ser seguida. Apenas um caminho que era aberto entre os galhos infinitos.

- Tahya é que gostaria desse lugar – Murdaryk quebrou o silêncio – Cheio de árvores, natureza...

Não houve resposta. Dargo caminhava sisudo abrindo passagem entre as folhas e galhos inconvenientes. Vez ou outra, partia grandes troncos ao meio com o fio da espada.  Mas sempre em silêncio.          

Empunhar a arma também era uma medida de prevenção, pois as copas das altas árvores bloqueavam boa parte da passagem da luz solar, deixando o local muito escuro. Nenhum dos dois jamais viajara naquele local, e também não havia relatos de qualquer perigo naquela floresta. Mas agora, com a ameaça do Conquistador Negro pairando sobre tudo, qualquer lugar poderia ser alvo de seus exércitos.

- Tem certeza que não quer que eu vá na frente? – outra vez Murdaryk.

- O dia não está sendo bom – resposta seca – Não o torne pior com sua falação.

Mais marcha forçada. À medida que caminhavam, o terreno ficava mais desafiador. Começaram a aparecer galhos cheios de espinho, folhas imensas bloqueando a passagem, e a relva molhada pelas chuvas dos dias anteriores pingando em suas cabeças. Além disso, lama e sapos.

- Odeio sapos – Murdaryk praguejou, mais para si mesmo do que para seu amigo.

- Quer calar sua boca? – Dargo irritado, continuava andando e partindo galhos.

- O que há com você? – o bárbaro segurou o ombro de seu colega com força e o puxou para trás violentamente.

- O que há comigo? Você ainda tem coragem de me perguntar o que há comigo? Você quer que eu fique de bom humor sabendo que o Conquistador está atrás de nós?

- Você está com medo? – Murdaryk elevou o tom de voz. Fechou o punho.

- Quem sabe o que ele pode nos fazer para nos pegar – Dargo foi reduzindo gradativamente o tom de voz – Quem sabe quem ele vai querer atingir para nos pegar?

Não havia luz. Mas houve lágrimas. Murdaryk entendeu a preocupação de seu camarada.

- Você acha que o desgraçado seria capaz de fazer mal a Yanysha só para nos fazer aparecer?

- É meu maior medo – Dargo tentava conter os soluços.

- Quero lembrá-lo que, se o pior acontecer a ela, nós poderemos ressuscitá-la.

- Quero lembrá-lo que, se o pior acontecer a ela, eu não vou me importar se o pior acontecer ao resto do mundo.

- Você está sendo egoísta.

- Não, não estou.

Ruídos. Um barulho sonoro de alguma coisa movendo-se no meio de arbustos. Passos podiam ser ouvidos. Não pareciam preocupados em não se fazerem notar. Quem quer que estivesse lá, caminhava com pressa e estava cada vez mais perto. 

***

Já estavam em Zyephyn. Tahya e Durud, tão discretos quanto possível, escondiam-se em meio às imensas árvores do bosque que demarcava os limites da cidade. A beleza natural tinha sido estranhamente respeitada pelos goblins e trogloditas que tomaram a cidade.

- Quanta beleza em único lugar! Não acha, Durud?

- Sem dúvida, esse bosque é muito bonito.

- Não, não. Estou falando da beleza do meu corpo – Tahya ajeitou seu gibão de peles de maneira a enfatizar as curvas de suas pernas – Claro que o lugar também é bonito. Mas não tem nem comparação.

- Pena que goblins e trogloditas não dêem muita importância à aparência – Durud apontou para uma grande construção incendiada – É melhor pensarmos logo em uma forma de achar o tal sábio, e de fazer ele falar o que sabe.

- Não se preocupe. Quando ele me vir, não será capaz de negar um pedido meu – a druida sorriu.

Poucos quilômetros a frente, o que restou da cidade de Zyephyn ardia em chamas. Só havia ruínas, e as poucas construções que resistiam eram aquelas que foram escolhidas para abrigar os exércitos do Conquistador. Nas ruas, um amontoado de soldados jazia vítima de variados tipos de morte. A maioria, decapitados. Outros, assassinados com requintes de crueldade, receberam tantos golpes, que era difícil dizer exatamente qual ataque os tinha matado. Se havia sobreviventes, deveriam estar presos em algum lugar, pois sobre as ruas, nada vivo caminhava.

- Vamos esperar anoitecer, quando os goblins estarão acampados. Vasculharemos tudo que pudermos. Caso um deles nos veja, diremos que somos uma força tarefa do Conquistador e recebemos ordens de interrogar um sábio. Aí damos a eles a descrição física do sábio, e eles procurarão por nós. É arriscado, mas é o que nos resta.

- Genial, Durud. Se você continuar tendo esses planos brilhantes, quem sabe um dia eu te deixe ter a honra de beijar meus pés.

- Na verdade, esse plano foi idéia do Hydayn – Durud sorriu.

- Que pena. Perdeu a chance de ter essa grande honra.

- Podia ser pior – o ladino sorriu de novo – E se algum goblin nos visse antes de pormos o plano em prática?

Uma seta envenenada raspou o ombro de Tahya e parou em uma árvore.

Eram três goblins.

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