ESMERALDAS NEGRAS - PARTE 4

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Uma imagem projetada magicamente apareceu no pouco que podia ser visto do horizonte. Murdaryk e Dargo seguraram com força o cabo de suas armas, rangeram os dentes e se prepararam.

- Quem ou que está aí? – o bárbaro berrou.

A imagem mostrava... ele. O Conquistador Negro. No chão, atrás dele, uma linda jovem de longos cabelos negros. Amarrada.

- Yanysha – Dargo gritou, mais com o coração do que com a boca.

Uma voz pôde ser ouvida. Era o Conquistador.

- Vocês têm uma hora para se entregarem pacificamente. Do contrário, a moça morrerá brutalmente. Meus trogloditas já cercaram a floresta em que vocês estão. Daqui a uma hora, vou querer saber o que decidiram. 

***

Castelo Real.

Em um dos muitos aposentos interligados por longos corredores atapetados de vermelho, uma sala de observação. Nas paredes de marfim, tapeçarias excêntricas, suportes para armas (relíquias da família real que sua Majestade fazia questão de deixar à mostra), pinturas antigas retratando o castelo, a coroa e o cetro real, e outros enfeites exóticos. Nas laterais do salão, havia umas poucas cadeiras e estofados posicionados de forma a permitir que os ali presentes repousassem. Por sobre as mesas, mapas, papéis, pergaminhos, e sobre eles, generais e conselheiros afoitos discutindo estratégias em acaloradas discussões. Chegavam ao ponto de quase derrubar o vinho das canecas de ouro, tamanha a força com que batiam os punhos na superfície da mesa quando discordavam uns dos outros. Em outro lado, um globo branco semi-translúcido, menor do que o que havia na sala de reuniões, mostrava imagens aleatórias projetadas magicamente. O intuito parecia ser alertar os presentes sobre qualquer ataque que o castelo pudesse ser alvo. Apesar disso, revezavam-se apenas imagens de patos nadando no lago à direita dos muros do castelo, pássaros gorjeando melodias insossas nas cercanias do portão principal, e guardas coçando regiões íntimas do corpo com toda a discrição possível.

Em um canto, jogada de forma adolescente sobre um dos estofados, uma figura heróica. Ao seu lado, mais sério e compenetrado, alguém de olhos fechados meditava.

- Hydayn, vamos aproveitar que está todo mundo ocupado, e vamos nos divertir um pouco – a halfling deslizou lentamente sua mão pequenina sobre o rosto sisudo do monge.

- Nan, você sabe que eu aprecio momentos de silêncio e tranqüilidade. Com a guerra que enfrentamos, esses momentos serão cada vez mais raros. Ficaria muito agraciado se pudesse fazer sua proposta indiscreta a alguém interessado e me deixasse aqui sozinho.

- Nossa, Hydayn – fez um tom de voz dengoso e desceu suas mãos para a barriga do colega – Aposto que se fosse a Tahya, você aceitaria.

- Espero não ter que agredi-la para que entenda – abriu os olhos e levantou-se.

- Você não vê beleza nenhuma em mim? – a halfling começou a alisar seu cabelo – Não se esqueça que posso te enfeitiçar para que me deseje.

- Definitivamente, não sou a pessoa certa para curar sua carência afetiva.

O burburinho de gente atabalhoada correndo de um lado para o outro se intensificou quando imagens inéditas surgiram no globo mágico. A aglomeração em torno dele fez com que Hydayn e Nan não dessem atenção e continuassem.

- Aposto que se Murdaryk estivesse aqui, ele não me trataria assim.

- Aposto que se ele estivesse aqui, ele diria algo como “Tenho um amigo que foi preso por estupro que pode resolver seu problema” – o monge se permitiu sorrir – Agora, por gentileza, cale-se e pare de esfregar sua perna em mim.

Nan dirigiu-se a outro conselheiro e deixou seu colega monge em paz. Voltou poucos minutos depois, aterrorizada.

- Hydayn.

- Já disse que não tenho interesse em me envolver com você. Procure alguém de seu tamanho.

- Não é isso. Venha rápido. O castelo está sob ataque. 

*** 

A menos de um quilômetro do castelo, marchavam dois golens de ferro de tamanho impressionante. Atrás deles, um enorme grupo de goblins formava, em um quilométrico perímetro horizontal, uma “parede de lanças”. As armas ficavam apontadas para frente, e seus portadores postados lado a lado, formando uma barreira que só poderia ser transposta lançando-se de frente às armas – não sem antes morrer perfurado. Mais atrás, outras duas “camadas” de goblins lanceiros disciplinarmente posicionados aguardavam. Sobrevoando sobre grifos, trogloditas tinham seus arcos retesados prontos para disparar flechas de fogo nas torres do castelo. Nas laterais, máquinas de guerra semelhantes a catapultas estavam prontas a jogar óleo fervente.

O exército de invasores não avançava. Os golens eram os únicos que caminhavam. Imponentes, passos calculados.

Do outro lado, uma profusão de soldados desordenados corria atarantada tentam organizar uma força de defesa. Centenas de guerreiros das mais variadas graduações, com as mais diversas armas e técnicas de combate entoavam bravatas a poucos metros de distância do inimigo – embora, no fundo, estivessem com medo de se aproximar. Atrás das muralhas do castelo, máquinas de guerra também eram aprontadas desesperadamente. Arqueiros imbuíam suas flechas com magias ofensivas. Magos aprontavam seus feitiços mais destrutivos por trás das guarnições, esperando o momento certo de atacar.

Hydayn e Nan se aproximaram da linha de defesa precariamente organizada. E tomaram a frente. Os golens de ferro continuavam caminhando. Os defensores da Rainha tremiam, na esperança que os dois aventureiros à sua frente pudessem salvá-los sozinhos. O monge, a halfling, e os dois golens. Frente a frente. Uma voz robótica, mas surpreendentemente alta, ecoou por quilômetros. 

- Viemos em nome do Conquistador Negro, o soberano absoluto de tudo que existe. Estamos aqui para negociar a total rendição da Rainha Yalanthara. São vocês que irão falar em nome dela?

- Você verá as tripas de seu conquistador sendo devoradas por porcos, antes de ver nossa Rainha se render – o monge disparou, de chofre.

- Não havendo negociação, temos ordens para não deixar ninguém com vida.

- Que coincidência – a halfling se manifestou – Temos ordens parecidas. Com a diferença de que nós cumpriremos essas ordens. 

- Neste caso, preparem-se para cair de joelhos diante da força invencível do Conquistador Negro!

- Invencível? – gargalhada de Nan – Prove!

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